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Anna Gedankien lança livro que conta os 90 anos da comunidade judaica na região

Foram feitas cerca de 70 entrevistas com judeus que fugiram da Europa

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
18/08/2019 | 07:33
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Benino Paino/Divulgação


Anna Gedankien tem o mesmo tempo de vida que a comunidade judaica no Grande ABC: são 90 anos de história. Foi em dezembro de 1929 que os primeiros judeus vieram refazer a vida aqui na região, mais precisamente em Santo André, e desde então ajudam o arredor de onde moram crescer. A trajetória dessas famílias que formam este grupo – que já foram 150 e hoje somam 100 – está no livro que acaba de ser lançado Coragem, Trabalho e Fé – A História da Comunidade Judaica na Região do ABC Paulista (168 páginas, R$ 40). O exemplar pode ser adquirido na Arisa (Associação Religiosa Israelita de Santo André – Rua Onze de Junho, 172. Tel.: 4438-1568.)

Com a ajuda de Mireille Lerner e Eliza Leibruder, dona Anna, idealizadora do projeto e coordenadora do trabalho de pesquisa e redação do livro, realizou, durante dez anos, cerca de 70 entrevistas com judeus que fugiram da Europa no meio-tempo entre a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. “Eles sentiam que a Primeira Guerra havia acabado oficialmente, mas não de verdade. Ainda havia muita coisa estranha no ar.” Tinham razão.

Vinham, portanto, para o Rio de Janeiro – a família de dona Anna alocou-se em Niterói – e para o Porto de Santos. “Soube que Wolf Gordon, que estava há meses no Brasil, trouxe sua família, que chegou de navio em Santos.” Uma vez em solo brasileiro, trataram de pegar o trem da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e seguiram rumo a Santo André, onde o judeu lituano havia escolhido para viver.

Encontrou, posteriormente, outras duas famílias, os Davidvich e os Hershovich e assim iniciou-se a formação da comunidade. E uma das funções que assumiram de trabalho na região era a de mascate. “Aqui (Grande ABC) se tornou atrativo porque era um lugar em desenvolvimento, havia a promessa de abrir fábricas, principalmente em São Bernardo. Era um lugar ótimo para encontrar compradores para suas mercadorias.”

Com mais clientes, mais recursos, o que deu segurança para abrirem suas primeiras lojas, tanto na Rua General Glicério quanto na Oliveira Lima, ambas no Centro. “No momento que escutou que haviam judeus estabelecidos aqui e ao menos dez homens, o número mínimo para fazermos nossas rezas, começaram a vir famílias do Interior do Estado.”

Dona Anna, por ter visto, principalmente, memórias de outras comunidades que vieram para cá, como a japonesa, por exemplo, achou importante guardar a história deles para a posteridade. “É importante que as próximas gerações saibam o que fizemos, quem somos. Até para que não sejam antissemitas. Hoje, na França, por exemplo, está havendo um antissemitismo besta, que não sei por que existe. O que os judeus estão fazendo de mal lá? Estão fazendo o mesmo que nós aqui: procuramos viver a nossa vida, ganhar o nosso pão e contribuir para o desenvolvimento da região”, finaliza.

‘Paranapiacaba se transformou no que a gente queria’, diz Anna

Dona Anna, que há 60 anos faz parte da comunidade judaica da região – veio para o Grande ABC quando casou – fundou o Movimento Pró-Paranapiacaba e o Instituto do Patrimônio Histórico do ABC, do qual é diretora. Sempre foi ferrenha defensora de que a vila, que pertence a Santo André e pela qual se apaixonou, mantivesse seu patrimônio histórico e se tornasse ‘viva’.

Diz que há pouco visitou o local e sentiu-se muito feliz. “Estive lá há uns meses e fiquei encantada. Estava cheinha de gente como eu nunca tinha visto. A gente não tem mais onde estacionar um carro lá. Vi muita gente com carrinho de criança, pessoas com cadeira de rodas, aquilo se transformou no que a gente queria: um lugar de lazer”, comemora.

A sua única preocupação, reforça, é que se preserve o patrimônio. “Fico contente que alcançou esse público, mas é preciso que ela permaneça intacta para as próximas gerações.”


 




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