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Tsunami lá, maremoto cá
Por Rodolfo de Souza
27/12/2018 | 07:00
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Tsunami é aquele fenômeno chato que antigamente levava o nome de maremoto aqui em terra de Língua Portuguesa. Não sei bem o porquê de chamá-lo assim agora. Talvez porque a incidência seja maior em terras orientais, que inventaram esse nome, ou ainda por causa da mania que tem o povo tupinambá de sempre bancar o estrangeiro para se sentir mais importante. Acha mesmo que dá mais qualidade ao produto colocar-lhe nome internacional. Também funciona assim com estabelecimentos comerciais, e até um desastre como aquele, que, neste momento, protagoniza os noticiários, se torna mais pungente, mais chique, mais trágico quando se dá a ele a alcunha de país distante.

Reflexões semânticas à parte, contudo, e eis que ele comparece novamente em praias do Oriente só para se certificar de que a população jamais o esquecerá. Como se fosse possível.

Desta vez aproveitou-se da distração do povo que assistia a espetáculo musical, para fazer o seu próprio show, que mais uma vez marcou a história de um país e do mundo. Diabo de onda que poderia se aquietar e deixar em paz a gente que lavava a alma com a boa música de grupo apreciado por todos, nas vésperas do Natal! Mas não, o vulcão, lá nos confins do mar, insensível ao sentimento natalino, não haveria de permitir que a alegria se consumasse neste fim de ano, aliás, conturbado fim de ano, e, por isso, produziu a onda. Agora o brilho das lágrimas ofuscou as luzes de Natal de quem teve pessoas queridas, moradia, alegria, perspectiva, tudo arrastado pela água salgada. Definitivamente, não dá para se viver em terra sempre sujeita a maremoto, fenômeno que pode engolir as cidades de uma hora para outra, assim, do nada.

Claro que não é prerrogativa do povo de lá maldição tão grande. Em terras do Ocidente, por exemplo, há uma gente que também se encontra prestes a viver maremoto que deverá tomar todo o seu vasto território. Falo da simpática população deste imenso circo, no qual, por décadas, depositamos toda a nossa fé e nosso amor varonil.

Gente agora sujeita a um desastre seco, embora tão devastador quanto aquele, que ora se anuncia. Promete, mesmo seco, afogar toda uma população que, tudo indica, será conduzida aos porões da estupidez crônica, onde perecerá à míngua. Soa trágico, admito, sobretudo para quem esteve longe de uma sala de aula ou de um livro nos últimos tempos.

Mas a maré deveras salgada produzida neste lado do mundo vem há tempos empurrando o atabalhoado ao redemoinho que o consumirá, sempre sorrindo e imaginando que tudo vai bem, como mostra a TV.

Mas não tem nada não, próximo ano será ímpar e tende a ser bom por causa disso. Os astros dizem o mesmo, a população está confiante, o futebol vai continuar a encher os nossos céus de gritos e rojões, as novelas farão verter lágrimas de emoção, e os telejornais noticiarão tragédias que só ocorrem em países distantes, não em países onde moram o sol, a prosperidade e a felicidade, ano todo, para todo mundo.

É, sem dúvida, tocante! 




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