O diretor de cinema Arnaldo Jabor, hoje mais comentarista de TV do que cineasta, é o primeiro brasileiro a lançar seus filmes no sistema DVD, que ainda é caro para a maioria, mas vai virar carne de galinha em pouco tempo. Estao saindo, dele, dois títulos que fazem parte de uma coleçao que terá outras obras, mais indicativas do que estas: Eu Sei Que Vou Te Amar e Eu Te Amo, filmes realizados em 1980 e 1984, respectivamente, mas que nao representam aquilo que o diretor fez de melhor no cinema brasileiro desde a estréia em 1965 com O Circo, depois com o bom Opiniao Pública, em 1967, mais tarde com um desastre, Pindorama, de 1971.

Jabor só recuperou seu bom cinema quando começou a passar às telas as peças de Nelson Rodrigues. Adaptou - muito bem - Toda Nudez Será Castigada, em 1973, e O Casamento, em 1975. Depois de Eu Te Amo, parou no tempo e envolveu-se apenas na política cinematográfica, o que nem sempre é bom para nenhum realizador.

É provável que nunca mais dirija nenhum filme, tamanha é a sede por atuar na TV Globo, comentando fatos políticos e sociais. Dois méritos, no mínimo, devem ser creditados a ele: um, ter lançado a novata Fernanda Torres em Eu Sei que Vou Te Amar, que deu a ela a Palma de Ouro de melhor atriz no Festival de Cannes em 1986, embora ainda ninguém saiba exatamente qual foi a justificativa para o prêmio; outro, realizar o segundo filme mais sensual com a atriz Sônia Braga, Eu Te Amo, que foi um sucesso de bilheteria depois de A Dama do Lotaçao, de 1978, - assinado por Neville de Almeida, abrindo à atriz a chance de ir atuar no cinema norte-americano, onde nao teve as oportunidades que deveria ter.

O melhor filme de Jabor foi a versao de Toda Nudez Será Castigada. Mas os outros dois que estao sendo lançados em DVD sao curiosos, no mínimo. Em Eu Sei Que Vou Te Amar, Jabor ficou longe das intençoes de realizar uma obra mais prática sobre as relaçoes de um casal em crise e acabou criando apenas uma obra de longos e aborrecidos diálogos, que o espectador nao curte muito bem. Curte, mesmo, sao as cenas eróticas entre Fernanda e o ator Thales Pan Chacon, mas nem elas levam a coisa alguma para distinguir o filme de alguma coisa mais séria senao a de um subproduto do cinema comercial.

Melhor mesmo é rever Eu Te Amo. Aqui, as situaçoes sao mais elaboradas, o estudo psicológico dos personagens é mais amplo, a sensualidade de Sônia Braga é latente e esquenta as veias dos espectadores, os diálogos sao incisivos no conjunto que mistura sexo, solidao, sentimentos, revelaçoes e também algum humor para contrabalançar o que os críticos chamaram de drama passional. Eu Te Amo é bem mais trabalhado do que Eu Sei Que Vou Te Amar e tem um elenco claramente mais forte: Sônia, Paulo Cesar Pereio, Tarcísio Meira e Vera Fischer, apoiado na trilha sonora criada por Tom Jobim e Chico Buarque.  

Os dois filmes sao bons exemplos de um tempo em que o cinema brasileiro começava a tentar - apenas tentar - romper as barreiras intelectuais impostas pelo Cinema Novo e buscava, com certos apelos, conquistar um público cativo do cinema norte-americano. O cordao, até hoje, nao se rompeu. De qualquer forma, o lançamento dos dois filmes de Jabor no sistema DVD significa uma abertura para que outras obras nacionais consigam motivar as distribuidoras estrangeiras. Já tem algumas delas acreditando nas chances de um bom negócio para revisar toda a obra de Glauber Rocha, desde Deus e o Diabo na Terra do Sol até Cabeças Cortadas, e incluir no pacote filmes de cineastas paulistas como Roberto Santos (A Hora e Vez de Augusto Matraga) e Luis Sérgio Person (Sao Paulo S/A). Um bom sinal, finalmente, para quem curte vídeo e já descobriu que cinema brasileiro há bom tempo deixou de ser abacaxi.