Setecidades Titulo Lá no meu bairro...
Escola de samba espalha alegria na Vila Nogueira

Edison Aguiar, presidente da agremiação, faz ensaios na praça e anima Diadema

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
14/10/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


A Vila Nogueira, em Diadema, reúne pequenas residências e diversos comércios, concentrados principalmente na Rua Antônio Dias Adorno. Desde o início da década de 1980, moradores se encontram para batucar na Praça Vila Nogueira, que fica nesta rua.

O hábito deu início à escola de samba Unidos da Vila Nogueira, que foi fundada em 10 de janeiro de 1985. O atual presidente, Edison Leite Aguiar, 53 anos, que está no cargo há oito, conta que a agremiação é uma grande família. “Comecei a participar em 1998 porque a minha sogra, dona Joaninha, era uma das fundadoras. A escola foi tomando conta de mim, tanto que a minha esposa já fazia parte e hoje toda a minha família continua. Meu filho toca na bateria e as sobrinhas são porta-bandeira e rainha de bateria. A netinha, de 3 anos, não pode ouvir um samba que já começa a dançar.”

Diadema não realiza desfiles de Carnaval há dois anos. De acordo com Aguiar, essa é a maior tristeza dos 300 componentes da Unidos de Vila Nogueira. “É difícil ver fantasias estragando e pegando poeira, além dos carros alegóricos que, no momento, estão em um terreno emprestado e vão se deteriorando com o tempo. Quando foi anunciado que não teria desfile em 2013, estávamos com quase tudo pronto.”

A aposentada e moradora do bairro Waldethe do Nascimento, 75, também se entristece com as fantasias perdidas. “Sou responsável pelas roupas da ala das baianas e, desde que comecei a confeccionar voluntariamente, é a minha alegria. Somos um grupo maravilhoso, é muito difícil ficar sem fazer isso, quando me contaram fiquei sem chão”, lamentou.

O técnico de som Vladimir Guarnieri, 52, também voluntário, tinha preparado efeitos especiais para os carros alegóricos. “Mas, infelizmente, nunca cheguei a usá-los. É lamentável para todos nós. Comecei a participar por causa dos ensaios na pracinha, e é triste ver todos assim.”

Em meio ao desânimo dos moradores, Aguiar luta para recuperar a alegria, principal característica do samba. No terceiro sábado de cada mês, são organizadas feijoadas para ajudar a pagar a sede, que é alugada e também funciona como salão de festas. A batucada na praça se tornou tradicional. “O gostoso do Carnaval é a competição entre as escolas. Temos os títulos de 1999, 2000, 2001 e 2002. De 2011 para cá, sempre fomos vice. É muito sacrificante para todos, estamos unidos como uma família.”

A diretoria também tem planos de oferecer aulas de capoeira, bateria e dança para conseguir mais integrantes para a escola no bairro. Aguiar termina seu mandato neste ano, mas não quer saber de largar a agremiação. “Como o nome diz, é uma grande união na qual estão minha família e minhas grandes amizades.”

Locadora sobrevive na era da internet

Na década de 1990, ir até uma locadora e escolher os principais lançamentos para assistir em casa era tradição. Atualmente, com os downloads e a transmissão via streaming, utilizada por serviços como a Netflix, os comércios do ramo estão diminuindo.

Na Vila Nogueira, a Kinas Videolocadora se mantém há mais de 20 anos como uma das principais de Diadema. É chefiada pelos irmãos Yamashiro, Lauro e Milton. “Ela foi fundada pelo meu irmão que morreu, o Mauro. Ele montou o comércio ainda na época do VHS, e foi uma das primeiras da cidade”, contou Lauro, 50 anos.

O comércio possui hoje cerca de 5.000 títulos e disponibiliza filmes em DVD e blu ray, além de jogos para os videogames Playstation 3 e Xbox 360. Lauro destaca títulos raros como A Felicidade Não se Compra, de 1946, e o musical Grease – Nos Tempos da Brilhantina, de 1978, como diferencial.

Apesar da diversidade, ele assume que a concorrência com a internet acaba sendo desleal, mas teve de se render a ela. “Não conseguimos nos manter só com a locadora. Por isso, transformamos uma parte em lan house e prestadora de serviços de cópia e impressão e montamos uma assistência técnica de computadores e notebooks ao lado.”

Ele também afirmou que falta incentivo das produtoras. “Sempre vamos atrás dos lançamentos e o preço de um blu ray é de R$ 80, sendo que eu cobro R$ 7 na locação. Antes de ele se pagar, vai ser um filme que já saiu de moda. Antigamente o valor era bem mais barato, além de recebermos banner para divulgação.”

Apesar dos desafios e da luta para não fechar o comércio, Lauro acredita que o empreendimento vai relativamente bem. “Não temos nenhuma concorrência, e são muitos clientes fiéis.”

Morador do bairro, ele também destaca que a localização ajuda na continuidade do negócio. “Na Vila Nogueira a estrutura é excelente, porque os moradores buscam o comércio local e não o do Centro”, disse.

Casal mora no bairro há 50 anos

O aposentado Carlos Paulino da Silva, 80 anos, e a dona de casa Floriza Oscarina de Jesus da Silva, 73, estão casados há 56 anos, 50 deles passados na mesma casa, construída pelas mãos de seu Carlos.

Ambos são naturais de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo, onde trabalhavam na roça. “Na verdade, vim para cá em 1958 à procura de trabalho. Arrumei um emprego de metalúrgico em Santo André e, quando me estabilizei, voltei para buscá-la”, contou seu Carlos.

O casal morava de aluguel na cidade quando surgiu a oportunidade de comprar um terreno em Diadema, em 1960. “O aluguel era muito caro e o terreno era barato. Aos poucos, fui construindo a casa nas minhas folgas”, relembrou o aposentado.

A casa ficou pronta dois anos depois, sendo que não havia nenhum vizinho na época. “Não tinha nada por aqui, era a nossa casa e mato. No fim da estrada tinha mais duas casinhas e um barranco. Quem viu como era antes quase não acredita como ficou agora”, disse dona Floriza.

Com o emprego na Ford, em São Bernardo, seu Carlos precisava andar cerca de dois quilômetros para pegar um ônibus até a empresa. Hoje ele conseguiria fazer isso andando apenas por dois quarteirões.

“É impressionante como o bairro cresceu, o que é bom porque temos tudo perto e não precisamos sair daqui para quase nada. Quando isso é necessário, o transporte é muito bom, ainda mais com o trólebus, que estava começando a ser construído quando nos mudamos”, afirmou seu Carlos.

Dona Floriza só lamenta que atualmente não conheça todas as vizinhas, o que era diferente antigamente. “Acabou mudando muita gente nova e, do pessoal que eu conhecia, quase todos morreram”, disse. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;