Setecidades Titulo
Saia cultiva discórdia em faculdade
Por Daniel Trielli e Fabio Leite
Especial para o Diário
11/10/2005 | 08:12
Compartilhar notícia


Duas professoras da rede estadual de ensino passaram por uma experiência que não seria surpresa se ocorresse com jovens alunas, no século passado. Foram advertidas por vestirem saias consideradas ‘inadequadas‘ e escoltadas até a coordenação do campus Aliberti da Faenac (Faculdade Editora Nacional) em São Caetano, onde cursam pós-graduação. Denise Vieira Maia, 38 anos, e Maria Helena da Silva, 46, sentiram-se constrangidas com a situação e registraram queixa no 1º Distrito Policial da cidade.

“Fomos submetidas a uma situação vexatória. Foi muito desagradável. Falaram que a saia era curta demais, mas não é verdade. Não havia nada de errado na roupa”, afirma Denise, que tem 18 anos de magistério. Segundo ela, o comprimento da saia vai até dois centímetros acima do joelho. “Não era uma minissaia. São 18 anos utilizando essa roupa. Já trabalhei em escola luterana e católica e nunca tive esse tipo de problema”, completa a mãe de dois filhos.

Denise já havia sido advertida pelo segurança quanto ao traje duas semanas atrás. Por conta disso, a professora Maria Helena, que faz o curso de pós-graduação oferecido gratuitamente pela Secretaria Estadual de Educação junto com Denise, acredita que a abordagem já estava preparada. “Além dos seguranças em posição, tinha uma funcionária que geralmente não fica ali. Quando entramos, o segurança se aproximou e eu ainda brinquei, dizendo que a minha saia não estava curta. Eu nem sabia que ele ia tomar essa atitude”, conta.

Desta vez, conta Maria Helena, a mesma coordenadora falou que a saia estava inaceitável e que era norma da faculdade. “Estamos no século XXI e isso é uma faculdade, não um internato”, contestou a professora mãe de três filhos, enquanto aguardava na delegacia. De acordo com Denise, o próximo passo após registrar a ocorrência é acionar a delegacia de ensino. “Não vou admitir que as coisas fiquem como estão. Quero ver que providências vão tomar contra a instituição”, afirma.

O mesmo caminho será seguido pelo vice-diretor-acadêmico da Faenac, Márcio Magalhães Fontoura. “Estamos encaminhando o caso para a Secretaria Estadual de Educação. Isso aqui é uma faculdade com princípios e nós devemos zelar por eles. São 1,5 mil professores que fazem o curso de capacitação no sábado”, diz. Segundo o vice-diretor, o problema foi apenas com o traje de Denise. “A outra deve ter tomado as dores”. Ele disse que a saia vestida pela professora chegava a ser provocativa. “Tem várias mulheres que estudam aqui e vêm de saia, mas a dela a gente vê que era provocativa. Isso vem contra as normas da instituição. Temos que manter nossos princípios para que isso não vire uma bagunça”, completa. De acordo com Fontoura, as normas internas são passadas para todos os alunos antes mesmo do começo das aulas. “Desde o primeiro dia os alunos são orientados quanto às normas internas. É gente querendo fazer barulho”, alega.

De acordo com a professora, uma prova de que a saia não era curta demais foi a solidariedade que teve dos colegas de curso assim que retornou da coordenação. “O pessoal fez até um abaixo-assinado com mais de 180 assinaturas em nosso favor. Tinha até uma outra mulher com a roupa igual à minha que se disse decepcionada”, conta. Denise também afirmou que não recebeu documento nenhum que apontasse as normas internas da faculdade.

Já o documento que Fontoura diz encaminhar para todos os alunos não especifica quais trajes são indevidos. “Vir com trajes adequados é muito mais que cumprir o preceito, é reiterar a nossa consciência de comunidade educativa, é assumir uma postura de alunos de ensino superior, é demonstrar consciência de que sabemos nos vestir de acordo com o ambiente, cônsios de que somos todos responsáveis pela construção de um ambiente agradável para todos, onde a vontade individual não prevalece sobre a lógica do bom senso”, diz a parte do texto que trata sobre trajes.

Beijo – Outro caso ocorrido em campus universitário também foi parar na polícia na semana passada. Uma policial militar, ofendida com os carinhos trocados por duas jovens de 18 e 22 anos na USP (Universidade de São Paulo) da zona Leste, acabou levando o caso para a Delegacia de Ermelino Matarazzo. A policial, na ocasião, alegou que as duas estariam praticando “ato obsceno”.

Namoradas há quatro meses, as meninas teriam trocado apenas um beijo. Uma PM, que não estava em serviço, teria ido reclamar. Na versão da policial, as duas estariam se beijando de forma acintosa e trocavam carícias nas partes íntimas. Depois da discussão, ambas tiveram de comparecer à delegacia. Só não foram no camburão por interferência de um funcionário da USP.

As meninas se recusaram a assinar um documento da faculdade. Na delegacia, foi feito um termo circunstanciado. O diretor da USP da Zona Leste, Oswaldo Massambani, declarou que não reprova o namoro.

 No próximo dia 19, um ato público organizado pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes) protestará contra o que chamam de discriminação da polícia em relação ao casal. O protesto ocorre às 15h30, na USP da Zona Leste. A Frente Parlamentar Estadual pela Livre Expressão Sexual acompanhará o caso.

As meninas vão processar a policial. Consideram que a abordagem da PM foi preconceituosa.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;