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União faz a força da Vila Nogueira
Por Lukas Kenji
Especial para o Diário
06/02/2012 | 07:00
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Fernando Nonato/DGABC


O nome é uma homenagem ao engenheiro Horácio Messias Nogueira. Por volta de 1950, ele transformou as terras do então Sítio Nogueira em lotes, aonde as primeiras famílias do bairro se desenvolveram. Mas a Vila Nogueira, em Diadema, teve crescimento desordenado em um terreno de topografia irregular, que, além da falta de segurança, fator de preocupação dos moradores, sofre com problemas habitacionais. Os morros são conhecidos como núcleos, na tentativa de suavizar, pelo menos na palavra, os impactos que um morro exerce.

Para melhorar a qualidade de vida, a comunidade se une e presta ajuda uns aos outros. "A casa de uma companheira acabou em um incêndio e todo mundo ajuda a reconstruir. Aqui a gente realmente tem um conceito de comunidade", diz Aldair Leonel, 36 anos, morador do bairro desde que nasceu.

Foi com a ideia de união que, em 1978, a comunidade do Núcleo Marilene fundou uma associação para tentar solucionar os problemas da vila. Leonel é o atual presidente, e seu papel é ouvir a reclamação de cada morador e intermediar soluções junto à Prefeitura.

Da associação, veio a ideia de que a vida só melhora se todos estiverem incluídos socialmente. "A criançada agora pode fazer aula de dança, inglês, informática etc. É assim que eles começam a ter futuro", afirma Leonel, que fechou parceria com o Instituto Solano Trindade, financiado por doações de funcionários da Volksvagen e atenderá 100 crianças carentes da Vila Nogueira.

Além do auxílio de moradores, o bairro vai receber investimento de R$ 12,6 milhões dos governos municipal e federal em obras de habitação e reurbanização que começam em abril. É uma tentativa de mudar a rotina de quem vive em morros onde liberdade é palavra desconhecida. No núcleo Pau do Café, por exemplo, a lei do silêncio impera e entrar no local só é possível mediante autorização.

Nesse cenário, o policiamnento não age. Existe apenas uma base da Polícia Militar para cuidar da segurança de quase 34 mil pessoas. O comércio é o alvo preferido dos assaltantes.

"Já cheguei a ser roubada duas vezes em um mês. É triste batalhar tanto e perder parte do patrimônio para bandidos", diz Kazue Miyaichi. Há 15 anos no bairro, ela diz que as rondas policiais feitas toda semana ajudaram, mas nem de perto solucionaram os problemas de segurança na Vila Nogueira.

 

Associação de criadores de pássaros é destaque

Muitas famílias se instalaram e fincaram raízes na Vila Nogueira, quando ainda pertencia a São Bernardo, antes da década de 1950. "Muitos desses moradores não quiseram sair do bairro, e a família se desenvolve de geração em geração", conta o líder comunitário Aldair Leonel.

No bairro estão os personagens mais comuns, como o dono da padaria ou da banca de jornal que conhecem todos da região, até outras pessoas que possuem atividades pouco conhecidas. É o caso do operador de máquinas Alexandre da Cruz, 36 anos, que preside uma associação de criadores de pássaros. O diferencial dessas aves é o canto, que vale diversão e até dinheiro, em campeonatos que medem qual animal canta mais e melhor.

Em Diadema, o Clube Municipal Mané Garrinha recebe competições mensalmente. São várias categorias concorrendo a troféus, todas avaliadas por julgadores profissionais. Existem competições entre pássaros divididos por espécie no modo comum, no qual toda as aves ficam em gaiolas, uma observando a outra, ou no modo livre, onde todos ficam soltos, cantando pelo ginásio.

"Todos os pássaros são credenciados no Ibama, todos são identificados e cadastrados em federações no Brasil inteiro", afirma Cruz. Para participar do campeonato, cada pássaro tem que estar com a saúde em dia e recebendo os cuidados devidos. Tudo isso é fiscalizado por veterinários nos dias de competição. "É uma atividade bacana, gostosa, tanto para quem vê quanto para o bichinho, porque eles interagem entre si", completa Cruz.

 

Vila Nogueira, onde se caçava tatu

Há o loteamento Vila Nogueira, de 1949 (partes 1 e 2), e o bairro Nogueira, que denomina uma das 11 regiões a que foi dividido, oficialmente, o Município de Diadema. No segundo caso, o bairro abrange a Vila Nogueira primitiva e os bairros ao redor, entre os quais Vila Lídia, Vila Goyotim, Jardim Mombaé e Jardim Ingai. À frente de todos esses loteamentos esteve o engenheiro mineiro Horácio Messias Nogueira (1882-1959).

Vila Lídia homenageia a mulher de Horácio Nogueira, Lydia Franco Nogueira; Vila Goyotim em homenagem a uma das filhas do casal. Os investimentos imobiliários da família Nogueira se entrelaçam. É o caso do Jardim Ingai, conjunto de 39 casas que a família construiu, nos anos 1960, numa área da Vila Goyotim

ANTECEDENTES

Horário Nogueira adquiriu terras em Diadema em 1925, para fins de lazer e descanso. A propriedade pertencia ao lavrador José Antonio Escudeiro e à sua mulher, Isabel Monteiro Pedroso, grandes proprietários nos tempos antigos de São Bernardo.

A documentação consultada indica que os Escudeiro adquiriram as áreas em 1897, uma parte de Gertrudes Maria da Silva e outra de Antonio Domingues de Andrade. Uma terceira parte foi produto de herança, quando do inventário de Antonio Manoel Pedroso, pai de Isabel Pedroso, mulher de José Escudeiro.

DO RURAL EM URBANO

Vila Nogueira

Parte 1 - 24 quadras, 313.760 m²

Aprovação - 1949

Parte 2 - Nove quadras, totalizando as 33 quadras originais.

Abertura - 1950, com aprovação ao longo da década.

EXPANSÃO

Parecer municipal da época informava que, em 1953, a quase totalidade dos lotes da Vila Nogueira, mais de 1.000, estavam compromissados à venda. Escrituras definitivas já haviam sido expedidas e era grande o número de construções. Em 1954, uma escola municipal estava sendo construída, provavelmente origem da atual EE Jornalista Rodrigues Soares Junior.

LENTA EVOLUÇÃO

Em 1977 publicamos reportagem, no Diário, sobre a formação de Vila Nogueira. Entre os entrevistados, o corretor Jaime Nogueira destacou duas funções rurais de Vila Nogueira: a caçada de tatus e a ação de olarias, uma delas mantida por Laerte Nogueira, um dos filhos do loteador. A olaria foi desativada no inicio dos anos 1950. (Por Ademir Medici)




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