Cultura & Lazer Titulo
Em busca da perfeição
Juliana Ravelli
Diário do Grande ABC
04/02/2011 | 07:00
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Odette é a princesa aprisionada no corpo de cisne. Somente o amor verdadeiro pode desfazer o feitiço imposto por Von Rothbart. A salvação surge na forma de um príncipe apaixonado. A esperança de ser liberta, no entanto, se esvai quando o amado a confunde com uma criatura fisicamente idêntica, mas de personalidade completamente diversa.
A partir do balé mais conhecido do mundo - O Lago dos Cisnes -, o diretor Darren Aronofsky (O Lutador) constrói Cisne Negro, que estreia hoje nos cinemas. Até então, parecia improvável fazer um suspense psicológico, que pende para o drama e o terror, ambientado no universo da dança clássica. Mas torná-lo possível não é o único triunfo.
Nina Sayers (Natalie Portman) é escolhida para estrelar a nova produção de uma grande companhia de dança nova-iorquina. A bailarina é a personificação do cisne branco, puro, casto e ingênuo. Mas em O Lago dos Cisnes também é preciso encarnar o cisne negro, representante da maldade, luxúria e sensualidade.
Desafiada pelo diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel), Nina se esforça para encontrar em si qualidades necessárias para viver seu antônimo no palco. A busca desesperada pela perfeição faz com que, aos poucos, perca o já desgastado fio que a liga à realidade.
Assim como há o amaldiçoado Macbeth - capaz de enlouquecer atores - para o teatro, o balé tem Odette (o bem) e Odille (o mal). Interpretar figuras tão opostas no mais alto nível artístico requer maturidade psicológica, mais do que técnica.
Com fidelidade, Cisne Negro se apropria do que ocorre nos bastidores da dança, para surpresa dos leigos acostumados a associar o balé à delicadeza. Aronofsky sempre soube da verdade porque testemunhou a árdua trajetória de sua irmã como bailarina.
Tudo está no longa. A estrela veterana que não aceita a aposentadoria (Beth Macintyre, vivida por Winona Ryder), o diretor que se aproveita das ambiciosas aspirantes, a mãe dominadora e ex-bailarina frustrada (Erica, Barbara Hershey), o corpo de baile que deseja o lugar da solista, os distúrbios alimentares, as dores e até mesmo os estranhos rituais de preparação da sapatilha.
O balé, como todas as artes, consome seus súditos e os transforma em escravos, dispostos a sacrificar o corpo, saúde, família e o que mais precisar para chegar cada dia mais perto do topo. Apesar da devoção, Nina fica a ponto de sucumbir às pressões, principalmente após a chegada da talentosa e sedutora concorrente Lily (Mila Kunis).
De fato, muitos bailarinos têm trajetória semelhante à de Nina fora das telas. Para entendê-los melhor, Natalie Portman se submeteu a meses de aulas e ensaios rigorosos, estudou muito e emagreceu 10 kg. Descobriu que no balé o limite entre a beleza e a dor extrema praticamente inexiste. Resultado: excelente atuação que a faz merecedora de todos os prêmios. Possivelmente, já tenha o Oscar garantido.
A obsessiva Nina de Portman assusta e arrebata. Sim. Ao custo de muito sacrifício, chega à perfeição: descobre o cisne negro em si, conquista os "bravos" da plateia e junto ao cisne branco encontra liberdade e redenção. O preço é caro. Mas ela não foi a primeira, nem será a última.




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