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Caminhão-pipa leva água e alívio a famílias da região

Na região, ao menos 3.300 imóveis não possuem
ligação com a rede de água e dependem do veículo

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
21/03/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Ao ouvir o barulho do caminhão-pipa subindo a Rua Tatuaçu, no bairro Recreio da Borda do Campo, em Santo André, a ajudante geral Maria Elenice Santana Lima, 37 anos, correu para o portão. A chegada do veículo é sempre aguardada ansiosamente, pois é dele que vem a água que tornará possível todas as tarefas primordiais da semana.

Amanhã é Dia Mundial da Água e à espera do caminhão que a traz vivem 3.300 famílias na região, cujos imóveis não têm ligações com a rede e estão localizados em bairros de Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires. Rio Grande da Serra e Mauá não retornaram e Diadema e São Caetano não possuem casas assim.

Há 18 anos Maria Elenice, o marido e os três filhos só têm água na torneira graças ao caminhão-pipa. A caixa de 10 mil litros é compartilhada com outra casa, que fica no mesmo quintal e onde vive apenas um morador. A água a conta-gotas impõe uma série de preocupações às situações mais básicas. “Se a gente quer fazer uma festinha, tem que pensar que as pessoas vão utilizar o banheiro, a descarga será acionada várias vezes e a água vai embora. Já cheguei em casa do trabalho e não tinha uma gota sequer. Aí o jeito é pegar um pouco de água com os vizinhos. É uma situação angustiante.”

A vizinha recém-chegada Rivânia Silva Miranda, 28, estranhou a realidade local. “Eu morava na Bahia, casei e vim para cá faz dois meses. Foi um baque quando soube que aqui não tinha água”, conta. A situação, para ela, é limitadora. “A gente fica com medo de sair no dia em que o caminhão passa. Vai que não colocam água”, diz. Na parte externa das residências do bairro estão instalados canos onde a equipe encaixa uma mangueira e destina o líquido às caixas-d’água.

No Recreio da Borda do Campo, o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) atende 55 ruas. A entrega do líquido ocorre uma vez por semana, pois a média de reservação de cada família é de 5.000 litros. Mas há atrasos quando os veículos quebram e, muitas vezes, a água acaba antes da chegada do caminhão. Outro bairro abastecido dessa forma em Santo André é o Parque Andreense. São 75 ruas atendidas duas vezes por semana, já que a média de reservação das moradias é de 1.500 litros.

A cidade conta com 15 veículos para garantir o abastecimento. O investimento médio mensal é de aproximadamente R$ 220 mil para atender 2.500 famílias. O morador paga R$ 11,10 por cada 3.000 litros fornecidos. O pagamento é feito via carnê, adquirido antecipadamente. Há quatro opções: cupons de 100, 200, 500 ou 1.000 litros.

Em São Bernardo, 600 famílias recebem água por caminhão-pipa nos bairros Taquacetuba, Tatetos, Santa Cruz, Capelinha, Riacho Grande, Botujuru, Balneária e Jardim Tupã. O município presta o serviço gratuitamente, por meio de seis veículos e investimento de R$ 115 mil. O abastecimento é feito a cada dez dias e são disponibilizados, em média, 1.500 litros por casa.

Na cidade de Ribeirão Pires, 200 famílias dos bairros Sítio dos Vianas, Chácara Engenho da Serra e Jardim Paz se enquadram no perfil. A Prefeitura não oferece água gratuitamente. Os munícipes solicitam o caminhão-pipa de acordo com a necessidade. O valor pago não foi informado.

Em Diadema, problema é passado

No bairro Sítio Joaninha, em Diadema, o abastecimento de água por caminhão-pipa ficou no passado. Após 20 anos de espera, as ligações começaram a ser instaladas pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) em outubro de 2014, sendo concluídas em dezembro do mesmo ano.

A casa do aposentado Robs Ribeiro de Almeida, 54 anos, foi a primeira contemplada. “Sem energia acho que a gente até vive, mas sem água não. É essencial”, disse, lembrando que o que amenizava a situação era a solidariedade do vizinho, que tinha um poço e compartilhava a água.

A execução das ligações foi possível após a obtenção de licença ambiental por parte da Prefeitura junto à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). No entanto, nem todos os bairros da região conseguem a liberação. Em Santo André, o Semasa aponta que não há projeto para o Parque Andreense,pois, além de estar mais isolado, localiza-se em área de proteção de mananciais e, por isso, “não há alternativa técnica para execução de obras desse tipo no momento.”

Quando indagada sobre as dificuldades para disponibilizar ligações nos bairros que não contam com o serviço, a Prefeitura de São Bernardo ressaltou que o gerenciamento de água e esgoto é de responsabilidade da Sabesp. A companhia, por sua vez, destaca que tem projetos para a Grande São Paulo, mas em áreas que não são de proteção ambiental. “Nesses locais de ocupação informal, a Sabesp negocia autorizações individuais com as prefeituras, documentação necessária para implantar as tubulações, já que lei federal impede a instalação de sistema de saneamento em áreas sem infraestrutura urbana”, disse, em nota.

Obras dependem de verba e licenças

As prefeituras afirmam ter projetos para instalar ligações de águas onde o serviço é possível, no entanto, alegam aguardar de terceiros a oportunidade que possibilitará tirar os planos do papel.

O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) disse possuir plano para implantar 100% de rede água no Recreio da Borda do Campo, mas argumenta que há atraso em repasse de recursos de compensação ambiental por parte da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), devido às obras do Trecho Sul do Rodoanel.

Segundo a Dersa, o valor a ser encaminhado à cidade é de R$ 16 milhões, porém, o convênio foi objeto de cinco termos aditivos, alguns motivados por alterações do escopo do projeto por parte da Prefeitura. “Atualmente encontra-se em análise a proposta para o sexto termo aditivo, com nova alteração que está em análise pela Dersa”, alegou, Somente após a assinatura será possível liberar os recursos mediante cronograma a ser estabelecido. As ações deverão ocorrer em 2017, diante da necessidade de previsão orçamentária.

Em Ribeirão Pires, a administração disse que, no Sítio dos Vianas, as redes de água e esgoto já estão sendo assentadas, porém, não estão operando por falta de outorga do DER, já que haverá intervenção na Rodovia Índio Tibiriçá. Procurado, o DER disse que verificará se a Prefeitura solicitou a outorga. “Para a autorização, o projeto deve obedecer as normas técnicas do DER para ocupação da faixa de domínio de água e esgoto. O projeto passa por duas instâncias: é analisado pela unidade do DER da região e, posteriormente, pela área técnica de ocupação e faixa de domínio, que emite a autorização, caso esteja de acordo com a regulamentação do órgão”, disse.  




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