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Barão exagera no saudosismo
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
24/11/2005 | 09:18
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O que uma banda de rock com 23 anos de carreira, que já passou por diversas brigas internas, mudanças de formação e tem um nome gravado na história do rock brasileiro ainda pode oferecer em 2005? Levando ao pé da letra a filosofia de seus companheiros de geração, o Barão Vermelho promete não sair do palco até apagarem a última luz. É o que fica comprovado com o lançamento de MTV Ao Vivo – Barão Vermelho (Warner, R$ 39,90 em média).

O álbum, um CD duplo composto por 25 músicas e duas faixas interativas (Quem me Olha Só e Vem Quente que Eu Estou Fervendo) também ganhou registro em DVD, curiosamente com repertório menor, de 21 faixas. A chegada do DVD às prateleiras está prevista para o final deste mês.

Mais um projeto no mar de regravações e acústicos da música popular brasileira, o disco é um bom exemplo da armadilha imposta aos que sobreviveram na estrada após tanto tempo. Gravado no Circo Voador, o mesmo que presenciou o nascimento do grupo, ainda liderado por Cazuza (1958-1990), MTV Ao Vivo– Barão Vermelho evidencia uma banda que exerce completo domínio sobre o público presente à gravação, realizada em agosto passado.

Entretanto, o Barão perdeu o frescor e a capacidade de dizer coisas interessantes. Talvez pela empolgação de gravar seu primeiro DVD, peca pelo excesso de saudosismo e comete um álbum burocrático, que exala naftalina. De qualquer forma, serve para apresentar a quem só conheceu o grupo a partir do filme de Sandra Werneck e Walter Carvalho sobre o poeta "exagerado".

Seguindo a fórmula de projetos desse tipo, a banda regravou grandes sucessos e apresentou apenas uma música nova, a fraquinha Nosso Mundo, composta pelo baterista Guto Goffi e o tecladista Maurício Barros, músico convidado e integrante da formação original do Barão. "Se ainda soubesse/ Como mudar o mundo/Se eu ainda pudesse/Saber um pouco de tudo/ Eu voltaria atrás no tempo", diz um dos trechos da nostálgica canção (mais uma referência ao passado).

Bola Fora – Entre os pontos altos, destaque para a performance vigorosa da dupla de guitarristas Roberto Frejat e Fernando Magalhães, entrosadíssimos em músicas como Pense e Dance, O Poeta Está Vivo e Down em Mim. A bela versão de Amor, Meu Grande Amor, de Ângela Rô Rô é outro momento feliz. O repertório inclui outras releituras, Tente Outra Vez, de Raul Seixas, e Quando o Sol Bater na Janela do seu Quarto, do Legião Urbana.

Talvez por conta do longo repertório, os músicos preferiram poupar a voz Frejat e tocar meio tom abaixo, o que conferiu um timbre ainda mais grave aos vocais. Isso tornou algumas canções arrastadas, quase frouxas, caso de Bete Balanço e Maior Abandonado.

Outra bola fora é a "homenagem" à Cazuza, que, graças à tecnologia digital faz dueto com Frejat em Codinome Beija-Flor. Anunciado como convidado especial, o primeiro vocalista do grupo aparece no telão, em imagens extraídas de um clipe produzido pela TV Globo que usa o fonograma original. É uma dessas ocasiões em que o excesso de apego aos velhos tempos beira o mau gosto.




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