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Charles Gavin elege 300 álbuns da música brasileira
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
02/11/2008 | 07:08
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Pesquisador criterioso e defensor incansável da memória da MPB, o baterista dos Titãs, Charles Gavin, idealizou o livro 300 Discos Importantes da Música Brasileira (Paz e Terra, 434 págs., R$ 230). Para concretizar o projeto, convidou os jornalistas Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, que se alternaram nas resenhas dos álbuns selecionados.

Os textos, que também contaram com as colaborações de Caetano Rodrigues, Valdir Siqueira e Zeca Louro, abordam gravações produzidas por artistas referenciais no período entre 1929 e 2007. Parte da renda obtida com a venda da obra será destinada ao Instituto Sou da Paz. "Esse livro é uma extensão do meu trabalho de pesquisa. Pensei em fazer algo que funcionasse como um painel, com os discos que qualquer pessoa deve ter", explica o músico, que há dez anos recupera preciosidades esquecidas nos acervos das gravadoras.

A estréia de Gavin como ‘arqueólogo musical' foi com o relançamento dos dois primeiros discos do grupo Secos & Molhados, que retornaram às prateleiras das lojas reunidos em um CD.

O titã fixou o número de obras escolhidas inspirado pelo Calendário do Som, livro que reúne 365 composições de Hermeto Pascoal (uma para cada dia do ano). "Primeiro, achei que falar sobre 100 ou 200 discos seria insuficiente. Depois, lembrei do Hermeto, que teve uma idéia genial, mas não quis copiá-lo. Então, pensei que colocar 300 poderia ser bacana."

Colecionador voraz, Gavin não sabe exatamente quantos discos tem. "Já parei de contar, mas acredito que tenha em torno de cinco mil. Ganhei muita coisa do Sérgio Britto (vocalista e tecladista dos Titãs), quando ele teve um filho e precisou tirar os discos do apartamento dele. A Malu (a atriz Malu Mader, mulher do guitarrista Tony Belloto) doou a coleção dela."

Diversidade - Fiel à pluralidade do cenário musical brasuca, a obra - repletas de ilustrações das capas de todos os álbuns e fotos inéditas - enfatiza obras-primas de medalhões de diversos gêneros. Há espaço para o soul de Tim Maia, apresentado em sua fase mística (Tim Maia Racional, de 1975), o vanguardismo de Itamar Assumpção (Beleléu, Leléu e Eu, de 1981) e o rock messiânico de Raul Seixas (Krig-ha Bandolo!, de 1973). Como bônus, dois CDs antológicos foram encartados e poderão ser ouvidos pelos leitores: O Último Malandro, lançado pelo sambista Moreira da Silva, em 1959, e Elza Soares e Wilson das Neves, gravado pela intérprete e o baterista em 1968.

A geração roqueira dos anos 1980, da qual Gavin faz parte, marca presença com os Titãs (Cabeça Dinossauro), Legião Urbana (Dois), Barão Vermelho (Maior Abandonado), entre outros grupos daquela fase. "Não existe razão para não considerar o rock como uma música brasileira também", resume o baterista, que se divide entre os shows da banda, as pesquisas e a apresentação do programa Som do Vinil, exibido pelo Canal Brasil.

Além dos 300 discos citados, cada colaborador do projeto fez uma relação com 30 álbuns que, apesar de importantes, ficaram de fora. "Tem vários artistas que eu achava que deviam ter entrado. Na minha lista tem o Carlos Daffé, um compositor dos anos 1970 que fazia uma fusão de samba e soul. Ouvia muito esse cara."

Titãs - Após comemorar 25 anos de carreira, ao lado dos Paralamas do Sucesso, os Titãs assinaram contrato com a Arsenal Music, do produtor Rick Bonadio. A banda está em fase de produção de um CD de inéditas, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2009. Logo no início do próximo ano, em 16 janeiro, será lançado em circuito nacional o documentário Titãs - A Vida Até Parece uma Festa, dirigido por Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves.

Em uma das cenas do filme, Gavin se desentende com o produtor Liminha, durante as gravações do disco Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987). "Nós músicos temos um ego muito grande, e nessa época eu estudava bateria com um cara que considero um mestre. Estávamos gravando Violência Gera Violência, uma música minha, e eu quis dar uma de virtuose. O Liminha me deu uma bronca e perguntou: ‘Você acha que está tocando no Yes?' Aprendi uma lição muito boa, e é legal que as pessoas vejam isso."




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