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História que emociona
Por Mariana Trigo
Da TV Press
23/02/2008 | 07:00
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Dan Stulbach sempre foi inquieto. Desde criança, quando era melhor aluno no colégio, o ator paulistano gostava de dar idéias em sala de aula. Apesar da timidez, percebeu que sua carreira seria viver vidas paralelas e aprender a interpretar não só os personagens, mas o que acontecia ao seu redor. Foi dessa forma que sugeriu à autora Maria Adelaide Amaral que seu livro Aos Meus Amigos renderia uma minissérie. De carona, o ator de 38 anos arrecadou Léo, protagonista da obra adaptada, batizada de Queridos Amigos. Dan voltou no tempo ao se identificar com a história, que retrata com uma lente de aumento a amizade de um grupo de jovens idealistas do final dos anos 1980.

 
Na trama, o publicitário, escritor e fotógrafo Léo descobre que está com esclerose múltipla, doença sem tratamento. Com a notícia, busca viver intensamente. Confira os principais textos da entrevista:
 
Você deu a idéia para a Maria Adelaide Amaral transformar em minissérie o livro Aos Meus Amigos, escrito por ela. Como aconteceu?
DAN STULBACH – Ela me chamou para a casa dela para conversarmos sobre Nassau, a minissérie que estava programada para ela fazer, mas que não foi aprovada pela Globo. Eu ia protagonizar esse trabalho. Quando ela disse que essa produção tinha sido cancelada, conversamos muito. Falei que tinha lido um livro muito bonito dela, que abordava a década de 1980, com um assunto pouco tratado na televisão: a amizade. Dois dias depois, ela me ligou e disse que faria a minissérie.
 
O Léo é um personagem que precisa viver tudo intensamente. Você passou a enxergar a vida de uma forma mais urgente com esse papel?
STULBACH – Comecei a pensar mais nos meus amigos de infância e a questionar o equilíbrio de tempo que dispomos aos amigos e ao trabalho. Fiquei mais ligado nas pessoas, encontrando-as mais. Tentando viver mais intensamente.
 
Além do livro, como foi a composição do Léo?
STULBACH – Vi um documentário do Henfil e do Betinho que foi muito emocionante, não parava de chorar. Pensei mais sobre o que eu fazia naquela época, falei com pessoas que participaram daquele período. Reli o Aos Meus Amigos, li livros marcantes naquela época como Cartas, do Caio Fernando Abreu. Foi uma geração que se ferrou com a ditadura, mas sonhou, construiu. Teve o Diretas Já, o sonho de votar para um presidente, de poder mudar. O sonho de Léo fazia parte de um sonho coletivo.
 
A trama se passa em 1989, ano em que você entrava na Escola de Arte Dramática da USP. Você se assemelhava com algum personagem da minissérie?
STULBACH – Com muitos. Eu vivia intensamente porque era adolescente. Tinha acabado de chegar dos Estados Unidos, onde fiz o colegial e fui fazer teatro. Foi o início das minhas idéias políticas na eleição de 1989. Fui em comícios. Aquilo acontecia pela primeira vez para o Brasil e para mim. Foi uma década muito intensa, tive o primeiro namoro longo e assumi que poderia ser ator, o que era inimaginável.
 
De que forma você se interessou pela atuação?
STULBACH – Não sei porque um dia fui fazer um teste para o grupo de teatro do colégio. Entrei e foi o máximo para mim. As pessoas adoravam o que eu fazia. Foi um encontro humano. Foi o teatro que me ajudou a me entender. Eu era muito tímido.
 
Você estreou na TV como o Craft, de Os Maias (2001), mas só foi reconhecido como o Marcos de Mulheres Apaixonadas. Por que levou tanto tempo para chegar à TV?
STULBACH – Não sei. Quando morei em Nova York, fiz um curso de teatro e fui chamado para fazer um seriado numa TV americana. Não quis porque não conseguiria mais ficar longe das pessoas que amo. Voltei, continuei a fazer teatro e recebi o primeiro convite para ir para a TV no Brasil. Fiquei assustado. Tinha 20 anos. Tive medo. Achava que não era bom o suficiente. Por isso, bati na porta do Teatro Cultura Artística (em São Paulo) para trabalhar como contra-regra. Por medo de ser ator, fui varrer o chão, trabalhei como cenógrafo, aprendi a fazer iluminação. Com 23 anos, fui convidado a fazer a Oficina de Atores da Globo. Fui contratado por um ano e a TV me chamou para ser assistente de aulas de interpretação. Fui professor de interpretação da Globo em São Paulo por 11 anos.
 
O Marcos foi o personagem que revelou você para o grande público. O que mudou na sua carreira após esse trabalho?

STULBACH – Ele foi o mais marcante. Foi o primeiro personagem grande na TV. Mudou tudo. Por ser o primeiro, as pessoas me relacionavam imediatamente àquele cara. Não tinham outra referência minha. Eu não imaginava que seria tão duro. Não sentavam do meu lado no avião, mudavam de calçada quando me viam, passaram a não me atender em restaurante, em loja, me tratavam mal, levei ‘guarda-chuvada’, ‘jornalada’, beliscão. As pessoas tinham medo. Uma vez, cheguei para tomar café-da-manhã num hotel e todas as pessoas se levantaram e foram embora (risos). Era uma comissão de mulheres. Com esse personagem, ganhei 14 prêmios, foi um reconhecimento maravilhoso. Teve esse tesão também. Fui cercado de carinho. Dei muita sorte.




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