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Mocidade faz leitura literal do enredo e atrai com efeitos
16/02/2015 | 02:46
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A esperada estreia de Paulo Barros na Mocidade Independente de Padre Miguel não teve o impacto de seus desfiles de anos anteriores. Campeão três vezes nos últimos anos (2010, 2012 e 2014) com apresentações inovadoras, Barros fez uma leitura literal do enredo "Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia", inspirado na música "O Último Dia", do cantor Moska e Billy Brandão.

As alas eram "legendadas" - havia balões como o das histórias em quadrinhos entre elas. Os carros alegóricos também eram explicativos, com inscrições como "motel", no carro que fazia alusão ao trecho da música "trepava sem camisinha", ou "ir ao shopping ou à academia". O público, já acostumado a ser surpreendido por suas ideias originais, ficou decepcionado.

Barros, porém, empolgou nos efeitos especiais. No carro que falava sobre a loucura, os componentes ficavam de cabeça para baixo. O carro sobre o motel, com casais gays e até sexo a três, ganhou muitos aplausos do público. Também causou frisson a alegoria com componentes nus, apenas com tapa sexo, no trecho da música "andava pelado na rua". A roupa da porta-bandeira e da comissão de frente "incendiou", representando o meteoro que se choca contra a Terra, detonando o fim do mundo.

Claudia Leitte, a madrinha de bateria mais esperada, se vestiu com roupa comportada, e não se apresentou para o setor 1, o popular. Passou direto, cercada por seguranças, e terminou de se vestir no recuo da bateria.

Em sua estreia no carnaval carioca, a cantora disse ter ficado emocionada com o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. Logo depois do final, na dispersão, foi rodeada por uma multidão e gritou em coro: "É campeã, é campeã".

Perguntada sobre o que achou da sua estreia na Sapucaí, respondeu: "Foi tudo lindo, estou emocionada até agora. Foi perfeito", disse.

Barros teve duas sortes: foi a primeira escola da noite a se apresentar sem chuva e a primeira em que o carro de som não apresentou problemas. Terminou o desfile aos gritos de "É campeã".

Mangueira

O mesmo não aconteceu com a Viradouro e com a Mangueira. Mais tradicional e mais rica, a Mangueira conseguiu contornar os problemas apostando na emoção extraída de seu enredo autorreferente, e das alusões aos seus símbolos, evocados no samba-enredo: as matriarcas Dona Zica (mulher de Cartola) e Dona Neuma (filha de um dos fundadores), ambas já falecidas, o jequitibá que lhe serve de apelido ("jequitibá do samba"), os trechos de composições de Cartola ("divina dama", "alvorada").

Os componentes driblaram as falhas do som cantando bem alto o samba, em especial o refrão simples e cheio de brios: "Eu vou cantar a vida inteira/ pra sempre Mangueira/ tem que respeitar". A escola foi enxugada esse ano, para que o desfile saísse mais barato. Saiu com cerca de quatro mil componentes - já chegou a ter mil a mais -, o que rendeu leveza às alas.

"A Mangueira é mais Mangueira quando fala de si mesma" - foi o lema traçado para o desfile desse ano. O carnavalesco Cid Carvalho o seguiu à risca "vestindo" a escola de verde e rosa, em variados tons, e distribuindo ícones da Mangueira pelos setores.

O carro que representava as cantoras Alcione, Beth Carvalho, Rosemary e Leci Brandão foi bastante saudado pelo público. Alcione, que demonstrou tensão por conta da chuva ao chegar ao carro, acabou queimando o pé durante o desfile e foi retirada da avenida de cadeira de rodas.

A comissão de frente, a cargo do coreógrafo Carlinhos de Jesus, alusiva à Vó Luciola, parteira lendária do Morro da Mangueira, já prenunciava o desfile emotivo e afetivo, mas de carros pouco luxuosos e sem os efeitos especiais das escolas milionárias.

Na concentração, o presidente, Chiquinho da Mangueira, tentava não demonstrar apreensão quanto à chuva, ainda que a água chegasse ao tornozelo dos componentes. "Deus dá o que a gente pede. Não pedimos tanto a chuva? Não posso reclamar, com tanta gente por aí passando sede. Até porque em 1968 a Mangueira foi bicampeã na Avenida Presidente Vargas debaixo de um temporal", disse, referindo-se à estiagem na Região Sudeste.

Viradouro

Antes da Mangueira, a Viradouro entrou na Marquês de Sapucaí com quase 30 minutos de atraso, por causa do temporal. Embora tenha feito um desfile bonito, acabou prejudicada: a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira fizeram apresentação comedida, ainda que correta, diante dos jurados, para evitar escorregões na pista.

As cuícas tiveram de ser cobertas com sacos plásticos, para que a água não estragasse o couro dos instrumentos. Ao longo dos primeiros 32 minutos da apresentação, o som falhou sete vezes. Mas os componentes e as arquibancadas cantaram à capela o samba-enredo, resultante da fusão de duas composições do sambista Luiz Carlos da Vila (morto em 2008) e adaptado por Gustavo Clarão, presidente da escola e também compositor.

A Viradouro cantou a trajetória do negro no Brasil. O refrão "o samba corre/ nas veias dessa pátria-mãe gentil/ é preciso atitude/ de assumir a negritude/ pra ser muito mais Brasil" pegou. A bateria tocou em ritmo mais cadenciado, em vez do andamento acelerado que se vê nos sambas de hoje. "É um samba à moda antiga, pra acompanhar o ritmo de Luiz Carlos da Vila", disse Mestre Magrão. As paradinhas foram mantidas, mas ganharam ritmo afro.

A escola de Niterói, que voltou ao Grupo Especial depois de três anos na Série A, teve na comissão de frente a atriz Juliana Paes, que estava afastada da agremiação por causa da maternidade. Ela desfilou com o símbolo do fruto da árvore do baobá.




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