Economia Titulo Crise
Bush implora e otimismo reaparece

Bush afirma que a aprovação do pacote anticrise é necessária para evitar conseqüências drásticas nos EUA

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
01/10/2008 | 07:02
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Após a rejeição ao pacote anticrise de US$700 bilhões proposto pelo presidente dos Estados Unidos George W. Bush à Câmara dos Deputados, Bush disse na terça-feira que reapresentará a proposta, que deve ser votada nesta quinta-feira, e praticamente implorou para que os congressistas aceitem o pacote de ajuda aos bancos. A pressão é tão grande, que os mercados já sentiram que uma nova derrota é praticamente impossível. Com isso, o dia foi de recuperação das Bolsas de todo o mundo.

Bush afirma que o projeto se faz necessário para evitar conseqüências drásticas à economia americana e dificuldades para os cidadãos do país.

Na opinião de Nora Zygielszyper, professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Strong, de Santo André, a aprovação do pacote é praticamente inevitável, já que a economia norte-americana representa 30% do PIB (Produto Interno Bruto - soma das riquezas produzidas) mundial. Um dos motivos que barraram a aprovação do pacote foi o questionamento sobre quem vai arcar com esse montante para salvar as instituições financeiras.

Neste caso, de acordo com a proposta, é o cidadão norte-americano. "O contribuinte vai pagar uma conta muito maior se não houver mais emprego nem dinheiro para sustentar o cartão de crédito", defende Nora.

A média que cada contribuinte terá de pagar será de dois mil dólares per capta, que será obtido por meio de um aumento da carga tributária, explica Tharcisio Souza Santos, professor de mercado financeiro e economia brasileira da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).

Outro ponto questionado pela Câmara dos Deputados na recusa ao plano foi que não estava definida qual seria a retribuição da ajuda aos bancos que receberão os recursos e o que o contribuinte ganhará com isso, ressaltou Angelo Del Vecchio, professor de política internacional da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo).

Mas, segundo Nora, a rejeição do pacote é exclusivamente política. "A política americana prega que o mercado deve se ajustar sozinho. E eu concordo, mas não com uma crise desse tamanho. Pois houve excessos e falta de regulação. Muitas hipotecas de alto risco e muita securitização (quando um banco empresta para outro banco o título de uma dívida)".

Para Santos, existe um problema ideológico no partido republicano. No parlamento, o conservadorismo é levado à risca, e a política neoliberal é contra a regulamentação. "Para eles, o mercado se basta", diz, complementando a opinião de Nora. "Desde que a crise começou, entretanto, Bush passou a estatizar bancos e instituições financeiras, o que vai contra a ideologia republicana. Ele não precisava ter feito tantas intervenções", justifica.

BOLSAS - Foi o otimismo de que o pacote seja rearranjado na quinta-feira, já que hoje é feriado judaico e muitos parlamentares não trabalham, que impulsionou o resultado positivo das Bolsas ao redor do mundo.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo recuperou parte das perdas de segunda-feira, com queda de 9,36%, encerrando o dia com com saldo positivo de 7,63%.

Nos Estados Unidos, a Bolsa de Nova York também encerrou o dia em alta. O índice Dow Jones atingiu elevação 4,68% - na segunda, as perdas atingiram 6,98%, havendo, portanto, leve recuperação. O dólar recuou de R$ 1,96 para R$ 1,90. (com Agências)

O que pode acontecer se o pacote for rejeitado?

Apesar da forte expectativa de que a Câmara dos Representantes aprove o pacote anticrise nesta quinta-feira, existe a possibilidade de ele não ser aceito.

Caso seja rejeitado mais uma vez, a possibilidade de agravamento da crise é muito provável, afirma Angelo Del Vecchio, da Unesp.

Na opinião de Nora Zygielszyper, da FGV Strong, as conseqüências serão sérias. "Existe um risco sistêmico. O mercado financeiro sobrevive enquanto houver dinheiro circulando. Se os bancos ficam assustados com a crise, não há mais empréstimos", diz.

Tanto que no País, as linhas de financiamento de comércio exterior para empresas brasileiras do Banco do Brasil estão secando, afirma Nora. "Com a restrição do crédito externo, o banco está mais cauteloso".

Para Tharcisio Souza Santos, da Faap, há a chance de a situação se alastrar pela Europa, já que diversos bancos europeus estão com problemas. Em relação ao Brasil, Santos alega que somos blindados à crise dos subprimes. "Nossa dependência dos Estados Unidos vem se reduzindo nos últimos tempos". Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), do total importado pelos EUA em 2004, 25,1% provinha do País. Em 2007, entretanto, esse número caiu para 17,6%. "O mundo cresceu e o Brasil diversificou suas exportações", explica.

Além disso, relata Santos, as exportações reduziram seu peso na contribuição do País. Em 2004, representavam 2,3%, frente a 3,8% do consumo das famílias. No ano passado, as exportações caíram para 1% e a melhoria de vida das famílias elevou o índice para 5,7%.




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