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Marinho corre para blindar Cleuza e adiar convocação

Prefeito de S.Bernardo se coloca à disposição para
se reunir com base de sustentação e minimizar crise

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
03/04/2014 | 07:00
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Arquivo/DGABC


O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), agiu ontem nos bastidores para blindar a secretária de Educação, Cleuza Repulho (PT), e evitar que sua própria base governista na Câmara a convocasse para prestar esclarecimentos ao Legislativo sobre investigações do Ministério Público em licitações para compra de uniformes, tênis, mochilas e materiais escolares.

Marinho convocou reunião para amanhã à tarde, a portas fechadas no Paço, com os 20 vereadores situacionistas e alguns de seus principais secretários. O encontro servirá para lavagem de roupa suja interna e para garantir que integrantes de seu primeiro escalão não sejam obrigados a comentar temas desgastantes ao governo no plenário da Casa.

Ontem, durante a sessão, grupo descontente de aliados do prefeito já se articulava para aprovar convite para Cleuza comparecer à Câmara. A solicitação tinha adesões extraoficiais suficientes para o chamamento da secretária à Casa, mas, por meio de articuladores, o próprio chefe do Executivo se colocou à disposição – o que até o momento não havia acontecido – para conversar com governistas para aparar arestas no diálogo entre Prefeitura e Legislativo.

O estopim para crise entre base situacionista e a administração petista foi a explanação de Cleuza a parte de vereadores fiéis à gestão na semana passada. A reunião contou com 12 dos 20 parlamentares a favor do governo, e alguns que estiveram na atividade relataram que a secretária de Educação desdenhou de questionamentos levantados pelos aliados e minimizou a investigação do Gaeco ABC (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

Durante essa reunião, Cleuza apresentou amostras dos produtos licitados, disse que as peças eram de qualidade com preço competitivo e refutou possibilidade de superfaturamento na compra de materiais, como constatou o Gaeco na aquisição de tênis escolares à rede em 2009. A instituição afirmou que ao menos R$ 3 milhões foram desviados dos cofres públicos da cidade, uma vez que outras administrações públicas licitaram calçados de maior qualidade com valores menores.

“Não vejo como problema (a convocação de Cleuza à Câmara). Ela mesmo se colocou à disposição dos vereadores. Mas acredito que tudo ficou esclarecido. Pelo menos para mim ficou”, afirmou o presidente do Legislativo, Tião Mateus (PT), que disse que não impedirá a ida da secretária à Casa.

Sessão escancara crise com o governo

A crise entre a base governista e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), ficou escancarada na sessão de ontem. Vereadores de situação abandonaram o plenário no fim dos trabalhos como forma de protesto pela condução das ações pela presidência da Casa e pela articulação política do chefe do Executivo.

Havia acordo de cavalheiros, no encerramento das atividades, de aprovação de títulos de cidadão e votos de congratulações propostos por todos os vereadores. Na lista, havia homenagem ao ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, desafeto do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Petistas tentaram retirar essa condecoração, o que irritou o bloco situacionista.

O presidente da Câmara, Tião Mateus (PT), decidiu convocar reunião extraordinária no Legislativo para que os itens fossem votados, mesmo com o acordo desfeito. O grupo governista não aceitou e abandonou o plenário. A movimentação impediu que os projetos fossem apreciados pela Casa.

“A Casa tem de dialogar mais. Em algumas matérias não vejo nenhum problema em fazer acordo. Há alguns vereadores que não aceitam fazer acordo e acaba inviabilizando”, justificou Tião.

Curiosamente, antes do atrito, governo e oposição haviam se entendido com relação à votação de projeto de lei para regulamentar o CIM (Centro Integrado de Monitoramento), central vinculada à Secretaria de Segurança Urbana e que será inaugurada amanhã.

O secretário Benedito Mariano compareceu à sessão e explicou a proposta a todos os vereadores, inclusive os contrários à gestão. Em quase uma hora de diálogo, houve consenso inclusive sobre emendas que seriam apresentadas pelo oposicionista Pery Cartola (Solidariedade), alterando pequenos trechos do texto original.

Pery retirou suas modificações e, ao lado de todos os parlamentares, aprovou o projeto. Foi uma das raras vezes que um secretário do governo se dispôs a ir ao Legislativo para detalhar projetos de lei do Executivo.
 




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