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Cinema de Trincheira luta contra o 'paitrocínio'
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
16/03/2002 | 16:47
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  Eles são jovens, cineastas e rebeldes. Querem chacoalhar o cinema brasileiro com filmes baratos contra a "mesmice de temas", levando em conta estética e conteúdo. Seu manifesto chama-se Cinema de Trincheira, proposta para uma produção independente auto-sustentável no país e que visa retorno financeiro gastando só o necessário. O Grande ABC seria uma das frentes dessa batalha contra filmes que estariam “mimados pelo paternalismo governamental” e que só serviriam para promover o “egocentrismo de realizadores”.

Nessa luta reconhecida como de longo prazo, Fabrizio Fernandes, de Santo André, e André Kapel Furman, de São Paulo, ambos com 25 anos e cineastas formados pela Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) em 1999, formam um exército de dois soldados. Batizaram sua recém-criada produtora de Trincheira Filmes. Dois curtas-metragens – Noturno, já concluído, e Meio, em finalização – são as primeiras batalhas vencidas.

Depois virá o longa Ego (título provisório em fase de roteiro), uma ficção policial que se passa em unidades do Instituto Médico Legal, a ser realizado junto com um documentário sobre medicina forense. Pólvora Negra é o projeto seguinte. Produção maior e mais ambiciosa, é um filme policial que envolve efeitos especiais de cena e mais personagens. Os dois serão rodados em Santo André e São Bernardo.

O alvo do Cinema de Trincheira é o que Fernandes e Kapel chamam de arrogância da produção brasileira de longas, que age como independente e se comporta como indústria. Para os dois, cinema é produto e tem de ser tratado assim, procurando retorno de público e financeiro. A meta é trabalhar com o essencial no set, sem gastos exagerados e desnecessários.

“Não somos contra nada. Propomos temática nova contra a mesmice de temas. Só estão fazendo filmes históricos, comédias românticas e críticas sociais no Brasil. Que sejam feitos, mas falta ação, terror e outros gêneros que o público gosta. Queremos que esses tipos de filmes sejam oferecidos também. Não somos contra os outros, mas o público precisa ser atendido com boas idéias”, diz Kapel.

Fernandes, que fez produção e uma ponta no fime De Cara Limpa, e Kapel (produção em Memórias Póstumas, e efeitos especiais em Bellini e a Esfinge, entre outros) procurarão patrocínio em empresas e até estão dispostos a gastar do próprio bolso para levar seus filmes adiante. Mas apoio do governo, para eles, é assunto proibido. A dupla é contra a utilização de verbas públicas para filmes. “Não nos sentiríamos bem tirando dinheiro de outras áreas sociais. Filmes de hoje são mais pautados em marketing do que em retorno. Gasta-se mais com marketing do que com a produção porque existem problemas com o filme”, afirma Fernandes.

O patrocínio obtido por meio de leis de incentivo é o ar que a produção nacional respira. Na mira dos entrincheirados está o “paitrocínio” nacional, que dá verba sem exigir retorno. “As leis de incentivo pedem que um filme financiado por empresas seja entregue após concluído, mas essas leis não obrigam que seja entregue um bom filme”, diz Kapel.




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