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A culpa é do Joelmir Beting

Não sejamos injustos: o presidente Lula, apesar do que disse, não é racista

Carlos Brickmann
29/03/2009 | 00:00
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Não sejamos injustos: o presidente Lula, apesar do que disse, não é racista. É casado com uma branca, loira, de olhos verdes, a quem chama de "galega". Apoiou a candidatura de uma branquíssima loira de olhos azuis para a Prefeitura de São Paulo, e a teve como ministra. Nomeou como porta-voz o níveo, quase transparente, André Singer, de olhos azuis bem clarinhos. Entre seus auxiliares próximos há negros, mulatos, judeus, árabes, mulheres - só falta índio.

Não foi racismo, portanto, o que levou o presidente Lula a culpar "gente branca, de olhos azuis", pela crise. Foi o incontrolável impulso de dizer besteira, naqueles instantes a que, segundo o grande escritor italiano Pitigrilli, todo ser humano, mesmo o mais sábio, está sujeito. E é besteira grossa, daquelas que nem dá para bolar sozinho: pode ter certeza, caro leitor, houve a ajuda de assessores.

Há detalhes em que o presidente Lula certamente não pensou, antes de sua frase desastrada. O presidente do Citigroup, por exemplo, está longe de ter olhos azuis: Vikram Prandit é indiano de Maharashtra. Os bancos japoneses, chineses e coreanos, atores importantes da crise, dificilmente teriam em seu comando brancos de olhos azuis. Portanto, não têm nada com a crise.

Já o técnico do Corinthians, Mano Menezes, e o colunista Joelmir Beting são brancos de olhos azuis. Mano não trabalha no setor econômico. Logo, Joelmir Beting deve ser o culpado.

A propósito, a crise se iniciou com a quebra da Fanny Mae, a gigantesca empresa hipotecária americana. Seu presidente, Franklin Raines, é negro.

DILMA? QUE DILMA?
Ciro Gomes se manteve em silêncio do início do governo Lula até hoje. Agora resolveu falar, e fala duro. Seu partido, o PSB, que apóia Lula, não aceita Dilma como candidata à Presidência. "Não há a menor chance de a base aliada apoiar apenas uma candidatura em 2010", disse. O outro candidato é ele mesmo, Ciro - que, em outra ocasião, já teve o apoio do tucano Tasso Jereissati numa eleição presidencial, contra o mesmo José Serra que deve sair em 2010.

VELHOS TEMPOS
Lembre-se: no réveillon de 1996, houve ação popular contra a Prefeitura carioca por pagar cachês altos a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Milton Nascimento e Chico Buarque. O prefeito era César Maia, há muito tempo excluído do processo. Os artistas foram absolvidos pela Justiça Criminal. Mas a ação continua correndo. O próprio autor da ação popular, Agnelo Borges de Medeiros, desistiu da causa. Não adiantou. A causa não desistiu dos artistas.

É ELE, PRESIDENTE
Aliás, se Lula diz que nunca viu um único banqueiro negro, deveria ser apresentado a Franklin Raines. Ele foi tão poderoso quanto os maiores banqueiros. E valeria a pena: dizem que Raines é uma pessoa fascinante e muito agradável.

DE CABEÇA...
Este colunista morou mais de 30 anos pertinho da Daslu, loja de altíssimo luxo de São Paulo. Nunca entrou lá: pelo que soube, as vendedoras só tratavam bem quem andava muito bem vestido, na última moda. Ou seja, não é o caso. Não conhece a dona da loja. E não discute a sentença: ela foi condenada, pronto. Mas a pena é estranha: 94 anos e meio. E, condenada em primeira instância, ela foi presa - embora o Supremo Tribunal Federal tenha determinado que a prisão só deve ocorrer após trânsito em julgado, quando não houver mais recurso. Eliana Tranchesi não matou, não feriu, não agrediu. Mesmo assim, só foi solta com habeas-corpus. Que é que há nessa história que não contaram para nós?

...PARA BAIXO
O jornalista Pimenta Neves, que matou a namorada, foi condenado a 15 anos, e aguarda o julgamento do recurso em liberdade. Maurício Norambuena, sequestrador do publicitário Washington Olivetto, a quem dispensou tratamento cruel, pegou 30 anos. Suzane von Richtoffen, que planejou o assassínio do pai e da mãe a pauladas, recebeu 39 anos. O promotor Igor, que matou a mulher grávida, não foi ao julgamento (seu advogado garantiu que se apresentaria) e está foragido já há alguns anos. Por que Eliana Tranchesi foi mais maltratada do que eles, com pena mais pesada e prisão imediata, da qual só se livrou por habeas corpus?

BOA NOTÍCIA
O governo federal, preocupado com a queda de arrecadação, estuda elevar impostos sobre o cigarro. No Brasil, o cigarro é um dos mais baratos do mundo, e o imposto sobre ele é baixíssimo, supostamente "para evitar o contrabando". O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, é a favor do aumento: o preço mais alto derruba o consumo e reduz os gastos com saúde pública. O IPI sobre o cigarro, hoje, é fixo, não importa quanto custe o maço. Quanto mais caro o cigarro, menor a porcentagem que paga. Com isso, as multinacionais levam outra vantagem: empresas brasileiras não têm como baixar o preço para entrar no mercado.




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