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No combate ao câncer, criança é mais guerreira
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
15/08/2010 | 07:01
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Por semana são registrados até dois novos casos de câncer infantil no Grande ABC. Essa é a média do atendimento feito no ambulatório de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC. Segundo o responsável pelo ambulatório, Jairo Cartum, o número pode ser maior. "Há os casos de outros hospitais da região ou em São Paulo. Por isso, não há como contabilizar."

Para o especialista, o número de incidência em crianças e adolescentes é de 1 para 600.
Os tipos de câncer mais comuns são leucemia, tumor cerebral e linfomas. A boa notícia é que há mais diagnósticos precoces. Tanto que o índice de cura, que antes era de 20% nos anos 1970, chega a 75%. O ambulatório atende, em média, 15 consultas diárias e hoje há 40 crianças fazendo quimioterapia.

Uma delas é Juliana Santos de Souza, 10 anos, de Santo André. O drama da família começou em abril. "Ela acordou bem e no fim do dia apareceu com o braço esquerdo inchado. Pensei que era picada de inseto. Quando soube que era tumor no antebraço fiquei chocada. Entreguei na mão de Deus", lembra a mãe, a professora Valdinéia Santos Cruz, 41. Ao falar da doença, Juliana transmite esperança no olhar. "Sigo com a vida, faço minhas coisas, gosto da minha peruca e tenho até professora particular para não perder o ano", conta a tranquila garota enquanto realiza sessão de quimio.

A história de Igor de Souza Filgueiras, 11, de Santo André, não é diferente. "Adoro jogar videogame e não consigo ficar parado", comenta, com jeito tímido.

No fim de julho, a família recebeu a confirmação do diagnóstico. "Em março, ele teve febre e dor de cabeça. Depois, o olho começou a ficar inchado e uma pele saltou. Algo que parecia simples se tornou um pesadelo", recorda a mãe, a doméstica Rosimary Souza, 41. Para melhorar o atendimento, o ambulatório - que não tem ares de hospital - ampliou o horário.

 

Rotina deve ser o mais normal possível

A gravidez da auxiliar administrativa de São Bernardo Karina Galdino da Silva, 26 anos, trouxe desafio. Durante ultrassom, em junho do ano passado, foi diagnosticado um nódulo na glândula suprarrenal do feto. "Procurei outros especialistas que confirmaram e disseram ser caso raro. Fiquei abalada, mas sabia que traria um aprendizado."

Para a diretora do departamento de oncologia pediátrica do Hospital AC Camargo, centro de referência em câncer, em São Paulo, Cecília Maia Lima da Costa, nesse caso a doença surge logo na formação do embrião. Vale lembrar que qualquer câncer é a multiplicação desordenada de células.

Desde os 29 dias de vida, Guilherme Andrade Silva, hoje com 1 ano e dois meses, se trata no AC Carmago. "Parei de trabalhar para me dedicar exclusivamente a ele. Aos quatro meses um nódulo atingiu a outra glândula e precisou de cirurgia. Ele ficou internado e depois íamos quase todos os dias no hospital , agora é mais esporádico. É longa a viagem. De carro leva 50 minutos e de ônibus, duas horas", conta Karina.

O ano de 2009 não foi fácil para a família de Karina que teve de lidar com a notícia de mais um caso na família. "Minha tia descobriu a doença, após retirar um cisto no ovário", diz Karina. A tia, a dona de casa Angela Maria Galdino de Souza, 46, também realiza o tratamento no AC Camargo.

Guilherme e Angela fazem parte dos 8% de pacientes do Grande ABC atendidos pelo hospital paulistano. Por isso, em 2009 foi inaugurada uma central de quimioterapia em Santo André - o local não atende oncologia infantil. Assim, a tia de Karina consegue realizar o tratamento na região.

A unidade foi construída a partir de estudo de 2008, que apontou 7.000 casos por ano no Grande ABC, destes, 2.154 precisam de quimioterapia. (Bruna Gonçalves)

 

Aos 3 anos, Keila já enfrenta a maior batalha de sua vida

Com olhar profundo e sem dizer uma palavra. Foi assim que Keila Santos Dias, 3 anos, recebeu a equipe do Diário na manhã de quinta-feira no Hospital AC Camargo, em São Paulo.

