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Parque das Américas é terra dos super-heróis

Morador de Mauá produz há um ano bonecos em resina e pintados à mão

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
07/06/2014 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 O universo lúdico dos super-heróis, que fascina crianças e adultos, é trabalho de gente grande no Parque das Américas, em Mauá. Há um ano, Wellington Loureiro, que completa 31 anos hoje, reserva espaço nos fundos da casa onde vive, na Rua Alasca, para produzir, em resina, réplicas dos mais famosos personagens das histórias em quadrinhos.

O artista não conhecia muito do mundo dos heróis. O que dominava mesmo era a pintura. A primeira experiência com bonecos foi como maquiador de manequins de loja. “Minha tia viu no Diário um anúncio de vaga para aerografista. Fui contratado e fiquei quatro anos trabalhando nessa empresa.”

Depois dessa atuação, Loureiro passou um ano grafitando nas ruas. A oportunidade de trabalho com os heróis surgiu como freelance. “O serviço de grafiteiro estava fraco quando um amigo me disse que conhecia um rapaz que trabalhava com bonecos de resina e pegava pessoal para pintar.” Com cada peça, ele recebia R$ 50 e, caso vendesse alguma, poderia comprar, por R$ 40, kit composto por bonecos sem coloração. Loureiro então anunciou um Capitão América nas redes sociais por R$ 200, e rapidamente conquistou um comprador. “Sempre quis algo para me profissionalizar. Quando vendi, encontrei uma área para me dedicar.”

Do molde feito com borracha de silicone saem os bonecos produzidos com resina poliéster, catalizador e talco industrial. Com a peça endurecida, começa trabalho de paciência para lixar e retirar rebarbas. Por fim, a pintura é feita com tinta automotiva. Para não arranhar o móvel, a base é envolta por EVA. Todo o processo dura em torno de cinco dias. “É um trabalho artesanal, mas quanto mais detalhada a peça, mais gostoso de fazer”, ressalta o rapaz, que conta com a ajuda da mulher Luana Porfirio do Valle Silva, 28.

Os bonecos seguem o porte robusto dos super-heróis: medem de 30 a 40 centímetros, com peso que varia entre 2 a 5 quilos. Os preços ficam entre R$ 230 e R$ 300 e a clientela é composta por colecionadores e lojistas de todo o Brasil.

Por semana, ele faz duas peças. “Com pouca quantidade, consigo caprichar”, ressalta. Os mais pedidos são o Batman, o Homem de Ferro e o Incrível Hulk. Este último, aliás, ele fará, em breve, com 64 centímetros de altura, boneco que custará R$ 1.300. “Só o molde tem 22 quilos. Será feito de fibra de vidro e o encherei com espuma de poliuretano”, descreve, animado.

Antiga frase do filósofo chinês Confúcio diz: “Escolha um trabalho que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. A empolgação de Loureiro ao falar de sua atuação traduz bem as palavras do sábio. “Capricho nos bonecos como se fossem feitos para mim e procuro aprender mais no meu ramo, porque realmente faço o que gosto. É o que quero fazer para o resto da vida."

Há 24 anos, pastelaria na Rua Bolívia atrai famílias

Um dos mais tradicionais salgados brasileiros, o pastel tem ainda mais popularidade no Parque das Américas. Há 24 anos a família Mauro faz sucesso com a iguaria, que deu origem à pastelaria localizada na Rua Bolívia e que é point do bairro.

Tudo começou com uma pequena barraca instalada na frente da residência da família. “Meu pai se aposentou como lubrificador industrial e não queria ficar parado, então, montou a barraquinha. Minha mãe, que era servente em uma escola, chegava do trabalho no fim da tarde e o ajudava a preparar os pastéis”, lembra Silvio Mauro, 45, filho do casal.

A qualidade dos ingredientes e o capricho dos produtos foram atraindo cada vez mais clientes, até que o salão ao lado da residência foi adaptado para abrigar um estabelecimento definitivo.

Silvio recorda que, quando iniciaram no ramo, não havia redes de fast food na cidade, que hoje estão por toda parte. Isso, porém, não afastou a clientela. “Nossos fregueses são fiéis. Temos muitos que vêm até de outras cidades, como Santo André, Ribeirão Pires. Os considero como uma família”, declara.

