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Casa Neon Cunha, em São Bernardo, quer ser acolhimento para todos

Instituição iniciou em dezembro instalação de espaço para abrigar população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
20/02/2022 | 07:00
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DGABC


Um espaço de acolhimento para recomeçar a vida. Para fazer um curso, uma oficina, ter uma tarde de beleza, participar de uma roda de conversa. Um local onde é possível escolher para si uma roupa, calçado ou acessório. Uma cama para dormir por algum tempo, uma cozinha onde se alimentar ou apenas um banheiro para um banho. Um lugar para encontros diversos, plurais, para todas as pessoas, de todos os gêneros, orientações sexuais, idade e o que mais nos define como indivíduos. Essa é a proposta da Casa Neon Cunha, que desde dezembro de 2021 está na Rua Luiz Ferreira da Silva, 183, em São Bernardo.

Desde a sua criação, em 2018, a Casa Neon Cunha se propõe a pautar políticas públicas e ofertar atendimentos diversos para a população LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros, Queer, Intersexo e Assexual, entre outras identidades e expressões de gênero e orientações sexuais) em situação de vulnerabilidade social. Inicialmente funcionando no Jardim Ypê, a instituição conseguiu alugar o imóvel em área central da cidade – não sem antes tentar a locação em 25 locais, com os proprietários desistindo do negócio quando eram informados sobre o público que seria atendido.

O espaço funciona de segunda à sexta-feira, das 9h às 17 horas, e a instituição já atendeu mais de 200 pessoas entre acolhimento psicológico, orientações jurídicas diversas, apoio para retificação de nome e gênero em certidões de nascimento, cursos e oficinas. Após a reforma que está sendo feita na casa, o objetivo é abrir 18 vagas para pessoas em situação de vulnerabilidade. No local elas poderão ficar por períodos indeterminados, com avaliações trimestrais.

Todos os serviços são prestados por voluntários. A casa é mantida com doações e parcerias que vêm sendo firmadas com empresas. Logo na entrada, estão dispostas roupas, calçados e acessórios que podem ser levadas por quem quiser e precisar, sendo até quatro itens por pessoas. Tudo tem vindo de doação. A expectativa é que entre abril e maio deste ano já seja possível começar o serviço de abrigamento. “A gente já fez levantamento de quantas pessoas LGBTQIA+ estão na cidade em situação de rua, mas esse número é muito flutuante. Quando estivemos para começar esse trabalho, faremos a busca ativa, não apenas em São Bernardo, mas também em outras cidades da região”, detalha a coordenadora de projetos da instituição, Symmy Larrat.

A gestora detalha que a casa trabalha com dois tipos de pessoas em vulnerabilidade. Aquelas que já estão em situação de rua, e que por isso precisam de um trabalho intenso de criação e fortalecimento de vínculos; e aquelas pessoas que vivem com a família, mas em um ambiente de desrespeito e violência e, por isso, precisam de um local onde se instalar. “Em muitos casos, as pessoas são convidadas a deixar as suas casas”, relata.

Symmy explica que o objetivo é que no local seja possível encontrar oportunidades para que a pessoa possa reorganizar a sua vida e vislumbrar um futuro. Quando o abrigamento já puder ser ofertado (após as reformas e licenças da Prefeitura), haverá separação das áreas de convivência de todos os públicos e da área para os beneficiários que efetivamente vão ficar na casa. “É preciso que essa pessoa crie vínculos, saiba que ali é um lugar seguro”, explica.

ONG está aberta para públicos diversos

A ideia da Casa Neon Cunha, em São Bernardo, é poder acolher todos públicos, sejam pessoas LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros, Queer, Intersexo e Assexual, entre outras identidades e expressões de gênero e orientações sexuais) ou não. “Podemos ceder o espaço para outros grupos, para roda de conversa, escolas, grupos de idosos. Essa convivência é muito rica, as trocas que podem ser feitas são fundamentais. Queremos fazer desse local o que esperamos encontrar no mundo”, explicou Symmy Larrat, que além de publicitária é também profissional do sexo. “De todas a minhas ocupações, essa é que a eu fiz por mais tempo. Então faço questão de falar para não permitir nenhuma higienização”, frisa.

O local onde está a Casa Neon Cunha é estratégico para o trabalho que vem sendo desenvolvido. Perto da Defensoria Pública, de escolas, unidades de saúde, facilitando o encaminhamento das pessoas que procuram a instituição para os serviços públicos e as redes de acolhimento e proteção social. Embora não haja ainda nenhuma parceira oficialmente firmada com a Prefeitura de São Bernardo, os atendimentos têm ocorrido de forma muito satisfatória, explica o presidente da Casa, o contador Paulo Araújo.

Para uso do espaço não é preciso qualquer pagamento, mas se for possível deixar alguma doação, seja de livros, alimentos, itens de cozinha ou qualquer outro utensílio, a instituição aceita. Quem quiser ajudar e conhecer mais sobre o trabalho da Casa Neon Cunha pode seguir as redes sociais da instituição (@casaneoncunha e facebook/casaneoncunha). Doações podem ser entregues na sede ou transferidas em dinheiro pela chave pix 272111310001-28. 

Parcerias vão ofertar capacitação profissional

Além de acolhimento e espaço de convivência, a Casa Neon Cunha pretende ofertar cursos profissionalizantes. Já existe material disponível para cursos de cabeleireiro e outras parcerias estão sendo firmadas. Entre elas, uma edição do projeto Cozinha & Voz, iniciativa do MPT (Ministério Público do Trabalho) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Em 2020, o projeto foi realizado no Grande ABC. Agora, o acesso a um fundo norte-americano vai disponibilizar recursos para edição específica do projeto que vai formar em dois anos 300 pessoas, sendo 70% delas travestis e pessoas transgêneras.

Nesse contexto, a Casa Neon Cunha será um dos pilares de execução do projeto, apoiando a seleção de alunos, apoiando os próprios participantes com acolhimento psicossocial, entre outras ações de responsabilidade da instituição. “Estamos montando a equipe que vai atuar nessa mobilização”, explica a coordenadora de projetos da Casa, Symmy Larrat.

O projeto foi lançado em 2017 e até 2020 capacitou 170 pessoas em situação de vulnerabilidade como assistentes de cozinha, entre elas, muitas mulheres e homens transgêneros. O curso foi ministrado em seis Estados e no Distrito Federal. Além das aulas de gastronomia, sob responsabilidade da chef Paola Carossela, também são ministradas aulas de música, poesia, dança, por meio da Casa Poema, instituição fundada pela atriz e poetisa Elisa Lucinda, e pela atriz Geovana Pires. 



 




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