Economia Titulo Fatalidade
Acidente mata repórter do Diário

Jornalista Leone Farias andava de bicicleta na Avenida Goiás, em S.Caetano, quando foi atropelado por caminhão-tanque na manhã de ontem

Caroline Garcia
Do Diário do Grande ABC
09/01/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Leone Farias, jornalista do Diário, foi vítima fatal de acidente de trânsito quando pedalava pela Avenida Goiás, em São Caetano, na manhã de ontem. Aos 48 anos, – 17 deles na editoria de Economia do jornal – o profissional deixa mulher e dois filhos.

Costumeiramente, Leone andava de bicicleta pelo local. Ontem, por volta das 6h45, ele seguia no sentido Santo André-São Caetano e, na altura do número 3.499 da via, próximo à USCS (Universidade Municipal de São Caetano), teria se desequilibrado e caído da bicicleta no mesmo momento em que passava um caminhão-tanque, que o atropelou.

De acordo com depoimento prestado pelo motorista do veículo, Sérgio Zanetti, 50, eles já teriam se emparelhado algumas vezes desde a Avenida Dom Pedro II, em Santo André. Já na Avenida Goiás, o caminhão, que pertence à empresa de rede de postos de combustíveis Agrisal, teria ultrapassado a bicicleta do jornalista e seguia em velocidade baixa devido ao semáforo fechado à frente.

Ainda segundo o boletim de ocorrência, quando o sinal abriu, o motorista prosseguiu, mas foi alertado pela buzina de outros carros. Ao olhar pelo retrovisor direito, viu a bicicleta no chão. Zanetti parou o veículo e encontrou o jornalista caído sob o sétimo eixo do caminhão, já sem vida.

O delegado do 2º DP (Santa Maria) de São Caetano, Hildo Estraioto Júnior, afirmou que o motorista não apresentava qualquer sinal indicativo de ingestão de bebida alcoólica. Os documentos, tanto do veículo como o de Zanetti, estavam em dia.

“Tudo indica que foi uma fatalidade. Por algum motivo ele (Leone) se desequilibrou da bicicleta e acabou caindo debaixo do caminhão. Vamos, agora, analisar as câmeras de vigilância do local e falar com possíveis testemunhas do acidente”, disse o delegado.

O caso foi registrado como homicídio culposo, sem intenção de matar. Procurado pela equipe de reportagem, o advogado da Agrisal não foi encontrado até o fechamento desta edição.

TRAJETÓRIA

Formado pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) em Jornalismo e Sociologia, Leone se destacou ao longo dos seus 17 anos como profissional do Diário, emplacando grandes reportagens de repercussão regional e nacional nas áreas petroquímica, automotiva, sindical e de micro e macroeconomia.

O profissional passaria o mês de janeiro de férias. Na segunda-feira, foi publicada reportagem de sua autoria que destacava ações de gestores de pequenas empresas para driblar a crise.

HOMENAGEM

A mulher de Leone, Sílvia Farias Ropero, 45, enalteceu as qualidades do marido. Vou morrer de saudade do seu companheirismo, sua amizade, seu humor. Como eu tenho orgulho dele! De todas as superações, das vezes em que enfrentou seus medos. Ele é um exemplo para mim. Ouvimos muitos elogios sobre sua integridade e profissionalismo. Mas, para nós, seu maior exemplo foi o de pai e marido. Com muita paciência e dedicação nos ensinou sobre honestidade, comprometimento, bondade, serviço e humildade. Foi o melhor homem que conheci. Meu grande amor.”

Leone deixa a filha, a também jornalista Caroline Ropero Medeiros Pájaro, 25, e o filho Lucas Ropero Farias, 10.

O enterro do jornalista será hoje, às 11h, no Cemitério do Morumbi, na Capital.

 

Falhas no asfalto são alvo de queixas de comerciantes da localidade

O local onde aconteceu o acidente que vitimou o repórter do Diário Leone Farias é repleto de desníveis no asfalto. Pessoas que trabalham nas proximidades reclamam das diversas ondulações na pavimentação, propícias a causar ocorrências, principalmente ao tentar desviar delas.

