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A roda. O social. Um drama na velha São Paulo
Ademir Medici
01/10/2018 | 07:00
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 “Irmã Angélica, a senhora lembra dos alarmes falsos dados pelos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco? Eles tocavam o sino à noite e quando íamos verificar se era um bebê, encontrávamos bonecas de pano, bilhetes impertinentes e outras porcarias que eles colocavam na roda.”

A Irmã Rodeira, conto que
abre o livro Abandonados na Roda: Destinos, de Thais Matarazzo, lançado neste mês em São Paulo.

O drama do menor abandonado comove. O que mudou foi o seu formato. A literatura, o cinema, a novela, antigos programas de rádio perpetuaram o tempo da chamada “roda dos enjeitados”. O recém-nascido fruto de relações proibidas para os padrões da época era simplesmente deixado em instituições de amparo. E foram tão comuns que numa roda como estas, em que se trocam bujões de gás vazios por cheios, anônimos, geralmente mães solteiras, deixavam seus filhos, que passavam a ser criados por uma santa casa, por exemplo.

A ‘roda dos enjeitados’ teve outros nomes. Alguns são listados por Ingrid Ribeiro de Souza no posfácio deste livro admirável e sensível da jornalista Thais Matarazzo.

Roda dos excluídos. Roda dos abandonados. Roda dos expostos são outros termos empregados por Ingrid ao historiar o que foi este tipo dramático de comportamento humano, já observado na Itália no século 4.

Thais Matarazzo realizou importante pesquisa na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e narra, em 17 contos, as trajetórias de algumas crianças que foram deixadas na roda dos expostos da instituição entre 1848 e 1916.

O lançamento oficial do livro de Thais aconteceu no sábado, 22 de setembro, no Museu da Santa Casa de São Paulo. “Foi fabuloso, o livro teve grande procura. Eu não tinha nenhuma expectativa, sabemos como é difícil vender livros e fomentar a literatura no Brasil. Mas a história da roda é insólita”, comenta a autora.

ENCANTAMENTO. TRISTEZA...
Um livro ficcional baseado em fatos reais. O leitor é conduzido por duas irmãs, as ‘freiras rodeiras’, guardiãs da ‘roda dos expostos’, e de repente se vê num cenário da São Paulo da virada do século 19 para o século 20. Ou então num povoado europeu distante, onde dois jovens se apaixonam e fogem, em direção ao Brasil e a São Paulo, para tentar vida nova e esconder o fruto de um amor não aprovado pela sociedade.

Thais Matarazzo ilustra cada conto com fotos do domínio público que caracterizam os personagens. E conta com a arte da amiga Camila Giudice, artista plástica, autora de quatro ilustrações das capas e contracapas do livro, três das quais reproduzidas aqui na Memória.

Camila se baseou em pinturas, fotografias e informações históricas dos prédios que abrigaram os hospitais da Santa Casa de São Paulo.

Thais Matarazzo, por sua vez, completou a pesquisa de alguns poucos dos milhares de registros das crianças que foram abandonadas na roda dos expostos consultando o livro de batismos da Catedral da Sé. O resultado são enredos, tramas que emocionam. “Uma sensação de encantamento e, ao mesmo tempo, de profunda tristeza”, como escreve a autora.

Quem acompanha pelo noticiário uma rebelião de menores numa dessas instituições oficiais não pode imaginar o drama vivido por um ser humano abandonado na roda que dá título ao livro de Thais.

TRECHO
“Desesperado em sua angústia e miséria, sem ter a quem apelar após o batizado, Basílio pegou as meninas e as ajeitou num cesto de vime, tomou uma decisão: deixá-las na roda dos expostos da Santa Casa de Misericórdia (...) colocou o cestinho lá dentro, fechou a portinha e tocou a sineta. Segundos depois, saiu correndo...”.

SERVIÇO
Editora Matarazzo. www.editoramatarazzo.com. Tel. (11) 3991-9506.

Diário há 30 anos
Sábado, 1º de outubro de 1988 – ano 31, edição 6872
Manchete – Judô de Santo André dá ouro ao Brasil
Aurélio Miguel, judoca meio-pesado da Pirelli, garantiu ontem a primeira medalha de ouro para o Brasil no penúltimo dia de competições dos Jogos Olímpicos de Seul.

Em 1º de outubro de...
1918 – O Ministério da Guerra manda expedir telegrama ao almirante Frontini, comandante da esquadra brasileira em operações de guerra na Europa, pedindo a relação dos marinheiros, foguistas e tarefeiros falecidos vítimas da gripe espanhola.
O governo determinava a criação de um hospital de gripados na Ilha Grande, no Rio de Janeiro.

Santos do dia
Rémy ou Remigio (França, Lyon, 440 – Reims, 533).
Bispo. Fortaleceu o catolicismo em seu país.
Teresa de Lisieux. Ou Santa Terezinha do Menino Jesus
Milor
Veríssimo




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