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Abril tem teste decisivo para ajuste fiscal
Por Do Diário do Grande ABC
03/04/1999 | 12:47
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Abril será decisivo para o Brasil. Até meados do mês, o governo Fernando Henrique Cardoso e o Fundo Monetário Internacional (FMI) saberao se a principal meta firmada com a instituiçao - o resultado consolidado das contas públicas pelo conceito primário, que nao inclui despesas com juros - foi cumprida, atingindo superávit de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A expectativa de economistas é de que esse objetivo seja atendido sem maiores dificuldades.

Sao muitas as expectativas na abertura do trimestre. A queda acentuada do dólar, embora comemorada, é reconhecidamente um problema. Se o governo nao conseguir preservar a desvalorizaçao real de aproximadamente 25% para a moeda brasileira, a reduçao da taxa de juro é considerada inevitável. Mas há o temor de que um desempenho pífio da balança comercial acabe inibindo cortes mais expressivos e necessários no custo do dinheiro, mantendo as empresas brasileiras num atoleiro financeiro em troca de uma remuneraçao mais atraente para o capital externo de curto prazo. O ajuste fiscal avança, mas a CPMF ainda é considerada uma fonte paliativa de receita. "Se as expectativas sao muitas, é fundamental que nao sofram deterioraçao e o presidente da República continue afirmando que a crise é séria e nao tente recuperar a perda de popularidade em um mês", alerta José Augusto Savasini, da Rosenberg & Associados.

Para José Júlio Senna, da MCM Consultores, o governo deve suar a camisa e fazer o impossível para melhorar o risco Brasil. Jorge Simino, da Unibanco Asset Management (UAM), acredita que neste trimestre uma grande batalha será travada no câmbio, pondo frente a frente os setores financeiro e real da economia.

José Antônio Pena, economista-chefe do BankBoston, alerta para a necessidade urgente de o governo aprofundar as medidas de ordem fiscal, enquanto o economista-chefe do ING Bank Mauro Schneider, atento ao câmbio e aos reajustes salariais, nao perde o humor e garante: "Daqui para a frente, a cada passagem de mês estaremos matando um leao. Um trimestre é muito tempo."

Em abril, o mercado estará de olho em quatro questoes consideradas básicas por José Júlio Senna: no comportamento da inflaçao, levando em conta a expectativa de que os índices apenas façam uma corcova e recuem a níveis próximos dos registrados antes da liberalizaçao do câmbio; na trajetória dos juros, que devem sofrer reduçao expressiva; nos sinais de recuperaçao do nível de atividade; e no balanço de pagamentos, que, ao lado da questao fiscal, terá comportamento decisivo para evitar um aprofundamento da recessao econômica.

"Essas quatro questoes estao relacionadas diretamente com o câmbio", comenta Senna, ex-diretor da Dívida Pública do Banco Central. Ele alerta para a sensibilidade que será exigida do BC na calibragem da taxa de câmbio. "Se a tendência para R$ 1,70 nao for consolidada nas próximas semanas, seguramente teremos problemas com a inflaçao", afirma. "Em particular, com os preços industriais." Por outro lado, diz, "se a taxa de câmbio ceder demais, estaremos trilhando o caminho do México, em que a inflaçao engolirá a desvalorizaçao real, que deve ficar em 25%".

Jorge Simino, da UAM, lembra que a economia real definiu um "dólar virtual" entre R$ 1,70 e R$ 1,75 para nao paralisar seus negócios enquanto o câmbio estava desgovernado. Na medida em que a cotaçao da moeda se mantém direcionada para esses alvos - como está ocorrendo agora - os índices de inflaçao, por exemplo, nao captam variaçoes substantivas nos preços industriais. Mas, se o dólar sofrer um repique, a renovaçao de contratos entre indústrias e fornecedores dificilmente vai ignorar um novo nível de taxa, o que pressionaria os preços. Na contramao, se o dólar ceder excessivamente - com a melhora do fluxo de ingresso de capital externo no país, já observada -, é possível que o governo tenha de bancar a diferença na remuneraçao desse capital mantendo os juros em níveis elevados por mais tempo.

O executivo da Unibanco Asset Management chama atençao para o impacto dos reajustes das tarifas de serviços públicos, alguns fornecidos por concessionárias particulares, sobre os índices de preços. Em destaque estao os preços dos combustíveis e energia elétrica, o último ainda em análise. Também exige atençao o desempenho da balança comercial em abril, pois o saldo do primeiro trimestre, acredita, será negativo e, portanto, frustrante. "Descontando o primeiro trimestre e os últimos dois meses do ano, quando a tendência é de resultados decepcionantes dado o aumento histórico das importaçoes, sobram sete meses para que o país obtenha um superávit comercial de aproximadamente US$ 6 bilhoes", lembra Simino. "Embora a meta indicativa firmada entre o governo e o FMI seja de US$ 11 bilhoes, o mercado acredita que deva ficar em US$ 6 bilhoes, o que já significa um grande desafio, pois o superávit mensal a partir de abril deve ser da ordem de US$ 1 bilhao", diz. "Se neste mês o governo apresentar um resultado frágil, teremos dois problemas: de um lado, será muito difícil o mercado esticar a ilusao de que a credibilidade externa estará solidamente recuperada; de outro lado, poderao crescer pressoes por maior desvalorizaçao, provocando instabilidade no câmbio de regime flutuante e um cenário em que o Brasil estará, como no passado, mais dependente do fluxo de capitais para acertar sua fatura externa", comenta Simino.




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