“Duas vezes por mês tem batida de carro por aqui. Onde o ciclista caiu está tudo ruim”, falou um funcionário da concessionária localizada em frente onde se deu a fatalidade e que, abalado, preferiu não se identificar. O homem conta que Leone pedalava na faixa branca da avenida, que fica bem próxima à guia e rente onde passam os veículos. “Acho que ele foi desviar dos buracos e acabou se desequilibrando, caindo para debaixo do caminhão que passava, quase parando, já que o semáforo estava fechado”, disse o funcionário. “Os peritos disseram que, pela posição da bicicleta, dá a entender que as ondulações fizeram ele perder o controle”, completou. No boletim de ocorrência, consta que a bicicleta apresentava danos aparentes apenas no selim, restando intactos demais componentes, “sugerindo que o caminhão não passou por cima dela.”

A atendente da loja de conveniência do posto de combustíveis instalado na área Vanusa Sampaio, 44, compartilhou da reclamação do asfalto. “Não dá para passar em alta velocidade com esse monte de ondulação”, comentou, lembrando que Farias esteve no estabelecimento na quarta-feira, de bicicleta, para comprar água. “Ficamos todos abalados.”

Procurada para comentar se há projetos de melhoria para a via, a Prefeitura de São Caetano afirmou que o local faz parte do Programa Asfalto Novo, que entrará em nova etapa em breve. 

 

Grande ABC mantém 37,78 quilômetros de ciclovias

O Grande ABC possui 37,78 quilômetros de ciclovia, faixa fixa destinada exclusivamente aos ciclistas. Os números são considerados tímidos pelos especialistas ouvidos pelo Diário. Em resposta, as prefeituras destacam ter planos para ampliar os espaços.

Santo André é a cidade responsável pela maior extensão, com 19,38 quilômetros, incluindo a Avenida das Nações, Estrada do Pedroso, Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, entre outras. Há previsão de que a cidade chegue até o fim de 2016 com 23,68 quilômetros de vias.

Mauá conta com 11 quilômetros de ciclovia, que funciona com restrição de horário na Avenida Papa João XXIII, Rua Santa Helena, Avenida Washington Luiz, entre outras. A cidade estuda a construção de mais vias, mas não tem nenhum projeto em andamento.

São Caetano possui três quilômetros de ciclovia na Avenida Presidente Kennedy. O município iniciou, em agosto de 2015, o Plano Municipal de Mobilidade Urbana. O documento, que deve ser concluído em agosto, indicará onde são necessárias espaços do tipo.

Diadema tem apenas uma ciclofaixa, na Avenida Paranapanema. Em Rio Grande da Serra, a implantação de ciclovias está incluída no plano de mobilidade urbana, mas não foram fornecidos prazos. As demais cidades não responderam, porém, segundo o último levantamento do Diário, São Bernardo tinha 4,4 quilômetros.

“Os ciclistas precisam se sentir seguros para andar nas vias. Hoje, eles não têm confiança para andar no trânsito e a ciclovia, que deve interligar a maioria dos locais, deve oferecer isso”, disse o professor de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Paulo Bacaltchuck.

Para o chefe do departamento de Medicina de Tráfego da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) Dirceu Rodrigues Júnior, o número de ciclistas cresceu e as vias não acompanharam.

O responsável pela divisão operacional da PM (Polícia Militar) na região, capitão Vlamir Luz Machado, afirma que há necessidade de educação no trânsito. “Os veículos precisam respeitar a bicicleta, além de manter a distância de um metro e meio”, afirmou.

ACIDENTES

Este é o segundo acidente com vítima fatal envolvendo bicicletas no Grande ABC nesta semana. Um menino de 13 anos perdeu a vida em Santo André, na quarta-feira, quando voltava para casa após passeio com a família.

São Caetano não registrava acidentes fatais com ciclistas desde 2014. Santo André observou 65 acidentes em 2014 e 52 em 2015, sendo um fatal. Em Mauá, foram 15 ocorrências em 2014, sendo uma morte, e 12 no ano passado.

Colaboraram Vanessa de Oliveira e Yara Ferraz




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