Economia Titulo Saúde
Região reduz taxa de episiotomias
Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
02/11/2014 | 07:00
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À medida que as práticas de parto humanizado ganham protagonismo na sociedade, avança também a discussão a respeito da necessidade de diminuir a quantidade de episiotomias. O corte, geralmente feito para aumentar a abertura vaginal e, com isso, facilitar a saída do bebê, deixa de ser procedimento de rotina nas maternidades e passa a ser recomendado apenas em casos de necessidade, mediante comunicação à paciente.

 As maternidades públicas da região já demonstram preocupação para diminuir os índices de episiotomias durante o parto normal, tendo em vista que todos ostentam taxa acima da média recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) – até 15% do total de partos. No entanto, os números das sete cidades são melhores que os observados no País (53,5%), segundo o estudo Nascer no Brasil, realizado pela Fiocruz.

 A melhor taxa do Grande ABC está em São Bernardo, no HMU (Hospital Municipal Universitário). Por lá, a episiotomia é realizada em 32% dos partos normais. O número ainda é considerado alto pela coordenadora da obstetrícia da maternidade, Silvana Giovanelli. A meta é chegar a 25% em 2015. “Não acredito em zerar, até porque as melhores evidências do mundo estão entre 10% e 15%, mas estamos avançando. Em 2009, o procedimento era realizado em cerca de 90% dos partos vaginais”, comenta.

 Diadema e São Caetano adotam o procedimento em aproximadamente 40% dos partos em suas maternidades. “A gente sabe que a quantidade de episiotomias está relacionada à qualidade da assistência obstétrica. Quanto menor o número de procedimentos, melhor é o sistema”, destaca o coordenador da Maternidade de São Caetano, Luiz Eduardo.

 Uma das formas de diminuir as taxas de episiotomias é o investimento em equipe com enfermeiras obstetras, tendo em vista que os médicos são mais intervencionistas, explica a ginecologista do Hospital Municipal de Diadema, Rosângela Vezzuli. “Ainda neste mês, daremos início à reforma do 4º andar do hospital para montar um centro de parto natural, o que deve colaborar para reduzir o número, que já caiu pela metade”, diz.

 No Hospital da Mulher, em Santo André, o índice de episiotomias passou de 90% do total de partos para 44% desde 2009. Entretanto, a meta do diretor técnico do local, Gilberto Palma, é atingir a marca de, no máximo, 30% até o fim do ano. “Iniciamos ação educativa com os médicos e o ideal é que seja introduzido esclarecimento para a mulher antes da internação para o parto, provavelmente durante o pré-natal”, comenta.

 Mauá não soube informar os índices praticados na cidade no Hospital Nardini. A Prefeitura esclareceu apenas que está em implantação o projeto da maternidade no equipamento público onde as parturientes contarão com espaço exclusivo e serão seguidas diretrizes da Rede Cegonha, do governo federal, com medidas que visam, entre outros cuidados, regulamentar o uso da episiotomia durante o parto.

 Ribeirão Pires também não tem dados estatísticos sobre número de epsiotomias. Entretanto, destacou redução do número de procedimentos, tendo em vista o trabalho para diminuir a incidência de cesáreas no Hospital e Maternidade São Lucas.

Assunto ganha audiência pública no MPF

A humanização do nascimento e a episiotomia foram tema de audiência pública realizada na última semana na sede do MPF (Ministério Público Federal) na Capital. Cerca de 300 pessoas debateram sobre a necessidade do corte na região do períneo durante o parto normal e também a respeito de abusos, como realização do procedimento sem consulta à parturiente ou sem anestesia local. A ação é fruto de inquérito civil público que apura formas de violência relacionadas ao parto.

 Para uma das coordenadoras dos grupos Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa e Maternamente, Deborah Delage,a audiência no MPF simboliza mais um capítulo de longa batalha a ser vencida. “É preciso mudar o paradigma da assistência médica no País. Temos uma taxa muito alta de episiotomias e sabemos que muitas dessas mulheres são usadas para didática, ou seja, para que residentes aprendam a fazer um corte”, denuncia.

 Deborah destaca que o procedimento não se sustenta mais nos dias de hoje, tendo em vista a falta de benefícios para a saúde feminina. “Pelo contrário, traz inúmeros prejuízos para a vida sexual e autoimagem. Trata-se de uma ferida cirúrgica em uma região de músculos. É uma recuperação difícil, com chances de infecção e dor”, argumenta.

 A defensora do parto humanizado considera ainda que nem sempre ter informação basta para que a gestante tenha seus direitos preservados. “Na maior parte das vezes não lhe é dada escolha. A mulher não é respeitada. Quando fala que não quer episiotomia, não é ouvida e, às vezes, até é maltratada”, revela. 

Procedimento deve ser feito após avaliação

 Ginecologistas e obstetras aprendiam na faculdade que a episiotomia era um procedimento de praxe e que trazia benefícios para a mulher. Acreditava-se que a ação prevenia a incontinência urinária, além de facilitar a saída de bebês com mais de quatro quilos. Com o passar dos anos, a experiência mostrou que o recurso não deve ser feito de forma sistemática, destaca o professor de obstetrícia e ginecologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Mauro Sancovski.

 “Ficou provado que trata-se de corte que causa recuperação dolorosa e desconfortável. A realização deve ser feita de forma seletiva, a partir de avaliação do caso”, defende o especialista.

 A diminuição do número de procedimentos durante o parto implica em um sistema estruturado de humanização do nascimento, defende Sancovski. Segundo ele, para que as chances de ruptura ou laceração durante o parto sejam diminuídas, é necessário que a parturiente esteja preparada de forma adequada. “Quando a mulher fica de cócoras temos uma vagina distendida, agora se ela está deitada numa posição ginecológica numa mesa rígida e com as nádegas apoiadas, o processo fica mais difícil”, exemplifica.

 O trabalho anterior ao momento do parto com a paciente também é fundamental, defende o médico. “O pré-natal é essencial e favorece a humanização. A mulher deve estar preparada porque pode ser que ela também chegue no momento do parto e não tenha paciência e queira acelerar o processo”, ressalta.




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