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lhéus não é São Martinho
Creso Peixoto
19/08/2017 | 07:00
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 A experiência em paraísos de exuberantes praias, povos que se marcam pela cordialidade e ricas histórias de uma ilha caribenha e outra de nome que lembra seus moradores, Ilhéus, Bahia, permite realçar óbvias diferenças. Contudo, resguardam curiosa semelhança aeroportuária. São Martinho, que alguns preferem sã martã (Saint Martin), talvez a demonstrar que gastaram mais na viagem ... tem um dos aeroportos pitorescos do Caribe.

Sendo ilha, fica fácil imaginar a dificuldade de se construir pista, mesmo que seja de apenas 2.300 m de comprimento, para operar gigantes do ar. Guarulhos tem pista de 3.700 m, 60% mais longa. A 150 metros da cabeceira, há praia e rua, com curioso semáforo a indicar vermelho quando aviões estão pousando ou decolando. No alambrado que cerca o aeroporto, avisos deixam claro quanto ao perigo durante operações aéreas. Quem passa de carro com farol vermelho ou se pendura nas telas para sentir a força dos ventos aeronáuticos (jet blast), assume o risco e pronto.

Em 12 de julho uma turista faleceu, atirada contra blocos de concreto.

O aeroporto de Ilhéus está em istmo entre rio e mar. Separam cabeceira e avenida apenas 200 m. Não há semáforo ou qualquer informação de risco para motoristas. Turistas também param na cabeceira para observar e fotografar. A imagem do Google Earth apresenta marcas de uma possível cabeceira antiga de apenas 100 m da avenida, indicando que há sim preocupação de autoridades. Em 1996, Ribeirão Preto, cabeceira distante 350 m da avenida, uma aeronave ultrapassa o limite do aeroporto e colide com camionete. Motorista e ocupantes falecem.

Passear em Phillipsburg, capital Holandesa de Sint Maarten. Estreitas ruas de nomes onde sobram vogais, joalherias e cassinos. Parece que Jack Sparrow surgirá a qualquer momento em soturnas vias. Na praia, o azul transparente do mar caribenho, contraste ao verde Ilheense, é pano de fundo para a profusão de cultura e comércio. Um sorridente músico cobre meu sol, ao parar defronte minha cadeira. Fala qualquer coisa, não compreendo. Vende CDs de sua autoria. Conversamos, enquanto eu passeava olhar na riqueza da diversidade. Gestos rápidos de palmas abertas, tererês e cores jamaicanas a emoldurar fortes opiniões.

Passear no Centro de Ilhéus. Ruas estreitas, curiosos semáforos onde alguns acendem apenas no vermelho e amarelo, afinal, verde ou apagado é para seguir, não?

José Delmo, artista popular, toca em meu braço, enquanto observava painéis no teatro de Ilhéus. Convida-nos a seu pequeno stand up de histórias. Um interessante pot-pourri de histórias locais, onde não fazem parte preconceitos ou gozações com estética ou cor.

Tomamos rodovia para Itacaré. Em barraca de praia com acesso restrito, pergunto até que horas podemos ficar. Contraponho o comentário de que não deveríamos nos preocupar com horário, quando interponho que é apenas para calcular se o álcool de única tulipa de cerveja teria já desvanecido, para poder seguir viagem.

Peço a conta. A simpatia do atendente Paulo se transforma em novo momento de palco de plateia diminuta. Pergunto-lhe sobre onde morava, quantos trabalhavam lá.

– 43! Enquanto digitava na maquininha que marca finais de refeições. Fala da importância do emprego, seu empenho em dormir sobre papelão, ao lado do pai, que não sobrevivera duas semanas em hospital.

Custo da viagem? Orçamento a cobrir 1.800 quilômetros mostrava avião, estacionamento e aluguel de carro por R$ 1.700 por passageiro. De carro, R$ 800. Antes de parecer induzir que a vantagem é por carro, convém avaliar risco e cansaço.

Afinal, por que viajamos, quer seja de carro ou ônibus ou avião? Para pisarmos em areias e banharmo-nos em águas que apenas podem variar em cor e areias em textura? Queremos conhecer outros povos, culturas. Claro que, para alguns, vale a máxima do poder viajar. Prefiro o do poder conhecer pessoas e culturas.




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