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Especialistas: contenção de gastos não basta para crescer
Por Da Agência Brasil
18/11/2006 | 13:44
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A redução nos gastos correntes do governo, proposta pela equipe econômica, não seria suficiente para alavancar a economia, afirma a secretária-executiva do Fórum Brasil de Orçamento, Eliana Graça. “Os gastos correntes que crescem são as despesas obrigatórias, como saúde, previdência, assistência social e educação. Os gastos discricionários [aqueles que o governo pode dispor livremente] são muito reduzidos. Um corte linear de 0,2% é complicado sem que se mexa na Constituição e nos parâmetros legais”.

Na última terça-feira, os Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) apresentaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva alternativas para promover um crescimento econômico de 5% ao ano a partir de 2007 sem comprometer o equilíbrio fiscal do governo. Uma das medidas em estudo é a aplicação de um redutor de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) nos gastos correntes do governo. A medida, segundo Mantega, não cortaria gastos, mas evitaria que as despesas cresçam mais que a economia.

No entanto, Graça ressalta que pelo Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2007, as despesas discricionárias representam 4,22% do PIB. As obrigatórias equivalem a 15,25% do PIB. Dos R$ 856 bilhões previstos para o orçamento de 2007, apenas 6,2% do referem-se a despesas discricionárias. As chamadas despesas obrigatórias, vinculadas, respondem por 57,3% do orçamento.

Na Saúde, por exemplo – uma das áreas citadas pelo ministro Mantega como alvo de cortes - apenas R$ 9 bilhões dos 42,36 bilhões previstos para 2007 são discricionários. Em Assistência Social, os gastos obrigatórios representam R$ 22,15 bilhões dos R$ 24 bilhões previstos.

Em educação, as despesas obrigatórias equivalem a R$ 12,77 bilhões de um total de R$ 21,63 bilhões. A previdência tem orçamento previsto de R$ 233 bilhões, dos quais R$ 231,2 bilhões são despesas obrigatórias. “Não tem como fazer uma redução sem mexer nos gastos obrigatórios pois eles que têm peso”, afirma Graça.

Outro ponto fundamental, segundo ela, é a redução dos gastos com juros e encargos da dívida pública. “O país não cresce porque tem uma dívida pública imensa, que aumenta a cada dia em função de juros exorbitantes. Cada ponto percentual que se diminui na taxa Selic [taxa básica de juros] são R$ 10 bilhões que o governo deixa de gastar”, destaca. “O país paga mais de juros do que gasta com a previdência”.

A queda dos juros também é defendida pelo professor José Ranoel Picin, presidente do Conselho da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Na avaliação dele, para alcançar os 5% de crescimento, é preciso combinar corte de gastos com corte de juros. “Isso seria o começo, mas para que tudo isso funcione é necessário que se façam as famosas reformas previdenciária, tributária, administrativa e política, que levam tempo”.

Picin define como “cosméticas” as medidas apresentadas pela equipe econômica. "São afogadilhos, planos individuais que, em conjunto, não vão dar os 5% que ele [presidente Lula] está pedindo. Quem sabe possam aumentar de 2,7% para 3,2% a taxa de crescimento, não mais do que isso”.




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