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Histórias de um sonhador
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
12/02/2012 | 07:00
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"Mesmoquando estava no orfanato, quando perambulava pelas ruas tentando achar o que comer para conseguir sobreviver, mesmo nesses dias eu pensava em mim como o maior ator do mundo. Eu tinha de sentir essa exuberância que vinha da profunda confiança em mim mesmo. Sem isso eu teria sido derrotado", disse Charles Chaplin, anos depois dos tempos de miséria, a um de seus filhos.

Um dos mais célebres personagens da história, o ator e diretor tem a história retratada no livro 'Chaplin - Uma Biografia Definitiva' (Editora Novo Século, 792 páginas, preço médio R$ 80). Escrito pelo crítico e historiador especializado na arqueologia da sétima arte e na história do cinema mudo David Robinson, a obra não é apenas um tratado da vida de Chaplin, mas também um estudo sobre o cinema que se fazia na primeira metade do século.
A história de sua família, seus casamentos, o combate ao nazismo, a perseguição que sofreu do FBI por ser considerado comunista, nenhum detalhe fica de fora do livro.
Filho de artistas do teatro de variedades, onde música, imitação e encenação se misturavam, Chaplin aprendeu com a mãe a arte de decifrar, e traduzir através do corpo, o estado de espírito das pessoas. Seu pai - também Charles Chaplin -, um beberrão irresponsável, apesar de ser artisticamente mais bem-sucedido do que a ex-mulher, não teve ascendência na carreira do filho. Poucas foram as vezes que os dois tiveram contato. Até na relação com a mãe Chaplin viveu hiatos. Constantemente internada com diagnóstico de loucura, muitas vezes viu os filhos irem para abrigos enquanto seguia para o hospital.

O ator, que já nessa época sabia se virar - um dia tomou o lugar da mãe em uma apresentação e faturou mais dinheiro do que ela ganharia em uma semana de trabalho -, entre um período de vacas magras e outro, meteu-se a atuar profissionalmente. Sua primeira vez no palco foi em 1894, até chegar ao cinema, em 1914, foram 20 anos de dedicação à arte de interpretar, que o fez um dos primeiros e maiores, até hoje, mestres do gênero.

Surpreendente, desde cedo chamou atenção pela maneira com que conduzia as piadas. Com uma atitude só - piscar de olhos, aceno de sobrancelha ou virada de corpo - era capaz de se fazer entender e arrancar risos até do mais mal-humorado sujeito. Atuar com ele, como diziam, "era como gravar a constituição na cabeça de um alfinete", tamanha sua exigência pela busca da expressão perfeita das dores e alegrias humanas pela arte.

História
São poucas as ocasiões em que se vê, no livro, David Robinson fazer um elogio ao seu biografado. Sem cair no terreno mais fácil, o das lisonjas vazias, o escritor friamente coloca a história e os pensamentos de Charles Chaplin em primeiro plano em sua obra. Os elogios ficam por nossa conta. Em cada trecho é possível observar a genialidade de um dos artistas que, mais que configurar o cinema, fez dele o canal de expressão dos sentimentos, alegrias e angústias de todos os seres humanos. E de maneira tão singela que até hoje, mais de 30 anos após sua morte, é difícil encontrar alguém que faça jus ao seu trabalho.




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