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Sem fiscalização, jet skis são ameaça
Por Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
28/02/2012 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


No mesmo dia em que um menino de 9 anos morreu após acidente com jet ski na Prainha Tahiti, em Ribeirão Pires, a equipe do Diário esteve na Prainha do Riacho Grande, em São Bernardo, também na Represa Billings, e constatou que não existe fiscalização para o uso de qualquer tipo de embarcação ou veículo aquático.

Na manhã do domingo, cerca de dez jet skis circulavam muito próximos às margens da Prainha do Riacho, onde dezenas de pessoas se divertiam. Apenas cerca de 300 metros quadrados do reservatório eram demarcados com boias para separar os banhistas dos veículos aquáticos. Nenhum integrante da Capitania dos Portos, responsável pela fiscalização de embarcações, foi visto. Frequentadores e comerciantes confirmaram que a fiscalização é praticamente inexistente.

Os riscos começam em terra. Isso porque não há área determinada para entrada e saída dos jet skis da água, já que os veículos são levados e retirados em meio às pessoas. Por lei, as embarcações a motor são proibidas de trafegar a menos de 200 metros da margem. EM

A Capitania dos Portos não soube informar quando foi feita a última vistoria sobre embarcações que usam a Billings nem qual a periodicidade. Somente informou que ações de fiscalização são realizadas em toda a extensão da orla da Baixada Santista, represas, lagos e rios, seguindo planejamento mensal estratégico.

O órgão federal afirmou ainda que a não divulgação de datas e locais de vistorias têm como objetivo causar efeito surpresa, considerado essencial às fiscalizações. O trabalho é realizado por terra e água por equipe de inspeção naval composta por três militares.

Enquanto a fiscalização de embarcações na Billings é falha, os banhistas vivem sob risco iminente. "É perigo total. Os jet skis passam muito perto da gente. Ficamos com medo, ainda mais porque trago criança. Deveria ter lugar especial para andar com isso", reclamou Diego Rodrigues, 26 anos, que acompanhava mulher e filha.

Habilitação

Não é necessário passar por prova prática para obter habilitação para pilotar jet ski. A pessoa que deseja utilizar o equipamento faz exame escrito aplicado pela Capitania dos Portos. Para receber o documento é necessário apresentar cópia de documentos pessoais, atestado médico que comprove bom estado psicofísico, aprovação na prova escrita, além de pagamento de taxa no valor de R$ 40.

Os pilotos  flagrados em habilitação poderão ter a embarcação apreendida. O proprietário multado ainda corre risco de ter a carteira suspensa. As multas variam entre R$ 40 e R$3.200 por infração.

Manutenção é essencial para evitar acidentes

A manutenção correta do jet ski é uma das formas de evitar acidentes com esse tipo de embarcação, segundo o especialista no equipamento André Luís Martin Ramalho. Um dos principais problemas ocasionados pela falta de manutenção afeta a manopla do acelerador, que pode travar.

Caso isso aconteça, a única forma de parar o equipamento é puxando a chave de ignição, com cordão de segurança que fica preso ao braço ou colete do piloto, ou utilizar outro jet ski para chegar próximo à embarcação desgovernada e desligar o motor. "Se a chave ficar presa no guidão, vai permanecer acelerado até colidir com outro objeto ou parar na margem."

O especialista explicou que os equipamentos mais modernos já possuem freio, mas os jet skis antigos, como o que era usado no acidente que causou a morte do menino Mitchill, domingo, em Ribeirão Pires, não contam com esse sistema e só podem ser paralisados por meio da desaceleração. "Isso faz com que vá parando devagar e diminuindo a velocidade, mas não paralisa imediatamente", explicou Ramalho.

O especialista afirmou que a embarcação só pode virar caso aconteça erro humano. "Dificilmente um jet ski tomba sozinho. Isso só acontece por interferência do piloto. Se ele estiver parado na água, pode passar navio ao lado que não irá tombar. Isso acontece quando o guidão é manuseado de forma errada", afirmou.

Billings tem histórico de tragédias com veículos aquáticos

A morte do menino Mitchill Guilherme de Carvalho, 9 anos, após acidente com jet ski não é algo inédito na história da Represa Billings. O reservatório já registrou outros episódios com vítimas fatais envolvendo este tipo de embarcação.

Em fevereiro de 1997, um jet ski atropelou a estudante Gesielle dos Santos Varôlo, 13 anos, que também nadava na Prainha do Tahiti. No momento do acidente, o piloto fugiu e não prestou socorro à vítima. O corpo da garota só foi encontrado após cerca de 24 horas de buscas.

No mês de maio do ano passado, o jovem Ewerthon Nunes do Santos, 12, morreu afogado após cair de jet ski na Billings. O garoto estava acompanhado de Thiago da Silva Pereira, 13, e brincavam na beira da represa quando avistaram o mecânico Marcelo Rodrigues Cervantes saindo da água com o veículo e pediram para dar uma volta. Cervantes atendeu o pedido dos meninos e os levou para um passeio, sem colete salva-vidas.

Durante o trajeto, o jet ski virou. O mecânico só conseguiu salvar Thiago. O corpo de Ewerthon foi encontrado após quatro dias de buscas.

Em seu depoimento à Polícia Civil, Cervantes assumiu negligência e foi indiciado por homicídio.




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