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Mapa da Cidade da Criança ilude seus frequentadores
Por Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
22/04/2010 | 07:02
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O mapa entregue pela Prefeitura de São Bernardo na entrada da Cidade da Criança mostra uma situação diferente daquela que os frequentadores encontram ao entrar no parque. Dos 17 brinquedos listados no mapa, dois estão funcionando: Eldorado (carrinho de trilho que passa por um túnel representando uma mina de ouro) e In Corpore Sano (brinquedo em que a criança conhece mais sobre o corpo humano).

O Avião, brinquedo que foi um dos marcos do parque, está aberto apenas para visitação. Ele não produz barulho nem movimento. Além disso, os assentos estão velhos e há cheiro de mofo. "Antigamente era conservado. Agora está precário e só serve para criança entrar e ver como é", disse a operadora de telemarketing Tatiana Agustine, 31 anos.

Os demais brinquedos têm placas informando aos visitantes que as atrações estão "temporariamente fora de operação". Essa é a situação encontrada após três meses da reinauguração do parque. ocorrida em 17 de janeiro, após um período de quase um ano fechado. Em vistoria realizada pelo vice-prefeito Frank Aguiar (PTB), no dia 8 de janeiro, a promessa era que 15 dos 17 brinquedos estivessem em operação na inauguração.

DECEPÇÃO
Quem quis aproveitar o dia ensolarado para passear no parque com a família se decepcionou. A saladeira Telma de Paula Vicente, 32 anos, levou o filho para conhecer o local. "Não tem o que fazer. Fui com meu filho no Eldorado pensando ser uma coisa. Quando era jovem tinha mais opção, como o teleférico", reclamou Telma. Para ela, o bom é que só são pagas as atrações. "Não ligaria de pagar se o local estivesse em plena condição de funcionamento". A entrada do parque é gratuita e os brinquedos custam R$ 2.

É comum ouvir as crianças perguntando aos pais porque as atrações estão fechadas. "Mal chegamos e minha filha já está desanimada. Ela pensava que iria encontrar um monte de brinquedos", disse a auxiliar administrativa Sônia Cristina de Farias, mãe de uma menina de 4 anos. Outra reclamação é quanto à higiene do banheiro. "Tive que pegar papel higiênico no banheiro masculino. A limpeza deixa a desejar", contou a dona de casa Divanilda de Melo, 34.

A Prefeitura de São Bernardo informou que os brinquedos estão passando por manutenção e em breve voltarão a funcionar. Disse, ainda, que abrirá editais para que empresas possam gerir as atrações. A administração afirmou que seis equipamentos estão funcionando, diferente do que a reportagem viu ontem ao visitar o local.


‘Esperava muito mais. Até sonhei com o parque
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Em visita à Cidade da Criança ontem, o Diário constatou que 90% dos brinquedos apresentados no mapa da Cidade da Criança estão fora de operação. É o caso do Teleférico, do Arborismo, do Carrossel e do Submarino. "Queria muito entrar no Submarino, mas fiquei triste quando vi a placa dizendo que não estava funcionando", disse a estudante Mariana Martins de Aguiar, 7 anos.

A mãe dela, a biomédica Monise Martins, 33, acredita que o parque neste estado é bom só para caminhadas e para relaxar. "Não vejo atrativos para as crianças, o que é ruim, já que elas vêm com a intenção de se divertir", explicou.

A Prefeitura de São Bernardo informou no início do ano que o Teleférico e o Submarino não iriam funcionar na reinauguração, pois é preciso realizar reformas. O prazo para os reparos terminaria em junho.

Uma vigilante, que não quis se identificar, informou que a previsão é que todos os brinquedos só voltem a operar no segundo semestre. "É uma judiação o que fizeram com o parque". Para a operadora de telemarketing Tatiana Augustine, 31, falta empenho para manter o local preservado. "No dia da reinauguração estive presente, e alguns brinquedos estavam funcionando, como o Carrossel (que hoje está fora de operação)", disse.

Os primos Carlos Eduardo Gato, 9, e Luis Henrique Paulino Evangelista, 11, ficaram entediados com o passeio. "Esperava muito mais. Estava combinando desde o início da semana e até sonhei com o parque", disse Carlos. "Queria ir no Planetário, mas disseram que por causa de uma lâmpada quebrada o brinquedo não iria funcionar. Não acreditei", contou Luis Henrique.


Mulher sai da Capital para levar neto a parque e se decepciona
A fama que a Cidade da Criança conquistou desde a inauguração, na década de 60, é tão grande que moradores de outras cidades que aproveitaram as atrações no passado levam filhos e netos para conhecer o local.

É o caso da agente de viagens Luciana Koveroff, 39 anos, da Casa Verde, Zona Norte de São Paulo, que frequentava o lugar há mais de 30 anos. "Sempre vinha nos fins de semana me divertir. Também trouxe minha filha que aproveitou muito na infância. Agora chegou a hora de trazer o neto, mas vi que perdi meu tempo, já que não há atrações funcionando", disse Luciana, que tinha chegado havia 30 minutos ao ser abordada pelo Diário.

Para a agente de viagem, o local parece mais um parque qualquer do que temático. "Na minha época vinha para um parque de diversão. Hoje é confuso, não sei se podemos chamá-lo de cultural. Se bem que com esses brinquedos fora de operação, o que resta é o playground. Se fosse para trazer meu neto só para isso, não teria percorrido um trajeto de 40 minutos",afirmou.

Três estudantes de Santa Isabel, na Região Metropolitana de São Paulo, aproveitaram a excursão da igreja evangélica que frequentam para conhecer a Cidade da Criança. "Chegamos cedo para aproveitar tudo. Ao olhar o mapa vimos várias atrações. Mas nenhum brinquedo está funcionando. Imaginávamos ser melhor o lugar", disse uma das meninas, de 14 anos.


Visitantes reclamam da falta de opções para se alimentar
Não é só do abandono dos brinquedos que os visitantes reclamam. A falta de uma praça de alimentação também os decepciona. "Fomos pegos de surpresa. Na hora do almoço, tive que sair e comprar comida nas barracas que ficam do lado de fora do parque", disse o vendedor Cesar Honorato, 32 anos, que aproveitou o feriado para conhecer o local com a esposa e os dois filhos.

Quem se aproveita da situação são os comerciantes. "Desde a reinauguração fico em frente ao parque nos fins de semana e em feriados. Chego a vender, em média, 150 cachorros quentes, além de hamburgueres e refrigerantes", disse o proprietário de uma van Alexander Rinaldis, 31. Em dias de sol, como ontem, o sorveteiro Emerson Honório de Oliveira, 73, também comemora as vendas. "Em fins de semana como hoje, já vendi todos os picolés do carrinho", contou.

Uma das promessas da Prefeitura é abrir licitação para que empresas privadas que tenham interesse possam prestar serviços em algumas áreas do parque, como a praça de alimentação. Questionada, a administração informou que os editais estão sendo elaborados e em breve serão abertos.

Como já sabia da situação, a família do operador Josias Paulino Evangelista, 38, veio preparada para o piquenique. "Como íamos ficar bastante tempo, eu e minha esposa resolvemos trazer refrigerante, bolacha e salgadinho para os filhos e sobrinhos", disse. Para ele, o local também deixa a desejar. "Anos atrás havia havia lanchonetes e lojinhas, agora não tem mais nada."




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