Esportes Titulo Entrevista
Investir na base para retomar a força
Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
09/02/2009 | 07:00
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Sem pressa, o esporte de Santo André quer voltar aos bons tempos. Época em que era uma das principais referências nas modalidades olímpicas. Nas décadas de 1970, 1980 e até o fim dos anos 1990, a cidade dominava os Jogos Abertos do Interior, a principal competição inter-regional do País, e contava com equipes praticamente imbatíveis, como o vôlei da Pirelli, que neste ano comemora 25 anos da conquista do Campeonato Mundial.

Na realidade dos dias atuais, as poucas equipes que restaram, como o vôlei masculino e o basquete feminino, lutam a duras penas para sobreviver. A última conquista dos Abertos já completou 12 anos e hoje a cidade figura na Segunda Divisão da chamada Olimpíada Caipira.

"O que me parece, como munícipe, é que as antigas gestões não tinham preocupação com o Esporte. Então, houve uma degradação, o que é uma coisa muito difícil de ser resgatada", afirma Almir Paladino, 46 anos, o segundo diretor de Esportes da administração do prefeito Aidan Ravin (PTB) - o primeiro foi Léo Watanabe, que ficou poucos dias no cargo e foi substituído.

Paladino administra verba anual de R$ 1,8 milhão. Muito menor que as vizinhas São Bernardo (R$ 18 mi) e São Caetano (R$ 20 mi). Com isso, torna-se impossível desafiar a força dos concorrentes e a ordem é investir nas categorias de base com a esperança que essa nova geração, no futuro, reconduza a cidade ao caminho das vitórias.

Confira os principais trechos da entrevista do diretor de Esportes, que fala, entre outros assuntos, sobre a organização dos Jogos Regionais (de 15 a 26 de julho), dos planos de sua administração para a temporada.

DIÁRIO - Quais as perspectivas para o Esporte de Santo André?
ALMIR PALADINO
- O projeto é fazer o trabalho de base, para que possamos desenvolver um esporte de alto nível no competitivo. Em nossa visão, isso é de fundamental importância, pois muitas modalidades foram deixadas (de lado) na gestão anterior. Vamos fortalecer as categorias a longo prazo para que daqui alguns anos tenhamos modalidades competitivas à altura de ter uma reposição de material humano com esses jovens talentos.

DIÁRIO - Em termos práticos, o que realmente muda nas escolinhas de esportes?
PALADINO -
Vamos dar critérios para que o trabalho seja realizado e, com isso, procuramos estimular o professor que faz parte da rede a ter um objetivo. Ou seja, se essa criança, no futuro, aparecer lá na ponta, ele sabe que fez parte desse processo. Anteriormente, o trabalho estava perdido. O professor fazia e não sabia qual era a sua participação no processo. Outra coisa: o trabalho será integrado com outras secretarias. Um dos nossos projetos é combater a obesidade infantil. Vamos fazer avaliações físicas periódicas para que a criança tenha um acompanhamento de seu percentual de gordura, levando também informações do que ela tem de fazer para que isso não aconteça. Ou seja, ela terá a atividade física correta, baseada em dados científicos.

DIÁRIO - De que forma esse acompanhamento será realizado?
PALADINO -
Estamos criando o Centro de Excelência e Capacitação do Atleta. É um trabalho desenvolvido através de exames fisiológicos das crianças ou dos atletas de competição. É um processo que nenhuma cidade faz. Nas escolinhas, quando a criança faz a matrícula, ela vai ter informação da nutrição, vai fazer avaliação física e vamos levar um fisiologista para realizar um exame e indicar qual o esporte indicado para o seu biótipo. Queremos fazer isso antes do início das aulas. Esse ano, pelo pouco tempo hábil que temos, não será mais possível, mas vamos realizar ao longo do ano. Vamos fazer isso também com o competitivo. Nesse caso, a preparação será feita individualmente. Isso vai melhorar muito em questão de trabalho de preparação física das equipes de competição.

