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Desapropriação do Corredor Leste-Oeste vai parar na Justiça

Dona de hotel reclama de falta de indenização por parte da Prefeitura de São Bernardo, que negociou só com dono do terreno na Vl.Duzzi

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
10/07/2021 | 00:02
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Celso Luiz/ DGABC


Se por um lado o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), foi à Justiça para assegurar legalidade na desapropriação sob suspeita de parte de um terreno de sua empresa no Alvarenga, de outro, seu governo avisou que não vai indenizar a dona de um hotel na Vila Duzzi, região central da cidade, que terá de ser demolido para construção do Corredor Leste-Oeste, espaço exclusivo para passagem de ônibus que cruzará o município com custo estimado em R$ 422 milhões.

O Hotel Smart Inn está localizado na Avenida Newton Monteiro de Andrade, 167, em frente a uma agência do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), desde 2003. O terreno e o prédio pertencem a uma firma chamada J.Franchini Empreendimentos e Participações, que entrou em acordo com a Prefeitura – vai receber R$ 3,184 milhões.

Entretanto, o hotel argumenta haver contrato assinado até 2024 com a J.Franchini e que, por todas as melhorias aplicadas no imóvel, também merece ser indenizado pela obra – entre reformas e valor do ponto comercial, entende ser justo receber cerca de R$ 1,5 milhão. O apontamento é que a atividade funciona como fundo de comércio, termo utilizado para atividades comerciais cujo valor precisa ser considerado a despeito de não haver titularidade da área em questão.

Proprietária do Smart Inn (cujo nome jurídico é São Bernardo Center Hotel), Márcia Meneghin assegura ter ciência de que seu hotel precisará ser removido para o bem comum, já que a obra promete facilitar a mobilidade urbana de São Bernardo. Porém, ela adiantou que aportou quantia significativa para adaptar o local.

“Antes eram dez apartamentos residenciais. Transformei em 28 quartos com suítes, ajustei toda a parte elétrica, troquei azulejos, instalei pisos e cozinha. Investi muito dinheiro e transformei o imóvel em hotel”, comentou Márcia. “Acho injusta a postura do prefeito em não reconhecer os fundos de comércio (para as negociações). Ele não reconhece a minha legalidade. Tenho alvará de funcionamento, alvará do Corpo de Bombeiros, taxa de licença. Emprego nove pessoas. Como faço?”

A empresária disse que ingressou com ação judicial pedindo indenização e que deixou a critério de um perito a avaliação de quanto merece receber pelo investimento feito. “Eu tenho uma ideia de quanto aportei, com reajuste dos valores atuais. Mas o que quero é que haja perícia”, citou Márcia, que disse que, há cinco anos, considerou comprar o imóvel, mas desistiu do negócio quando foi confirmado o trajeto do Corredor Leste-Oeste.

Além do hotel, a lanchonete que funciona abaixo do empreendimento também ingressou na Justiça requerendo quantias pela desapropriação, já que a administração avisou que não iria depositar recursos ao estabelecimento comercial.

Em nota, a Prefeitura de São Bernardo salientou que o imóvel foi desapropriado de forma amigável, com pagamento ao dono do local. “Os atuais locatários deverão deixar o bem, já que o contrato de locação deixou de existir automaticamente com a alienação. Houve tentativa infrutífera de acordo para saída amigável, sendo que a indenização depende de condenação judicial transitada em julgado, já que legalmente o município não pode arcar com tal valor por meio de depósito prévio. A indenização do fundo de comércio não impede a tomada do imóvel pelo poder público para realização das obras”, discorreu o governo.

A administração tucana pontuou ainda que “tomará todas as medidas para que a saída dos ocupantes ocorra o mais breve possível”.


Caso envolvendo Morando segue no MP

A desapropriação de parte de terreno que pertence à OAC Participações, de propriedade do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), é alvo de investigação do Ministério Público, que apura suspeita de superfaturamento nos valores envolvidos.

Menos de 10% de área localizada na Estrada dos Alvarenga, onde hoje funciona um supermercado, foi desapropriado para passagem do Corredor Alvarenga. Os 531 metros quadrados requeridos pelo poder público envolveram R$ 1 milhão, quantia muito além do que os R$ 200 mil que Morando pagou pela totalidade do espaço, de 5.800 metros quadrados.

Peritos do MP e da Justiça constataram que houve sobrepreço na quantia de cerca de R$ 400 mil. Morando havia relatado que iria devolver o dinheiro excedente se houvesse comprovação de superfaturamento. Até o fechamento desta edição, porém, essa promessa não foi cumprida.

Outro ponto alvo de apuração da promotoria sobre essa negociação foi a forma como houve a liberação. A indenização foi autorizada quatro dias antes de Morando tomar posse. Ex-prefeito de São Bernardo e avalizador da transferência, Luiz Marinho (PT) diz que foi o tucano quem pediu para que a desapropriação fosse quitada, porque ele teria “problema” em pagar a quantia para uma empresa em seu nome. Morando nega essa conversa e também refuta tese de irregularidade na negociação, dizendo que foi ele quem levou ao MP pedido para apuração.

O chefe do Executivo são-bernardense também se envolveu em polêmica de desapropriação de um terreno que pertence à sua empresa para construção do Trecho Sul do Rodoanel. O governo do Estado decidiu pagar R$ 1,3 milhão pela área do tucano, que reclamou na Justiça e chegou a pedir R$ 17 milhões. O caso está em trâmite na Justiça paulista.




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