Cultura & Lazer Titulo
Gigante dos mares em areias fluminenses
Luciano M. Lima, Bruno Rennó , Salvatore Siciliano
05/10/2009 | 07:00
Compartilhar notícia


Um macho adulto de tubarão-de-boca-grande, espécie raríssima, foi encontrado encalhado e recém-morto na Praia Grande, em Arraial do Cabo (RJ), em julho deste ano. O animal é o 43º exemplar da espécie conhecido no mundo e apenas o terceiro registrado no Oceano Atlântico.

Com 5,39 metros de comprimento, o tubarão aparenta ter morrido por causas naturais, uma vez que não foram encontradas marcas que pudessem ser atribuídas a captura em redes ou a colisão com embarcação a motor. A necropsia mostrou que seu estômago estava completamente vazio, o que pode indicar que ele não vinha se alimentando havia algum tempo.

DESCOBERTA AO ACASO - O primeiro tubarão-de-boca-grande foi descrito em 1983 e recebeu o nome científico de Megachasma pelagios. A descoberta aconteceu ao acaso, quando o animal se prendeu acidentalmente na âncora de um navio da marinha norte-americana no Havaí, em 1976. Ao ser examinado por especialistas, observou-se que não se tratava apenas de uma nova espécie, mas também de um novo gênero e família de tubarão, mais tarde denominada Megachasmidae. Foi considerada uma das descobertas zoológicas mais fantásticas do século 20.

O nome do gênero é composto por um prefixo grego (mega = grande) e um sufixo latino (chasma = cavidade); pelagios vem do latim e significa "oceânico, do mar". Considerado extremamente raro, cada registro do tubarão-de-boca-grande é documentado em detalhe e passa a integrar um catálogo internacional.

O Megachasma pelagios é considerado um gigante dos mares, chegando a medir mais de 5,5 metros de comprimento e podendo passar de 1 tonelada. Como o nome diz, sua boca é extremamente grande, coberta por mais de 50 fileiras de dentes pontiagudos e curvados para trás, das quais apenas três são funcionais. Além disso, a nadadeira dorsal relativamente pequena e a cauda com o lobo superior alongado contribuem para dar um aspecto desproporcional ao animal, o que o torna facilmente distinguível de qualquer outro tubarão.

Diferentemente de qualquer outra espécie e curiosamente semelhante às grandes baleias, como a jubarte, a estratégia de busca por alimento do tubarão-de-boca-grande envolve o engolfamento de zooplâncton. Ao se alimentar, o animal engole grande quantidade de água enquanto nada com a boca aberta. Para suportar o volume de água e as presas nela contidas, a pele dos lados ventrais e laterais da boca, que é muito elástica, é distendida. Depois, a boca se fecha, a água é expelida pelas guelras e o alimento, engolido.

Dada a sua dependência de zooplâncton, o Megachasma pelagios realiza deslocamentos verticais diários na coluna da água, acompanhando suas presas, podendo atingir até 180 metros de profundidade.

É difícil ver espécie no Atlântico

Passados 25 anos de sua descoberta, o tubarão-de-boca-grande é ainda hoje considerado um dos tubarões mais raros do mundo. No total, somando-se os espécimes capturados, encontrados encalhados em praias e observados no mar, eram conhecidos até o momento 42 registros da espécie espalhados pelas zonas tropicais e subtropicais dos três oceanos. A maior parte dos espécimes encontrados concentra-se no Pacífico, seguido pelo Índico. No Atlântico, apenas dois exemplares haviam sido reportados antes de julho.

Embora o ecossistema marinho corra sério risco de entrar em colapso por conta da superexploração de seus recursos, o conhecimento sobre os oceanos ainda é incipiente, fato nitidamente ilustrado por diversas descobertas relacionadas à vida marinha nas três últimas décadas.

A descoberta de um novo M. pelagios na costa brasileira demonstra a importância do monitoramento regular de trechos de costa e de estudos de caracterização da biodiversidade marinha em longo prazo. Pesquisas dessa natureza podem ser apontadas como efetiva ferramenta para melhor compreender o desconhecido, e criticamente ameaçado, ecossistema marinho.

A descoberta foi feita durante um dos monitoramentos regulares de praia conduzidos pelo Projeto Aves, Quelônios e Mamíferos Marinhos da Bacia de Campos, realizado em conjunto pelo Instituto Oceanites e pela Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz, dentro do Projeto Hábitats - Heterogeneidade Ambiental da Bacia de Campos, coordenado pelo Centro de Pesquisas da Petrobras.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;