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Marisa Orth sem papas na língua
Luiz Almeida
Da TV Press
16/04/2006 | 11:21
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Marisa Orth não gosta de fazer rodeios. Responde de maneira direta cada uma das perguntas. Por isso, não esconde que estar na pele da beata Úrsula Lane da novela Bang Bang tem sido motivo de algumas alegrias e de muitas tristezas. Sem papas na língua, ela conta que as diversas turbulências que atingiram a trama foram uma grande decepção. “Não tivemos nenhum atrito na equipe. Mas a saída repentina do Mário Prata fez com que o trabalho degringolasse”, afirma. Já a maior recompensa foi contracenar com atores como Ney Latorraca e Joana Fomm.

Apesar dos problemas e da correria das gravações, Marisa consegue enxergar momentos distintos de sua personagem na trama. Ela acredita que a entrada de Carlos Lombardi acabou fazendo com que Úrsula “saísse do armário” e se revelasse uma verdadeira devassa. Com 16 anos de carreira na TV, Marisa conta que, apesar dos percalços, se divertiu bastante em dar vida à falsa beata. Em sua quarta novela, a atriz acredita que seu trabalho foi reconhecido.  A seguir, trechos da entrevista:

PERGUNTA: No fim de Bang Bang, que balanço você faz?
MARISA ORTH: Foi interessantíssima de fazer. Na verdade, foi um projeto inesquecível por uma série de razões. A idéia original era ótima e a possibilidade de encontrar atores com quem nunca havia contracenado foi um dos melhores aspectos, além de ter passado por momentos de grande diversão. Apesar de todos os problemas, não houve nenhum atrito entre as pessoas que se dedicaram ao longo do tempo à novela. Tivemos, é claro, problemas com o autor, que nos deixou meio fritos nas mãos da produção. Como não tínhamos os capítulos com antecedência, tudo ia se degringolando. Mas isso deu mais união à equipe.

PERGUNTA: Com a saída de Mário Prata e a entrada de Márcia Prates, não existiram muitas mudanças com sua personagem. Mas assim que Carlos Lombardi assumiu a trama, a Úrsula ganhou novos contornos.
MARISA ORTH: Desde o início, eu imprimi uma personalidade forte a Úrsula. A caracterização sempre foi feita de maneira exagerada, já que a personagem pedia isso, beirando a caricatura. À medida que os autores foram trocados, eles respeitavam a maneira que eu interpretava. Tanto que acredito que fui uma das que menos sofreu com as mudanças de autor. Agora para o final é que ela se revela uma grande devassa. Mas acho que isso era para acontecer mesmo, era até previsível a idéia de transformar aquela beata numa mulher mais ousada. Mas ela manteve a coerência. Mesmo tendo se transformado numa verdadeira devassa, como está acontecendo agora, ela continua sendo uma pessoa radical. Se ela precisa ser uma devassa, ela será a mais devassa. Se voltar a ser uma beata, será novamente das mais ferrenhas. Se fosse uma surfista, ela iria logo pegar uma onda de dez metros e não uma marolinha.

PERGUNTA: O que é mais interessante numa devassa criada por Carlos Lombardi?
MARISA ORTH: Reconhecidamente ele é anárquico, corajoso. Ao mesmo tempo, tem muito ritmo e humor, um estilo muito próprio. Não sei se ele está gostando ou não da minha interpretação, mas procuro fazer a Úrsula de uma forma um pouco crítica, colocando meus próprios comentários de atriz, seja através de gestos ou tom de voz.

PERGUNTA: Além dos problemas com as trocas de autores, a novela também patinou na audiência. O público não se acostumou com o universo de faroeste?
MARISA ORTH: Desde o início, a proposta era fazer um trabalho mais ousado, diferente. É claro que não é uma novela com mocinhos e vilões muito bem definidos. Assim que entrei, perguntei ao Ricardo Waddington se a Úrsula seria má ou boazinha. Ele, então, me disse que não existiriam personagens maus ou bons. Isso é um ataque aos paradigmas da teledramaturgia, que sempre se utiliza daqueles vários arquétipos. Acho que foi uma renovada. A proposta era inovadora, mas ao mesmo tempo velha, pois já não se fazem mais filmes sobre o Velho Oeste. Só lamento ela não ter sido mais crítica com a realidade brasileira, como citar os escândalos nacionais do mensalão, por exemplo. Mesmo com tudo isso, acredito que atingimos marcas ótimas, embora não correspondesse com as médias do horário. Acho que o público gostou e está gostando sim da novela.

PERGUNTA: O atraso de capítulos e a rotina de corre-corre nas gravações de Bang Bang chegaram a atrapalhar muito?
MARISA ORTH: Em termos de vida pessoal, é horrível essa correria. Tudo é imprevisível. O filho tem de entender, os amigos e namorado, também. Mas novelas são assim. Toda vez que a gente se propõe a fazê-las, damos bye bye, temos de nos desligar de vários compromissos e abdicar de muitas coisas.

PERGUNTA: É por isso que, em 16 anos de carreira na TV, você fez apenas quatro novelas?
MARISA ORTH: Novela é um trabalho absurdo, a gente se dedica por oito ou nove meses sem saber se vai dar certo. É um internato. Quero dar um tempo, mas devo voltar a fazer. Já nos seriados e outros programas estive mais presente. É um tipo de trabalho mais bem cuidado.

PERGUNTA: A Úrsula ajudou você a deixar de ser identificada como a Magda do Sai de Baixo, personagem que encarnou durante seis anos consecutivos?
MARISA ORTH: É engraçado. Até hoje, algumas vezes, ainda me chamam de Magda, embora também já percebam que estou fazendo uma outra personagem. Mas desde a estréia da novela, as pessoas passaram a me associar à Úrsula e chamam pelo nome dela. As crianças, por exemplo, me chamam de Urubúrsula. Isso é muito bom!

PERGUNTA: Você temeu que parte do público achasse que a Marisa Orth era uma mulher fútil e ignorante por ter feito durante tanto tempo a Magda?
MARISA ORTH: Receio eu não tive. Acontece, porém, que a Nicinha de Rainha da Sucata também marcou bastante e aconteceu a mesma coisa. Mas a Magda foi mais forte, foram vários anos. Agora, não me preocupo com isso, já que foi uma combinação de vários fatores para que eu ficasse marcada por essas duas personagens. Foram trabalhos que deram muito certo. Acredito que ainda tenho muitas outras personagens para interpretar na TV.

PERGUNTA: O que mais lhe agradava em fazer a Magda?
MARISA ORTH: Foi maravilhoso fazer TV no teatro. O que a gente percebia que dava certo lá no palco, com certeza também daria no Brasil inteiro. Além disso, o programa me deu uma cancha tremenda, já que a gente fazia uma peça por semana. Foi um doutorado em comédia.

PERGUNTA: Você esteve à frente da primeira edição do Big Brother Brasil e também participou do Saia Justa, do GNT. O que achou dessas experiências?
MARISA ORTH: O primeiro foi desastroso e desde o início sabia que não daria certo. Não sou apresentadora. Já o segundo foi muito bacana. Estava ali para debater, não era para apresentar. Gostei de mediar as discussões, ouvir os lados conflitantes. Percebi que sou uma boa mediadora e organizava bem as conversas.




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