D+ Titulo
Jornalista, o contador de histórias reais
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
20/03/2011 | 07:00
Compartilhar notícia


Mais do que caneta, papel, gravador, microfone e computador, o jornalista utiliza outros instrumentos, que nenhuma máquina possui, para contar e traduzir informações: olhos e ouvidos atentos. O profissional deve saber ouvir as pessoas e observar os detalhes para, enfim, relatar o que está acontecendo. Sensibilidade, agilidade e jogo de cintura também são essenciais nessa profissão que vive à procura da verdade. Afinal, uma informação errada pode prejudicar muita gente.

Tem de gostar de notícia, de ler e não ter preguiça. Precisa adorar estar na rua, porque é lá que as coisas acontecem", explica o jornalista Marcelo Duarte, 47 anos, sobre como deve ser o bom profissional. "A internet facilita, mas há quem ache que possa resolver tudo por lá e fica preso ao computador. Assim deixa de conhecer pessoas e lugares, que é o melhor da profissão. Precisa ter bagagem cultural."

Formado há 26 anos, Marcelo lembra que a curiosidade e a insistência também são características muito importantes desse profissional. Foi assim que conseguiu seu primeiro estágio em uma revista de esportes no terceiro ano da faculdade. "Sempre quis ser jornalista e era um leitor chato. Mandava tanta carta que me chamaram para conhecer a redação. Não saí mais." Trabalhou em grandes revistas, escreveu vários livros (como a série Guia dos Curiosos), acompanhou Copas e Olimpíadas. Hoje tem sua editora.

MILHÕES DE COISAS

O jornalista precisa saber traduzir a notícia para diversos meios de comunicação (jornal, rádio, TV, internet, revista) e estar antenado com as novidades. Nos últimos anos, redes sociais como Twitter e Facebook tornaram-se fontes para pautas e personagens. Até a conversa descontraída da folga pode render excelente reportagem.

Na opinião de José Augusto Camargo, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, esse profissional sempre foi multitarefeiro, característica que tem se acentuado cada vez mais. O surgimento de novas mídias o obriga a saber trabalhar de diferentes formas. Enquanto escreve para o impresso, alimenta a versão eletrônica, por exemplo.

Mesmo diante de tanta novidade, o jornal e a profissão não devem ser extintos. "Não importa se vai traduzir a notícia para o papel ou para o tablet. O fato vai sempre existir", afirma José Augusto, que lembra que o mercado está em crescimento, principalmente nas áreas de assessoria de imprensa, comunicação nas empresas e cargos públicos. Os salários variam muito. De acordo com tabela da Federação Nacional dos Jornalistas, o piso da categoria em São Paulo para cinco horas em jornais e revistas é R$ 1.940.

 

Ramificações - O curso de Jornalismo é um dos mais disputados nas grandes universidades, tendo duração de quatro anos. Prepara o aluno para trabalhar nas mídias impressas, como jornal e revista, e eletrônicas, como sites. Há ainda o curso de Rádio e TV, direcionado especificamente para esses dois veículos. O profissional pode atuar em diversas áreas, desde a elaboração das pautas (assuntos a serem abordados na edição), na reportagem, produção de textos, edição, fotografia, pesquisa, revisão, ilustração, produção de infográficos, entre outras atividades.

 

Diploma? - Desde junho de 2009, o diploma de jornalismo não é mais obrigatório para exercer a profissão. A decisão foi do Supremo Tribunal Federal. Uma de suas alegações é que as notícias inverídicas são graves desvios da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional.

 

Exemplo - Mais do que adorar ler e escrever, Beatriz Duarte, 15 anos, se inspira no pai, Marcelo Duarte. "Sempre fiquei esperando ele voltar das viagens e contar tudo o que viu e fez." Mesmo tendo sentido muito a falta dele, ela se prepara para fazer o mesmo. Estuda inglês e espanhol com empenho.

  

D+ completa 100 edições - Nada é sempre igual no jornalismo, muito menos no conteúdo produzido pelos jornalistas. O D+ está aí para provar. Nasceu da necessidade de o Diarinho continuar a oferecer informação e entretenimento, acompanhando o leitor durante a adolescência. Em pouco menos de dois anos, já fez história. Com a mesma desenvoltura que fala sobre ídolos, seriados, moda, web, trata sobre espinhas, virgindade, TPM, gravidez. Aborda questões ligadas ao universo estudantil e vai além ao mostrar a pluralidade sexual, como vivem adolescentes soropositivos, os que estão na Fundação Casa, os filhos de homossexuais, de pais separados, os que enfrentam depressão, bullyng. É só o começo. Aguardem as próximas 100 edições.

 

Tem mais - Confira entrevista com Júlio Veríssimo, 49 anos, formado desde 1984. Ele é coordenador da Agência Folha, do jornal Folha de S.Paulo, e professor  do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo. Já atuou em esporte, política, economia. Trabalhou na Folha ABCD (extinto caderno regional da Folha), na extinta Folha da Tarde, onde chegou ao cargo de secretário de Redação.

D+: Por que decidiu ser jornalista?

Júlio: Foi algo natural. Acho a profissão interessante. Sempre devorei livros e jornais, desde garoto.

 

D+: Encantou-se mais ou decepcionou-se mais com a profissão? Era o que imaginava?

Júlio: Sempre fantasiamos um pouco além da conta uma profissão. Mas ela é exatamente como imaginava. Não me decepcionei. Pelo contrário. Acho-a cada dia mais interessante

 

D+: Você acredita que as faculdades preparam o profissional para ser multitarefeiro, exigência do mercado de hoje?

Júlio: Sim. É na faculdade que você adquire competência para atuar. Mas sempre reforço que quem faz a faculdade é o aluno. Se ele não se interessar, não será um bom profissional, e isso em qualquer curso.

 

D+: É uma profissão com várias opções de atuação. Na sua opinião, qual área está mais bem organizada hoje?

Júlio: Com as novas tecnologias, acho que qualquer área ainda é atraente (impresso, rádio TV, assessoria etc.). Mas, claro, isso depende de quanto o interessado está antenado com essas mudanças na comunicação.

D+: Trabalhar demais e não ganhar um salário muito alto faz parte da rotina da profissão de jornalista?

Júlio: Não é bem assim. O salário inicial de um repórter na Folha, por exemplo, é de R$ 3.000. Se comparado a outras profissões, até que não é pouco. Claro que poderia ser maior, afinal exige-se mais.

 

D+: O que te deixa mais feliz e mais insatisfeito com a profissão?

Júlio: Fico feliz com o aprimoramento da mídia. Insatisfeito quando vejo certas reportagens incompletas ou mal escritas.

 

D+: Como o jornalista precisa ser para ser um excelente profissional?

Júlio: Muito antenado. Deve ler muito. Viajar. Ir ao cinema, ao teatro. Não temer novidades.

 

D+: O que pensa da não-exigência do diploma?

Isso não tira das faculdades a competência de ensinar jornalismo. O mercado, hoje, está atrás de bons profissionais (com e sem diploma). Claro que, passando pela faculdade, esse profissional terá algo mais a oferecer.

 

D+: Tem alguma dica para quem está começando?

Júlio: Sim. Mas tenho dica principalmente para quem pretende fazer jornalismo. Gostar de ler. Ler um jornal por dia, uma revista por semana e um livro por mês. Ir ao cinema. Ir ao teatro. Falar mais de uma língua.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;