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Costumes da Quaresma sobrevivem na região
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
21/03/2011 | 07:00
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Quaresma. Período de 40 dias que antecede a Ressurreição de Cristo, comemorada no domingo de Páscoa, segundo a fé cristã. São 40 dias em que os adeptos do Cristianismo devem se resguardar em retiro espiritual. Nos dias atuais, ainda há quem respeita esse momento.

A dentista Renata Utiama Chiuzini, 29 anos, e o vendedor Ricardo Sitelli, 31, vivem em São Bernardo e, durante a Quaresma, frango e carne não entram no cardápio do casal. A fonte de proteína são os peixes. "Minha família sempre teve o hábito de não comer carne às quartas e sextas-feiras da Quaresma. Há três anos, eu e o Ricardo resolvemos fazer isso nos 40 dias", explica.

Segundo Renata, essa foi a forma encontrada pelo casal de fazer um sacrifício durante a fase que antecede a Ressurreição de Cristo. "Tiramos algo de que gostamos muito de nossa vida cotidiana como meio de refletir a respeito da religião e da fé", afirma.

Para o padre Odair Ângelo Agostín, da Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes, em Diadema, há outras formas de respeitar o período. O religioso avalia que deixar de comer carne pode não ser um sacrifício. "É mais uma forma de economizar, porque a carne está muito cara", brinca.

Na verdade, padre Odair explica que o que importa mesmo é a intenção. "Se a pessoa deixa de comer carne, economiza dinheiro e ajuda um irmão, cumpre o objetivo da Quaresma, que deve ser momento de reflexão sobre o sofrimento de Cristo e do outro", ressalta.

Padre Odair acredita que o costume só é praticado hoje em dia pelos mais velhos. "A juventude, porém, também pode participar. Um bom sacrifício para eles seria ficar sem internet ou celular", sugere.

Deixar de comer chocolate ou beber refrigerante também são jeitos modernos de respeitar a Quaresma.

PASSADO

A aposentada Irineia Fernandes Ribeiro, 65, moradora de Santo André, lembra a época em que Quaresma era coisa séria na família. O costume de resguardar os dias que antecedem a Ressurreição de Cristo veio do avô.

O principal deles era trocar a banha de porco usada para cozinhar por um tipo de óleo gravado nas lembranças olfativas e degustativas de Irineia. "Não sei se era de caroço de algodão ou de milho. Só sei que tinha cheiro e gosto horríveis", relembra.

Ela também recorda o fato de cobrir os santos das igrejas com panos roxos para representar o luto pela morte de Jesus, hábito que poucas igrejas da região conservam.

Além disso, o jejum era algo comum entre os parentes. "Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, inclusive, não se ingeria leite, queijo, ovos ou qualquer tipo de alimento de origem animal. Era muito difícil para as crianças", garante.

Irineia conserva a maneira de não consumir carne apenas na Sexta-feira Santa. "E meus filhos ainda reclamam, pois são todos carnívoros", afirmou. Mesmo assim, ela encontra um jeito de marcar a Quaresma. "Participo da Campanha da Fraternidade na Igreja e faço a reflexão proposta pelo padre, além de praticar a caridade", diz.

Religiões têm diferentes rituais no período

Foram 40 dias do dilúvio.Davi teve seu reinado por 40 anos. Elias caminhou 40 dias no deserto. Jesus ficou no deserto 40 dias e 40 noites. A caminhada do povo de Israel pelo deserto até a terra prometida durou 40 anos.

O número 40 tem simbolismo bíblico e histórico para os cristãos, mas outras religiões apresentam hábitos e costumes diferenciados durante os 40 dias anteriores à Páscoa.

No candomblé, por exemplo, alguns terreiros têm o costume de cobrir suas imagens com panos brancos durante o período, diferentemente da Igreja Católica, que utiliza a cor roxa.

A mãe de santo Marli Raquel Rodrigues do Amaral, ou CF51Mãe Sessé/CF, explica que muitos terreiros permanecem fechados nesta época. "No candomblé respeitamos os 40 dias que antecedem a ressurreição em homenagem ao pai Oxalá", afirma. Oxalá é a entidade associada à criação do mundo e da espécie humana.

Para o judaísmo, há preparação 30 dias antes da Páscoa judaica, festa que comemora a libertação do povo judeu e coincide com o calendário da Páscoa cristã.

O nome Páscoa, inclusive, surgiu a partir da palavra hebraica CF51pessach/CF (passagem), que para os hebreus significava o fim da escravidão e o início da liberdade, marcada pela abertura do Mar Vermelho para que Moisés conduzisse seu povo até a terra prometida.

A festa, segundo o rabino Yosef Tawil, é um jantar especial em família, que dura sete dias. "No período não comemos nada que seja feito com farinha fermentada. É a época de consumir o pão ázimo, que tem na receita farinha de trigo e é assado sem fermento", explica.

A Igreja Evangélica Luterana do Brasil não faz cerimônias específicas durante o período da Quaresma, mas, algumas congregações têm o costume de, na Quarta-feira de Cinzas, colocar cinzas sobre a cabeça do participante dos cultos para lembrar a necessidade do cristão de se arrepender diariamente dos seus pecados.

Outras congregações realizam cultos todas as quartas-feiras, durante os 40 dias.

ORIENTE

No budismo, há um período chamado de Khao Phansaa e conhecido como a quaresma budista. A tradição de refletir sobre a vida e a importância da fé não ocorre na mesma época da católica. Ela começa em julho, quando se inicia o período de chuvas no oriente e os monges se recolhem aos mosteiros, onde permanecem reclusos e em meditação.

O costume remete à época em que Buda se recolhia nos templos para se proteger das chuvas intensas e dos insetos maléficos.




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