Setecidades Titulo Sensação entre os jovens
Morador de Diadema ganha fama e a vida consertando tênis

Mizuneira se especializou em reformas e já dá aulas sobre as técnicas; entre os alunos, quatro já trabalham realizando a recuperação dos calçados

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
30/05/2022 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O que você faria se o seu tênis favorito, de marca muito valorizada, estivesse velho ao ponto de não poder mais ser usado? A maioria das pessoas diria que jogaria fora, pelo menos os que não conhecem um restaurador de calçado. Se a marca do seu pisante for Mizuno, cujos modelos novos podem passar de R$ 1.500, o diademense Eduardo Oliveira, 24 anos, mais conhecido como Mizuneira, tem a solução. Há pouco mais de um ano ele se especializa em consertar e reformar os tênis e virou uma sensação entre os jovens, especialmente nas periferias.

Na casa que divide com a companheira Debora Oliveira, 22, o rapaz realiza a recuperação dos pares e também dá aulas para outros jovens que querem seguir seus passos. Mizuneira conserta o calcanhar, as redes, o solado, o logotipo e o que mais estiver avariado dos calçados. O talento para o trabalho manual foi descoberto por necessidade: durante a pandemia, sem conseguir trabalhar, reformou dois tênis que ele tinha e vendeu por R$ 1.000 cada um. Percebeu aí um filão de mercado e passou a investigar diferentes técnicas, uso e aplicações de materiais, bem como as ferramentas necessárias.

Por meio do seu perfil no Instagram (@mizuneiraoficial), que tem mais de 80 mil seguidores, a notícia foi se espalhando e em poucos meses precisou da ajuda de um funcionário, Bruno Ferreira, 22. Há cerca de dois meses, contratou mais um, Marcos Vinicius, 20. Reformar os tênis que são objeto de desejo de muitos jovens, mais do que a garantia de uma renda – boa, em cinco meses, comprou o seu primeiro carro – também foi o que salvou Mizuneira de uma vida preso ou de uma morte precoce. O jovem não titubeia ao contar que chegou a trabalhar para o tráfico e um dos momentos em que se sentiu sendo salvo por Deus foi o que o motivou a mudar de vida. “Comecei a comprar roupa para revender, mas a pandemia atrapalhou”, relembra.

Além da ideia inovadora de reformar os próprios tênis, quando o negócio começou a engrenar, Mizuneira teve uma importante ajuda. Debora sacou algumas economias para que fosse possível comprar uma máquina de costura. O dinheiro investido resultou em mais agilidade no trabalho, e as oito, quase dez horas gastas na costura à mão dos tênis, passou a ser de duas horas e meia. “Já consigo reformar 15 pares por semana”, contou o rapaz, que afirma já ter consertado mais de 1.000 pares. É a companheira quem faz toda a parte administrativa do negócio, inclusive cuidando das redes sociais. Ela conta que não teve dúvidas em emprestar o dinheiro. “Estendi a mão para ele ontem e hoje temos muito mais”, pontuou.

Os consertos começam em R$ 70 e variam de preço de acordo com a necessidade. Os orçamentos são dados na hora, em encontros previamente agendados. O prazo de conserto é de cerca de três meses. “Cada modelo tem a sua particularidade. Um tênis que, em bom estado vai valer de R$ 1.000 a R$ 1.500, compensa gastar R$ 200 ou R$ 300 com o conserto”, avalia Mizuneira.

Além dos cursos para formar novos reformadores (o próximo deve ser em julho e será divulgado pelo Instagram), o jovem sonha com uma marca própria de tênis. “Quem vê agora pensa que foi fácil, mas eu e minha companheira sabemos o que passei”, finalizou.

Ao menos quatro jovens que fizeram o curso já atuam e faturam na área

Quando começou a consertar os Mizunos, Eduardo Oliveira, 24 anos, o Mizuneira, chegou a pedir ajuda para um sapateiro que encontrou nas redes sociais sobre técnicas para conserto de tênis. O profissional se negou a dividir com ele seus conhecimentos.

Dessa forma, foi sozinho, testando as técnicas, os produtos e as ferramentas, errando e acertando, para aprender sozinho o ofício. Quando já dominava o trabalho, Mizuneira começou a pensar em dar aulas para outros jovens. Antes que anuciasse o curso, recebeu mensagem de Pedro Guilherme, 25, morador da Brasilândia, na Zona Norte.

No ano passado, sofreu um acidente e passou três meses de licença médica. Nesse prazo aprendeu a consertar os tênis e foi se aprimorando. Largou um emprego com registro em carteira e hoje vive dos reparos que realiza. Assim como Guilherme, ao menos outros três jovens, dos 20 que já fizeram o curso também já têm no trabalho sua única fonte de renda. “Meu objetivo é colocar em cada quebrada uma moleque para reformar os Mizunos”, reforçou Mizuneira.

Caio Rian, 21, largou o trabalho em uma pet shop e hoje também reforma os tênis em Mairiporã, na Região Metropolitana de São Paulo. Montou o seu negócio em dois meses. “Já fiz cursos de AutoCad, cursei alguns meses na faculdade de arquitetura, mas se tem uma formação que me ajudou, foi o curso com o Mizuneira”, declarou.

Do Capão Redondo, Zona Sul, Fábio Soares, 26, aproveitou os seus conhecimentos como sapateiro e também aprendeu a consertar tênis com Mizuneira. O outro aluno que já trabalha na área mora em Brasília. O trabalho dos alunos de Mizuneira pode ser conferido também pelo Instagram, nas contas @reliquias_restauracao, @fb_sapateiro, @escobarreliquias e @trampofinobsb. 




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