DIÁRIO - Na questão do esporte competitivo, Santo André sempre foi uma potência esportiva, mas nos últimos anos isso não ocorre. Quais os planos nesse sentido?
PALADINO -
Será um trabalho árduo. O que me parece, como munícipe, é que as antigas gestões não tinham preocupação com o Esporte. Houve uma degradação, o que é uma coisa muito difícil de ser resgatada. Toda a verba que dispomos para as equipes de competição vem do Fundo de Apoio ao Esporte. E a deste ano está amarrada à gestão antiga. Então, não conseguimos mexer. Como o Esporte não era uma prioridade, fica muito limitado. Neste ano, os resultados possivelmente não virão. Mas queremos estruturar de uma certa maneira que, a partir do ano que vem, a verba melhore. Se comparar a nossa verba com as demais cidades da região, não dá para competir.

DIÁRIO - Qual a verba de Santo André para o setor neste ano?
PALADINO -
Tenho para trabalhar neste ano por volta de R$ 1,8 milhão. Com esse valor não há disputa. Com isso, não consigo manter sequer uma equipe competitiva. Com esse dinheiro, ou pego e centralizo em uma modalidade e esqueço todas as outras, ou priorizo o esporte de base, que tem um custo muito menor.

DIÁRIO - Havia planos de se criar uma Secretaria de Esportes e, ao que tudo indica, isso não irá mais ocorrer.
PALADINO -
Oficialmente ainda não tenho essa informação. Mas não vejo tanta importância nisso. É lógico que, como secretaria, teríamos um pouco mais de autonomia. Mas nada impede que, mesmo como departamento a verba será a mesma. Agora, por aquilo que eu converso com o prefeito Aidan, sei que existe uma intenção muito grande de fazer Santo André voltar aos áureos tempos em que era um núcleo de esportes da região e até do País.

DIÁRIO - Santo André será sede dos Jogos Regionais. A intenção é reforçar as equipes para essa disputa?
PALADINO
- Não vamos trazer equipes de fora para representar Santo André. Vamos trabalhar com o que temos aqui. Vamos valorizar o que sobrou para a gente depois deste desgaste todo que tivemos ao longo desses anos anteriores de uma gestão que não foi voltada ao Esporte.

DIÁRIO - Então podemos projetar uma participação mediana de Santo André nos Jogos Regionais? Sem chances de brigar por título?
PALADINO
- Acredito que sim. Essa é uma opinião pessoal minha. Até pela diferença de verba em relação às outras cidades que estão na disputa. O que queremos, dentro dos Jogos Regionais, é mostrar um evento com qualidade e oferecer isso ao munícipe e aos atletas. Uma coisa organizada, respeitando-se locais de competição, alimentação, horários, segurança. Estamos colocando todo o nosso empenho nesse tipo de conduta. Até porque, toda cidade-sede recebe essa informação um ano antes. Nós soubemos só agora (Santo André foi indicada pela Secretaria Estadual de Esportes e Turismo em janeiro) e temos apenas quatro meses para fazer tudo. Estamos buscando parcerias com os clubes, associações e todas as pessoas que gostam de Santo André para que nos ajudem e possamos fazer um evento à altura que a cidade merece.

DIÁRIO - Como estão os preparativos para receber os Jogos Regionais?
PALADINO -
O trabalho ainda está no início. Estamos na fase de contatos com os clubes para determinar quais serão os locais de competição.Também estamos falando com o pessoal da alimentação, da Secretaria de Educação para saber em quais locais vamos poder hospedar os atletas. Já agendamos reuniões com a Polícia Militar, Guarda Municipal para tomarmos medidas preventivas. O (ginásio) Pedro Dell'Antonia foi reformado há pouco tempo. Mas já detectamos algumas falhas, algumas coisas que não ficaram viáveis e que terão de ser refeitas. Estamos reformando o ginásio da Vila Alpina, onde é realizada a ginástica olímpica, que é uma reivindicação antiga. Na medida do possível, procurando mexer em cada área de competição, dentro da verba que nos é destinada. 




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