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A mão de Deus e as nossas mãos

O Brasil ficou indignado com a mão na bola do centroavante Henri, que abriu caminho para o gol contra a Irlanda

Carlos Brickmann
27/06/2010 | 00:00
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O Brasil ficou indignado com a mão na bola do centroavante Henri, que abriu caminho para o gol contra a Irlanda e a classificação da França para a Copa do Mundo. O pessoal não esquece: outro dia, quando Henri reclamou da mão de um beque adversário na bola, não faltou quem perguntasse "mas justo o Henri?"

O Brasil ficou indignado com La Mano de Diós. O gol de mão de Maradona contra a Inglaterra, há mais de 20 anos, ainda rende reclamações (logo depois, Maradona marcou um golaço, driblando a defesa inglesa inteira. A Argentina teria ganho mesmo sem La Mano de Diós, apenas com Los Piés del Génio).

É muita indignação para apenas dois lances - embora decisivos. Como diria uma conhecida autoridade, ‘menas', ‘menas'. O Brasil também fez dessas coisas. Aliás, o Brasil fez mais dessas coisas. Em 1938 (eta, fundo de baú!), Leônidas fez um gol ilegal no Brasil 6x5 Polônia: ele estava sem chuteira, ou seja, não trajava o uniforme regulamentar. E bem mais próximo, em 1962, a Copa em que o Brasil foi bi, houve coisas estranhas: contra a Espanha, Nilton Santos fez pênalti e deu um passo para fora da área. O juiz acreditou e marcou falta. Puskas fez um golaço de bicicleta, anulado sabe-se lá por que. Foram lances decisivos: deu Brasil, 2x1. Contra o Chile, Garrincha foi expulso. Se fosse suspenso no julgamento (não havia suspensão automática) estaria fora da final. Pois não é que o juiz Estebam Marino resolveu viajar para o Uruguai e inviabilizou o julgamento?

É comer manga com a mão e reclamar do outro que se lambuzou.

O QUE É LEGAL
A propósito do gol de Luís Fabiano contra a Costa do Marfim, uma coisa deve ficar bem clara: mesmo violando as regras, gol legal é o que o juiz diz que é legal. Todo o resto é comentário. O juiz pode errar, mas depois que apitou é válido para todos os efeitos. A Itália fez um gol a mais contra a Eslováquia, que lhe garantiria o empate? Não, não fez, embora a bola tenha ultrapassado a linha de gol. Mas o juiz não deu. Portanto, queiram ou não, o resultado foi a vitória da Eslováquia por 3x2. É esse o resultado que vai constar na história das copas.

BRINCANDO DE POLÍTICA
Os tucanos reclamam do resultado da pesquisa do Ibope, que indicou Dilma na frente, e falam de uma pesquisa para consumo interno que dá outro resultado. Este colunista também tem uma pesquisa para consumo interno que o dá como favorito para a Presidência da República. Uma das indicações mais importantes da pesquisa Ibope é que, enquanto Dilma sobe, Serra está no mesmo lugar há meses. E isso deve ter algum motivo - por exemplo, brigar com os fatos em vez de estudar a melhor maneira de comportar-se diante deles.

NAS CORDAS
Neste momento, a pesquisa quantitativa - como a que indicou Dilma na frente - não tem grande importância eleitoral. É possível revertê-la, o horário gratuito não começou, etc., etc. No entanto, sua importância política é imensa: pesquisa desfavorável afasta doadores, estimula adesões ao adversário, atrapalha a costura de novas alianças. E, por mais que seja possível reverter a pesquisa, é muito mais cômodo estar na frente e trabalhar para manter a vantagem.

É RUIM DA CABEÇA...
Algum dos caros leitores já imaginou Dilma e Serra viajando milhares de quilômetros para assistir à disputa musical folclórica dos bois Garantido e Caprichoso? Pois comece a antegozar a cena de campanha: ambos os inzoneiros, Dilma e Serra, levarão sua malemolência, sua cintura flexível, seu bom-humor, seus pés ágeis, seu ritmo que vem de dentro, sua vocação para o boi-bumbá, ao Festival de Parintins. E vão comer as iguarias com que sempre sonharam, tucunaré com coentro e coentro com pirarucu, regados por aquele caldo de mandioca brava.

...OU DOENTE DO PÉ
Algumas coisas, claro, já estão definidas: Dilma torce pelo boi vermelho, o Garantido, e Serra pelo Caprichoso, azul, da cor de seu partido (sim, embora Serra não o demonstre, os tucanos têm cor própria).

Garantido e Caprichoso. Não é por nada, mas esses nomes não lhe lembram alguma coisa da atual campanha presidencial?

COISA FEIA
O deputado Cândido Vacarezza, líder do governo na Câmara Federal, propõe que os bingos sejam legalizados e a arrecadação de seus impostos seja destinada à Saúde. Esta coluna pode sugerir a Sua Excelência a busca de novas fontes de arrecadação para que o governo faça aquilo que já deveria estar fazendo com a imensa carga tributária que lhe é destinada: por exemplo, quem provocar acidentes por estar bêbado pode destinar quantia à Saúde, em vez de ir para a cadeia; quem for apanhado com dólares na cueca fica livre da exposição pública (de condenação nem se fala, claro) mediante taxa destinada ao atendimento proctológico gratuito; os contrabandistas de armas e drogas poderiam ser legalizados e taxados, e o dinheiro destinado à Segurança Pública - e à Saúde, evidente. Ora, se o governo acredita que o bingo é bom, que o legalize abertamente, sem o truque KY de destinar seus impostos a fins mais aceitáveis pela opinião pública.




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