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Autopeças adotam produção 24h para atender demanda
Por Frederico Rebello Nehme
e Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
31/01/2005 | 13:25
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Para compensar a situação de iminente esgotamento da capacidade produtiva do setor, a indústria de autopeças do Grande ABC está reorganizando os turnos de trabalho e adotando gradativamente um sistema de produção ininterrupto – 24 horas por dia, sete dias por semana.

A tendência se verifica em várias fábricas na região. Magneti Marelli Cofap, Mahle Metal Leve, Arteb e Macisa já adotaram a produção sem paradas. Outras cinco estão negociando a reorganização de suas linhas de produção com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: Kostal, Rassini, Sachs, Dana Nakata e TRW.

Depois de anos sem investimentos de peso e enfrentando uma demanda crescente por parte das montadoras, a maior parte das autopeças chegou ao limite de sua estrutura produtiva. Segundo levantamento da consultoria Booz, Allen & Hamilton, encomendado pelo Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Peças e Componentes), 75% das indústrias do setor estão com sua capacidade produtiva comprometida, e seria necessário US$ 1,3 bilhão em investimentos ainda este ano para que a situação se normalize.

Mesmo aumentando o período de funcionamento das empresas, a mudança no sistema de trabalho tem reduzido a jornada semanal dos metalúrgicos para 40 horas – uma das “bandeiras” da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em 2005.

Ao contrário da jornada convencional – de segunda a sexta-feira – a reorganização dos turnos de trabalho nas empresas prevê seis dias de trabalho consecutivos seguidos de folgas intercaladas de um e três dias – o funcionário trabalha seis dias e folga um; após os próximos seis dias trabalhados, folga três – ou folgas fixas de dois dias. No entanto, outras formas para aumentar o horário de funcionamento das autopeças podem ser adotadas no futuro, segundo o sindicato.

As mudanças na organização dos turnos já teriam gerado 1.150 vagas desde o ano passado, segundo o diretor-executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Paulo da Silva Nogueira. A estimativa é que existam cerca de 6 mil metalúrgicos trabalhando sob esse sistema, de um total de 35 mil empregados no setor no Grande ABC.

A negociação com as empresas prevê três contrapartidas básicas para os trabalhadores: jornada de 40 horas, aumento do quadro de funcionários e a concessão de um vale-alimentação adicional no valor de R$ 80 para cada metalúrgico.

“Deixamos claro que esse acordo não é permanente. O ideal é que as empresas façam investimentos e contratem trabalhadores com consistência. Todos os acordos têm validade de dois anos”, afirma Nogueira, do sindicato.

O diretor de Relações de Trabalho da Mahle Metal Leve e gerente de Recursos Humanos da unidade de São Bernardo, José Darci Nogueira, afirma que seria “inviável” o aumento da produção se o sistema não tivesse sido implantado.

“Não conseguiríamos fazer essa ampliação no funcionamento da empresa com a criação de turnos apenas para os finais de semana, por exemplo, que teria um custo pelo menos 20% superior. Com a mudança, deixamos de aumentar demasiadamente os gastos e aumentamos em 15% nossa produção”, afirma Nogueira.

Na Arteb, de São Bernardo, a ocupação é total, segundo a gestora de Administração de Pessoal e Benefícios da companhia, Rosana Pepece. “Para aproveitar a capacidade ao máximo possível foi necessário que trabalhássemos nos finais de semana, período em que as máquinas ficavam paradas. Agora, a ocupação é total, 24 horas por dia”, afirma.

Capacidade – O presidente do Sindipeças, Paulo Butori, acredita que, mesmo com problemas, o setor conseguirá se adaptar à demanda das montadoras em 2005, mas condiciona a situação aos investimentos necessários.

“Vamos ter alguns soluços, mas no final vai acabar tudo bem, desde que os investimentos sejam feitos. Estamos realizando desde julho esse questionamento às nossas indústrias, tentando conscientizá-las de que é necessário ampliar a estrutura”, afirma.

Para David Wong, diretor da consultoria Booz, Allen & Hamilton, que realizou o levantamento conjuntural para o Sindipeças, a situação não será “oito ou oitenta”. “Não teremos de uma hora para outra a parada de produção de autopeças. Existem saídas possíveis, como o gerenciamento do mix de produtos das indústrias e a importação de parte das autopeças pelas montadoras. Mas, sem dúvida, está havendo uma sobrecarga nesse setor”, afirma.




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