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Meta do Ideb é atingida por 71% da rede pública

Escolas do segundo ciclo do Fundamental tiveram desempenho inferior no índice nacional da Educação

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
09/09/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


De todas as escolas públicas do Grande ABC que tiveram a nota e a meta do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2017 divulgados pelo MEC (Ministério da Educação), 71% atingiram o índice estabelecido pelo governo federal. Alcançaram a meta 308 unidades em universo de 434 instituições, entre municipais e estaduais. 

Quando avaliados os anos iniciais (1º ao 5º ano) e finais (6º ao 9º ano) do Ensino Fundamental da rede pública, é possível observar que entre as escolas do primeiro ciclo, 89,6% atingiram a meta (242 das 270 unidades escolares). Já a realidade do segundo ciclo, é bem diferente. Menos da metade – 40,2% (66 de 164 escolas) – cumpriram o ‘dever de casa’.

O melhor desempenho foi observado nos anos iniciais do Ensino Fundamental das escolas estaduais, com 96,5% das unidades alcançando a meta (112 de um total de 116). No caso da primeira etapa do Fundamental da rede municipal, 84,41% das escolas atingiram o índice esperado (130 de 154).

A exemplo dos cenários estadual e nacional, a avaliação dos anos finais do Fundamental (6º ao 9º ano) apresentou resultado menos animadores. Na rede municipal (que existe em São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires), 76,9% das escolas atingiram a meta (dez em grupo de 13). Na rede estadual, no entanto, apenas 37% das unidades escolares conseguiram a nota esperada (56 de um total de 151). 

O professor dos cursos de pós-graduação e coordenador do Observatório de Educação do Grande ABC da USCS (Universidade de São Caetano), Paulo Garcia, destacou que ainda que os resultados do segundo ciclo do Fundamental sejam menos expressivos do que os do primeiro, havia cenário de estagnação na Educação pública da região. Segundo ele, embora muitas escolas não tenham atingido a meta, a grande maioria apresentou aumento dos indicadores (as notas de todas as unidades da região cujos dados de meta e resultado de 2017 foram divulgados pelo MEC podem ser consultadas na tabela abaixo). 

“É importante investir na gestão e no planejamento escolar como forma de tentar superar as dificuldades do segundo ciclo do Ensino Fundamental”, afirmou Garcia. “(É preciso) Focar na formação contínua do corpo docente, usando o ambiente escolar para isso. E, entre os alunos, fazer o que chamamos de ‘consolidação de altas expectativas’. Estudos mostram que o rendimento melhora quando a criança internaliza que acreditam nela: a família, os professores, a escola como um todo”, detalhou. 

O docente ressaltou, ainda, que o poder público precisa fazer a gestão dos resultados obtidos pelos estudantes, “Com a adoção de processos simples, que permitam acompanhamento permanente”, finalizou.

Para o professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Alavarse, os resultados obtidos em 2017 não refletem apenas o trabalho desenvolvido naquele ano, mas também o acumulado do que foi o aprendizado do aluno desde que ele está na rede escolar. Segundo o especialista, um dos grandes gargalos a ser enfrentados é o aprimoramento da leitura. “Não apenas o professor de Português, mas o de História, de Geografia, todos eles, precisam trabalhar a leitura, o letramento, para que não seja comprometida a capacidade de compreensão dos alunos em todas as disciplinas”, afirmou. 

Escola com pior nota convive com problemas

Problemas estruturais no teto, rachaduras nas paredes, banheiros sem portas, falta de professores e até episódios de bombas no interior da escola. Esse foi o cenário descrito por alunos da EE Professor Rener Caram, na Vila Palmares, em Santo André, que atingiu a pior nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Grande ABC no ano passado. A nota da unidade foi 3,3, considerada a pior entre todas as escolas públicas avaliadas pelo MEC (Ministério da Educação). A meta era 4,1.

A equipe do Diário esteve na unidade escolar na semana passada e conversou com alguns alunos. Apesar de a escola funcionar em período integral (os alunos de algumas séries, como 6º e 9º ano do Fundamental, estudam das 7h às 15h), os estudantes não realizam atividades em locais como laboratórios e bibliotecas.

“Temos um laboratório sem equipamentos, na verdade”, afirmou o aluno do 6º ano Enzo Rodrigo Borges, 13 anos. Segundo o estudante, o acesso ao laboratório de informática também é raro. “Neste ano só usei uma vez”, afirmou. O aluno relatou episódio grave de vandalismo, ocorrido em 2017, quando bombas foram explodidas no interior da escola e a PM (Polícia Militar) chegou a passar três dias dentro da unidade escolar. “Soltaram no banheiro, dentro de salas, dentro das latas de lixo e um aluno chegou a machucar o pé”, afirmou.

A aluna do 6º ano Giovanna Kelly de Liz, 14 anos, reclamou da falta de atenção dos professores. “A maioria (dos docentes) não têm muita paciência para explicar as coisas”, afirmou, mas fez uma mea culpa. “Acho, também, que muitos alunos não se interessam”, declarou.

Os estudantes afirmaram ainda que, neste ano, passaram período sem professores de História e de Artes e que, apesar de estudarem na escola em período integral, não há atividades complementares no dia a dia, apenas aquelas do currículo básico. Para os alunos, se a estrutura da unidade fosse melhor, o rendimento também seria mais positivo.

Governo fala em necessidade de melhorias

Para a Secretaria do Estado da Educação, os resultados do Ideb 2017 evidenciam a necessidade de se aperfeiçoar os ensinos Fundamental e Médio. “A Pasta reconhece resultados importantes, o esforço dos profissionais da rede estadual, porém, ações como a valorização do professor e o investimento em tecnologia de ponta, com lousas digitais, são fundamentais para avançar a qualidade do ensino”, informou, em nota. 

Sobre a situação da EE Professor Rener Caram, na Vila Palmares, em Santo André, que atingiu a pior nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Grande ABC no ano passado, a Secretaria informou que todas as aulas foram atribuídas para 42 professores. e que, quando há faltas dos docentes, é feita a substituição por eventuais. “A escola implementou o Método de Melhoria de Resultados, com o objetivo de aprimorar o aprendizado dos estudantes com a formulação de planos de trabalho personalizados e monitorados pela própria comunidade escolar e conta com um novo diretor, que iniciou as atividades neste ano”, relatou o comunicado.

Segundo a Pasta, o método é utilizado desde o planejamento estratégico para o ano letivo e passa por etapas como: identificar os desafios, planejar formas de superá-los e implantar as soluções elaboradas. “A unidade escolar conta com grêmio estudantil e representantes de turma. Além disso, em 2018, está desenvolvendo o projeto de uma rádio escolar. A escola tem ainda conselho participativo, Programa Escola da Família e professor mediador, educador que atua na redução de conflitos e promoção da cultura de paz e preservação do patrimônio público. A unidade escolar mantém parceria com a Ronda Escolar, da Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento no entorno da escola. Para melhorias no prédio escolar e. em 2018, foram investidos cerca de R$ 150 mil para obras estruturais”, completou a nota. 

A unidade atende alunos das comunidades Palmares, Tamarutaca e Sacadura Cabral. São mais de 550 alunos, sendo dez turmas do Ensino Fundamental Integral – anos finais (6º ao 9º ano), seis turmas do Ensino Médio e quatro turmas da EJA (Educação de Jovens e Adultos).




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