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Corpo de homem que havia sido levado pela correnteza é enterrado

Verdureiro Gilvan Pereira de Jesus, 33 anos, foi encontrado no início da manhã de ontem, no Piscinão Canarinhos, no Baeta Neves, em S.Bernardo

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
10/02/2020 | 00:01
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Flavia Kurotori


Vítima fatal da forte chuva que atingiu o Grande ABC no fim da tarde de sábado, Gilvan Pereira de Jesus, conhecido como Gugu, 33 anos, teve o corpo encontrado por volta das 6h15 de ontem, no Piscinão Canarinhos, na Rua dos Vianas, no Baeta Neves, em São Bernardo.

Ele morreu após cair no córrego Saracantan, próximo do ponto em que foi localizado sem vida pelo Corpo de Bombeiros.

À tarde ele foi enterrado no Cemitério Municipal do Bairro dos Casa (leia abaixo).Além de Jesus, sua mulher, Sheila Fernanda Francisco Mendes, 37, e seu filho, Kauê, 17, caíram no local, entretanto, foram resgatados por populares e levados pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Baeta Neves e tiveram alta ontem.

O filho caçula do casal, Guilherme, 4, foi resgatado por amigos dos pais antes que a água os puxasse para dentro do córrego. Junto deles, um outro homem, identificado pela Prefeitura como Daniel Cruz, 35, também foi levado pela enxurrada, resgatado pela população, encaminhado à UPA Silvina e já recebeu alta.

Morador do Cruzado, em Santo André, Gilvan era vendedor de alface havia quatro anos em banca da Rua dos Vianas e trabalhava no local todos os dias para sustentar os dois filhos (Felipe, 16, e Guilherme, 4) e dois enteados (Kauê, 17, e Giovana, 15).

Segundo conhecidos, a família morava em São Bernardo e se mudou para a cidade andreense há cerca de dois anos, mas decidiu manter a banca no local original para garantir o “pão de cada dia”.

O Diário percorreu o bairro e ouviu os moradores e amigos da família. Durante o período em que a reportagem permaneceu na barraca de verduras, dividida com outro amigo que não quis ser identificado, mais de 30 pessoas perguntaram sobre o ocorrido, prestar condolências e lamentar a morte do homem, descrito como “muito querido e gente boa”.

Amiga e colega de comércio, Luciene Costa da Silva, 37, contou que Gilvan tinha clientela fiel. “Homem do bem, trabalhador e dedicado. Trabalhava muito duro e dava tudo que podia à família”, contou.

A comerciante estava com a família na hora da tragédia e relatou a cena. “Ajudei o Gugu a tirar a mercadoria dele da banca, mas a água foi subindo muito rápido.

Em poucos segundos me virei e não o vi, na sequência notei que ele, a esposa e os dois filhos, junto de outro homem que não é daqui, estavam em cima da bancada.

Deu tempo de um colega pegar o filho menor deles, e em um segundo ouvimos a família gritando, mas já estavam sendo arrastados correnteza abaixo”, relembrou Luciene. Sheila e Kauê foram resgatados pela vizinhança a poucos metros do local onde caíram, já Gilvan não foi mais visto.

A busca pelo corpo foi encerrada pelo Corpo de Bombeiros por volta das 21h30 de sábado, e retomada nas primeiras horas de ontem. Com a água baixa, o corpo foi localizado em meio à lama.


HERÓIS

Marcelo Ferreira Varejano, 39, e Gledson Andrade Piva, 29, foram os responsáveis por salvar a vida de Daniel Cruz. “Minha filha de 4 anos gosta muito de ver chuva e estava olhando o rio cheio quando apontou e disse para eu olhar. Pensei que estivesse se referindo ao relâmpago, mas falava das pessoas no meio da água.

Quando vi, nem pensei. Desci correndo, destravei o portão e me segurei com os pés na armação agarrando o homem”, contou Varejano.

Segundo ele, a vítima já estava muito fraca e não conseguia falar nem fazer força. “Passei mal depois que consegui puxar ele para dentro da minha casa, não sei se de tanta força que fiz ou nervoso”, relembrou.

Varejano disse ainda que queria ter tido tempo de ir atrás da família Jesus, mas não conseguiu. “Vi o Marcelo segurando aquele homem e corri para ajudar. Ele estava muito mal’, disse. Os “heróis”, como estão sendo chamados por vizinhos, lamentam não ter muitas informações sobre Daniel e não terem tido chance de fazer o mesmo pelo verdureiro. “Muito triste a notícia da morte do Gugu”, lamentou Varejano.

População cobra ações contra enchentes.

Ontem, quando a equipe do Diário esteve no Baeta Neves, em São Bernardo, comerciantes e moradores do bairro cobraram ações da Prefeitura para prevenir as enchentes na região, uma vez que o problema se repete a cada chuva. Inclusive, a população acredita que a morte de Gilvan Pereira de Jesus, 33 anos, poderia ter sido evitada.

A opinião ecoou durante velório de Gilvan. Realizado no fim da tarde de ontem, no Cemitério Municipal do Bairro dos Casa, o sepultamento foi sob aplausos e coro de “guerreiro”.

O clima era de indignação e comoção, já que familiares e amigos classificaram a morte do vendedor como “um grande baque”. O motorista Hélio Gonçalves Alves, 40, era amigo de Gilvan havia pelo menos dez anos e o tinha como irmão. “Era grande homem, bom marido e pai melhor ainda. O perdemos em algo que poderia ter sido evitado, porque sempre tem enchente lá (na Rua dos Vianas) e ninguém toma providências. “Ele (Gugu) era boa pessoa e é perda terrível que poderia não ter acontecido”, adicionou outro amigo da família, que preferiu não se identificar. “Lá (Rua dos Vianas) está abandonado, é um descaso o que acontece a cada chuva.” Comerciante e amigo de Gilvan, Roberto Andrade, 41, reforça que mora no Baeta Neves desde que nasceu e cobra da Prefeitura medidas eficazes para combater o mal. “Sabemos do risco, sim.

A questão é que o prefeito (Orlando Morando – PSDB, que compareceu ao local do acidente e gravou vídeo para a população) está focado em tirar os comerciantes daqui (Rua dos Vianas) e não quer fornecer local para que a gente possa trabalhar.

Assim como as moradias, que ele quer desapropriar, mas não quer nos dar onde morar”, salientou. Morador do bairro há 35 anos, Benedito Sintra, 74, disse que depois que o piscinão foi construído e a obra de canalização do córrego começou, a sensação é de que as enchentes pioraram. “Desde que moro aqui o bairro sempre sofreu muito com cheias.

Toda vez que começa a escurecer o céu, nós (população) já ficamos preocupados. Pessoas morrem, perdem pertences, enche de sujeira nas ruas”, reclamou. A população reforça que está disposta a sair das áreas de risco, desde que a Prefeitura forneça condições de moradia e trabalho adequadas, e busque finalizar as obras para que o bairro tenha “sossego”. (Colaborou Flavia Kurotori),




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