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Dois reservatórios que atendem à região estão em situação crítica

Especialistas alertam para agravamento da crise hídrica; outros dois mananciais elevaram o volume

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
08/02/2022 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


O alto volume de chuva dos últimos meses não foi suficiente para elevar o nível de água em dois reservatórios que abastecem as cidades do Grande ABC. O sistema Cantareira, responsável pela distribuição de água nos municípios de Santo André e São Caetano, registrou neste mês 39,3% do volume de água – diminuição de 5,3 pontos percentuais em relação a fevereiro do ano passado. O manancial do Alto Tietê, que no Grande ABC abastece a cidade de Mauá, também teve redução – atualmente o sistema está com 54,7% da sua capacidade, enquanto no ano passado estava com 56,7%. 

Segundo levantamento realizado pelo Diário, com dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), os outros dois reservatórios responsáveis pelo abastecimento de água na região seguiram o caminho inverso e registraram aumento nos níveis de água. Rio Grande, reservatório que fornece água para São Bernardo, Diadema e 30% da população de Santo André, aumentou 17 pontos percentuais neste ano – o sistema está atualmente com 101,2% do volume de água. Já Rio Claro, responsável por Mauá e Ribeirão Pires, chegou a 47,3% e aumentou em 1,1 ponto percentuais em relação a fevereiro de 2021. 

Mesmo com o volume dos reservatórios abaixo dos níveis projetados, a Sabesp destaca que, por enquanto, não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana de São Paulo, da qual as cidades do Grande ABC fazem parte. Porém, a bióloga e coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Marcondes, alerta para agravamento da crise hídrica nos próximos meses devido ao período sem chuvas.

“Para ficarmos confortáveis durante o período de seca, que ocorre a partir de março, os reservatórios deveriam estar acima de 70% e 80% do volume de água. O atual nível dos sistemas que abastecem a região está abaixo do esperado para o período de chuvas, que é quando os sistemas costumam receber o maior volume de água do ano”, destaca Marta. O baixo nível ocorre por diversos fatores climáticos, conforme explica a bióloga. “A chuva fica concentrada nos centros urbanos devido às alterações climáticas, como, por exemplo, a ausência de vegetação nesses locais. Para aumentar o nível de água nos reservatórios é preciso que chova nas cabeceiras dos rios”, finaliza. 

Além da concentração de nuvens nas grandes cidades, o coordenador de pesquisa do Instituto Democracia e Sustentabilidade, Guilherme Checco, ainda aponta para outro cenário: a diminuição no volume de chuvas nos últimos anos. “Desde maio do ano passado já estava sendo apontado pelos órgãos responsáveis que as chuvas aconteceriam de forma diferente. Os alertas e as considerações não foram incorporadas em políticas públicas, por isso não houve tempo para se prevenir e se adaptar as novas situações e, sobretudo, para construir sistemas de abastecimento mais resilientes. A forma como as chuvas caem está mudando de forma muito drástica, e a origem disso são as mudanças climáticas que veem ocorrendo nos últimos anos”, pontua Checco.

CONSCIENTIZAÇÃO

Como medida para melhorar a segurança hídrica, a Sabesp afirmou, em nota, que realiza campanhas permanentes para incentivar o consumo consciente de água. Para o Guilherme Checco, o uso racional da água deve ser elaborado por meio da corresponsabilização, entre Poder Público e sociedade. “Não dá para olhar apenas esse lado da moeda, o que normalmente é reforçado nas campanhas. São diversas ações estruturais que precisam ser feitas para ter uma estratégia de segurança hídrica, como reconhecer o acesso à água e o esgotamento sanitário como dois direitos humanos fundamentais e algumas medidas para incentivar o uso consciente da água na agricultura, que é o principal setor que utiliza a água no Brasil”, reforça o coordenador. 




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