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Solteiríssimos por opção
Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
10/06/2007 | 07:12
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Shoppings lotados, com anúncios em forma de coração. Reservas em restaurantes e motéis quase esgotadas. Enquanto casais de namorados escolhem presentes e planejam a noite do dia 12, solteiros convictos aproveitam para cuidar deles próprios, sair com os amigos e – por que não? – paquerar. Sem drama, enchem a boca para dizer que a solteirice é boa sim e tem vantagens que só se descobre quando não se está amarrado.

Na hora de escolher entre estar sozinho ou comprometido seriamente, é a liberdade que mais pesa na balança. “O direito de ir e vir sem dar satisfações é freqüentemente apontado pelas pessoas que preferem estar sozinhas. É difícil mudar os hábitos e dividir”, explica a psicóloga-clínica Celina Sevieri. Foi pensando em não perder a independência, que Ana Maria Caterina de Salvo, 49 anos, disse não a dois pedidos de casamento. “Meu primeiro pedido de casamento foi quando eu tinha 16 anos. Eu era muito nova, tinha outros planos e recusei”, conta.

A segunda proposta foi 19 anos mais tarde e Ana Maria, que estava grávida de três meses, mais uma vez disse não. Na época, ela tinha 34 anos e depois de alugar uma casa, comprar móveis e enxoval, voltou atrás e assumiu sozinha a responsabilidade de criar um filho.

“Todo mundo me pressionou, mas nunca me vi casada e recusei”, declara. “Acho que não saberia dividir meu espaço, não sou dona de casa e não sei ouvir ordens. Gosto de sair, viajar e às vezes quero ficar sozinha. Não me considero uma solteirona porque tenho meus paqueras. Sou feliz assim.”

SOLTEIRICE

Hoje, a palavra solteirice não tem o mesmo tom pejorativo que tinha há 40 anos. De acordo com a antropóloga Rosali Tellerman, desde a Revolução Industrial, vários setores da sociedade passaram por grandes mudanças que ganharam fôlego a partir da década de 1970. “Hoje é moderno ser solteiro. A partir dos anos 70, vários movimentos culturais abriram espaço para uma nova releitura da sociedade e alguns valores mudaram, entre eles ser solteiro”, explica. “Há 40 anos, quando um homem não se casava, discutia-se a opção sexual dele. Se fosse mulher, dizia-se que era porque não merecia o amor de um homem e ela era taxada de titia”, diz a antropóloga.

“Atualmente, tudo é mais fácil. Tanto os mais jovens, quanto os mais maduros estão sendo menos cobrados e conseguem viver sozinhos numa boa. Estudo e sucesso profissional se tornaram prioridades. Relacionamento mais sério fica para depois”, explica a psicóloga Celina.

O artista plástico de São Caetano Renato Brancatelli assume que já pensou em casar e constituir uma família. “Mas isso foi quando eu era adolescente”, pontua. Hoje, aos 51 anos afirma que ser solteiro é uma delícia. “A melhor coisa é a liberdade. A autonomia de fazer tudo do meu jeito e quando eu quero”. Ele, que nunca acreditou no casamento como instituição, jura que já teve muitas pretendentes, mas nunca passou perto do altar. “Casamento retém o homem. E minha solteirice tem a relação com minha profissão. Artista é boêmio, gosta de baladas”, revela.

SÓ E FELIZ

Há muitas maneiras de curtir quando se está sozinho. “Inclusive no dia dos namorados”, afirma a sexóloga Laura Muller. A sugestão dela é estar bem consigo mesmo. “É completamente possível ser feliz sozinho e ter relacionamentos mais leves, como ficar e ter namoros eventuais.

Ser solteiro não impede ninguém de viver bem com a sexualidade”, afirma. Não se prender em padrões culturais pré-estabelecidos como a busca do príncipe encantado ou da mulher perfeita é o primeiro passo.

“Temos de viver dentro das nossas possibilidades”, acrescenta.

E é dentro das possibilidades que a jornalista de Ribeirão Pires Renata Nascimento, 27 anos, vive. “Namorei por seis anos e estou há um sozinha. Me sinto ótima e livre”, diz.

Conhecer pessoas diferentes sem ter brigas com o namorado por ciúmes, ter mais tempo para se cuidar foram, para ela, grandes mudanças. “Pretendo ficar solteira por mais cinco anos, mas posso me apaixonar a qualquer momento. São fases. As duas são boas.” Na noite do Dia dos Namorados, Renata tem planos de sair com as amigas. “Fizemos isso no ano passado e foi ótimo”, conta.

Fábio Mazza, 38 anos, vai trabalhar. Ele é dono de um restaurante em Santo André e nesta noite as mesas estarão lotadas de casais. “Para mim, é uma data normal.” Ele afirma que não namora sério há cinco anos e não sente falta. “Eu não me vejo casado nem formando família. Adoro mulher e tem tanta bonita por aí que fica difícil me amarrar em apenas uma”, confessa.

Para esta turma de solteiros, nada melhor do que ver amigos, sair para paquerar e fugir de compromissos sérios pelo menos por enquanto. “A gente nunca sabe o que vai acontecer”, suspira Ana Maria.




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