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A menopausa e a reposição hormonal!
Antônio Carlos do Nascimento
27/09/2021 | 00:01
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Os lamentáveis dizeres “emagrecer é questão de força de vontade” e “para perder peso é só fazer dieta e exercício” vem sendo gradualmente combatidos à luz da ciência, mas outros chavões atravessam o tempo sem contestações e ficam disponíveis para defesas e ataques em variadas situações. O bordão “não devemos interferir no processo natural do corpo humano”, talvez seja o maior divisor de opiniões entre médicos, especialmente aqueles envolvidos nos cuidados da saúde feminina.

Nesta seara médica existem oponentes contumazes dos partos cesáreos, questionadores das cirurgias estéticas femininas e opositores da reposição hormonal na menopausa. Alguns partem de suas interpretações para os estudos científicos e outros, comumente gestores, debruçam-se sobre os custos destas terapias, contudo, com pouquíssima aferição do íntimo feminino em suas pretensões e desejos.

Desde os anos de 1960 a reposição dos hormônios sexuais femininos na menopausa pairou entre o consenso e a contestação. Surgiu como o milagre do rejuvenescimento, com a utilização de hormônios ovarianos (apenas estrógenos) resolvendo os fogachos, secura vaginal, libido, aumentando a densidade óssea e protegendo da temida fratura de fêmur. Porém, viu-se em poucos anos que esta prática provocava aumento inaceitável na incidência de câncer de útero.

Novos estudos demonstrariam que associação de hormônios (Estrógenos e Progestágenos) resguardava o útero e então a reposição hormonal foi consenso até meados dos anos de 1990, quando vários estudos concluíram que este protocolo aumentava o risco de câncer de mama, contudo, bem interpretado, não proibiam sua utilização. 

Houve um declínio avassalador para estas prescrições, período seguido de novas pesquisas, as quais clarearam o horizonte em linhas bem mais nítidas, mas não suficientes para evitar uma lamentável divisão de condutas, balizadas por interpretações pessoais, sem alinhamento com a paciente.

Sabe-se que este tratamento quando iniciado após os 65 anos aumenta o risco para a demência; e se a reposição é principiada entre os 60 e 65 e a paciente está há mais de 10 anos em menopausa existe aumento no risco de doença vascular cerebral. Outras conclusões apontam especial atenção em pacientes com menos de 65 anos que são tabagistas, diabéticas, ou hipertensas de difícil controle, para as quais o médico buscará alternativas mais específicas.

História anterior ou familiar de trombose venosa, câncer de mama e algumas outras doenças, faz com que esta terapêutica seja contraindicada e eventualmente utilizada em situações pontuais.

Afora as ponderações anteriores, todas as mulheres em menopausa são elegíveis para reposição hormonal, mas não obrigadas a adoção deste recurso. Deve ser-lhes oferecido com os riscos e suas vantagens, no que provavelmente protegerão libido, lubrificação e texturas vaginais, viço e humor.

De fato, o tratamento não é natural, assim como é invasiva a cirurgia para a “natural” catarata que ocorre em 70 % dos indivíduos aos 80 anos, mas sem o procedimento o que resta é ficar cego!




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