A quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa e é marcado por forte simbolismo religioso, ainda conserva hábitos de penitência entre fiéis mais tradicionalistas. Além dos preceitos ditados pela Igreja para a Semana Santa, como o jejum e a abstinência de carne na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão, alguns fiéis ainda mantêm hábitos herdados de antepassados, muitas vezes remotos.

O taxista João Antonio Cortês Guerreiro, de Santo André, não corta o cabelo nem faz a barba durante a quaresma. “A última vez que fiz a barba foi na terça-feira de Carnaval e só vou fazer depois do meio-dia de Sábado de Aleluia”, afirma. João Antonio também não come carne nas quartas e sextas-feiras durante o período do quaresma.

A aposentada Maria Urbana Craveiro, também de Santo André, afirma que já foi mais tradicionalista nas penitências durante a quaresma, mas ainda conserva o hábito de não fazer nada na Sexta-Feira Santa. “Eu procuro fazer comida na quinta-feira, para deixar pronto para o dia seguinte, e guardo a Sexta-Feira Santa”, disse. A Sexta-Feira Santa é o único dia do calendário litúrgico da Igreja no qual não há sacramento, nem mesmo extrema unção aos mortos.

Segundo o padre Joel Neri, da paróquia Nossa Senhora de Fátima, de Santo André, os hábitos de penitência mais tradicionalistas durante a quaresma têm como base a cultura e a religiosidade popular e estão cada vez mais raros.

De acordo com o padre, as penitências e as privações impostas aos fiéis têm por objetivo mostrar o martírio de Jesus Cristo, condenado e crucificado pelos romanos e, principalmente, a ressurreição de Cristo na Páscoa.