Visando o merecido descanso do patriarca Antenor Mauro, 73, depois de anos de dedicação, é Silvio quem está todos os dias à frente da pastelaria, acompanhado da mulher, uma irmã e o marido com a sobrinha.

“Agora são os filhos que trabalham. Fico no comando da administração só para ajudar e, graças a Deus, continuamos na tradição”, garante Antenor.

Estilista da cidade veste famosos

Muitas das roupas usadas nos anos 1990 pela dupla Zezé Di Camargo e Luciano foram, como se diz, made in Parque das Américas. A estilista Idê Aparecida Zerbino, 59 anos, elaborou diversas peças para os artistas no início da carreira. “Tenho um amigo que é coreógrafo, para quem eu fazia algumas roupas e, um dia, em 1991, um blazer que ele vestia chamou a atenção do Luciano, que perguntou onde havia sido comprado. Meu amigo passou o contato e comecei a fazer roupas para ele”, diz. “Pouco tempo depois, a Zilú (ex-mulher de Zezé Di Camargo) me ligou e passei a desenhar modelos para o Zezé também.”

Há quatro décadas, ela mantém loja na Avenida Brasil, onde vende e aluga vestidos de noivas e trajes femininos e masculinos para festas, grande parte desenhada pela estilista e confeccionada lá mesmo.

Na parede do estabelecimento, destaca-se quadro com uma foto onde ela está ao lado dos sertanejos, vestidos de policiais rodoviários. “Eles posaram para um calendário da Polícia Rodoviária e a marca do vestuário são as calças agarradinhas. Aí, eles me chamaram para ajustar.”

Da relação profissional, criaram-se laços de confiança e amizade. “As filhas do Zezé (Camila e Wanessa) dormiam na minha casa quando eram pequenas. Certa vez, fui arrumar uma noiva em Ribeirão Pires e levei a Wanessa comigo, mas nem falei nada a ninguém, para não causar alarde”, comenta.

Infiltrada no meio artístico, o trabalho se expandiu. “Desenhei roupas para a apresentadora Ana Maria Braga, Ratinho, o cantor Leonardo”, lista.

Hoje, Idê fala que a frequência de pedidos diminuiu, mas de vez em quando clientes famosos ainda a procuram. “Agora que eles têm mais dinheiro, acabam comprando muita roupa fora, mas, às vezes, não encontram o modelo nas cores que querem e mandam fazer. Cheguei a confeccionar o mesmo modelo de uma calça para o Zezé em 15 cores. Sai muito mais caro fazendo aqui que comprar lá fora, mas é a exclusividade, né?”

Paróquia promove cursos de artesanato

A partilha está entre os ensinamentos de Deus e é exatamente isso que um grupo de mulheres do Parque das Américas faz, duas vezes por semana, na Paróquia São Felipe Apóstolo. Às terças e às quartas-feiras, das 14h às 17h, elas se reúnem no salão da igreja para dividir tudo o que sabem sobre bordado, crochê e artesanatos em geral.

“Uma ensina a outra. No fim do ano, juntamos tudo o que fizemos e realizamos bingo beneficente para comprar material para outras produções”, conta Maria Madalena Queiroz, 75 anos.

A troca de conhecimentos e as amizades servem como terapia. “Aqui a gente conversa, ri e deixa os problemas em casa”, garante Aparecida Moggi, 60.

O aprendizado também traz valioso auxílio na renda doméstica. “O que aprendo aqui, faço para vender e ter um dinheirinho a mais no fim do mês”, ressalta Maria Oliveira de Souza, 66.

Embora a turma seja chamada de Grupo de Mães, os filhos também marcam presença. Gabrielli Cardoso de Oliveira, 8, comparecia à aula de pintura em pano de prato pela segunda vez, acompanhada da mãe. “Gosto muito de pintar, é divertido”, disse.

Quem quiser participar das aulas, é só chegar. “Não paga nada, só vir e, na primeira vez, cedemos material para a pessoa começar. Depois, se ela puder, pode trazer de casa”, frisa Maria Madalena.

O pároco da igreja, Laudeni Ramos Barbosa, se diz feliz pelos benefícios que as atividades proporcionam na vida das donas de casa do bairro. “Isso fortalece a convivência, estimula a criatividade delas, fazendo com que se sintam mais valorizadas.”




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