Durante o tempo em que a equipe permaneceu no quarto, a pequena só desgrudou da boneca para colorir um desenho.

Falar da trajetória - dos primeiros sintomas até o atual estágio - emociona a mãe, a dona de casa Fabiana Souza Santos, 27 anos, do Capão Redondo, Zona Sul da Capital. "Nunca imaginaria que febre e dor no tórax direito poderiam indicar tumor no pulmão", conta Fabiana, que notou os sintomas no início do ano. "É o primeiro caso na família. É muito difícil, ainda mais por ser com criança."

O diagnóstico foi rápido e logo Keila foi encaminhada para o hospital. "Ver sua filha entubada durante três meses, por dificuldade de respirar e não conseguir se mexer, é algo que ninguém imagina. Depois, vêm as sessões de quimioterapia e radioterapia. Não é fácil", fala, com os olhos cheios d'água.

Fabiana aguarda ansiosa a última sessão de quimioterapia para a filha passar por avaliação do estágio da doença. (Bruna Gonçalves)

 

Vivência na sala de aula ajuda paciente

Imaginar sala de aula dentro de hospital pode parecer estranho. Mas, segundo Vivian Mendes Costa e Silva, professora da classe hospitalar localizada no corredor da internação infantil do AC Camargo (que conta com 36 leitos), o ambiente ajuda no estado emocional dos pacientes. "Proporciona contato com a realidade. Elas se arrumam para vir até a classe, conhecem novas crianças, brincam, tem livros, jogos, computador, além do acompanhamento pedagógico."

Julia Nardi, 9 anos, diz que faz bastante amigos. "Quando fico internada é bem legal estar aqui", diz a menina, toda vaidosa. Há sete descobriu que tinha leucemia, houve remissão, mas voltou há três anos.

"Foi muito cruel a notícia, mas o atendimento proporcionado pelo hospital e o local para entretenimento das crianças são muito importantes", fala a mãe, a autônoma Rosemari Terezinha Nardi, 34, de Guarulhos.

Gustavo Gomes Miranda, 10, se diverte no computador. Para a tia, a camareira Sheila Maria Gabriel Araújo, 22, de Ermelino Matarazzo, Zona Leste, esse contato com outras crianças ajuda no tratamento. (Bruna Gonçalves)

 

 ‘Recebi alta hoje. Estou feliz, mas vou sentir saudade das pessoas'

Os pais não medem esforços para ver os filhos bem. E quando se trata de saúde são capazes de qualquer coisa para buscar o melhor serviço.

Viajar a cada 21 dias para trazer o filho ao Hospital AC Camargo, em São Paulo, faz parte da rotina da bancária de Araraquara, interior de São Paulo, Rita Maria Ravena, 41 anos. O filho Pedro Ravena, 7 anos, se queixou de dor de dente, em outubro do ano passado.
"Levei no dentista e não era nada. Procurei especialistas e em menos de um mês ele já estava realizando a primeira sessão de quimioterapia para tratar o tumor na mandíbula. Foi uma loucura", lembra a mãe, que não entende como algo pode surgir tão de repente.

O responsável pelo ambulatório de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC, Jairo Cartum, afirma que o tumor infantil avança rápido.
"Ao contrário do adulto, que se desenvolve lentamente, o da criança é veloz. Por isso é importante o diagnóstico precoce. Se alguns sintomas, como dor de cabeça, se tornar frequente é preciso levar ao pediatra", explica o médico.

Foi por uma batida da prancha no joelho que Macio (sem o R por erro no registro no Cartório) Mota Nobre, 11, da Praia Grande, Baixada Santista, descobriu tumor no fêmur.
"Estava surfando quando me machuquei e reclamei para o meu pai. No médico descobri o que tinha, vim para São Paulo há seis meses, fiz a cirurgia e recebi alta hoje (quinta-feira). Estou muito feliz, mas vou sentir saudade das pessoas", conta o menino. (Bruna Gonçalves)




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