Economia Titulo
Reuniões traçam nova economia
09/11/2008 | 07:06
Compartilhar notícia


Por trás das boas intenções de tentar salvar o planeta de uma crise profunda, as reuniões entre as principais economias do mundo prometem se transformar em disputas de poder entre os países pelo que promete ser a nova arquitetura mundial.

Neste fim de semana, o G 20 Financeiro (ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das 20 maiores economias do mundo) se reúne em São Paulo, à espera da cúpula no dia 15, em Washington.

Para os defensores de uma nova divisão do poder mundial, a cúpula deve ser vista como uma reedição da conferência de Bretton Woods, de 1944. Nos bastidores, os eventos estão sendo vistos como a oportunidade que europeus e emergentes esperavam para garantir uma redução do poder americano nas próximas décadas e o fortalecimento do multilateralismo.

Na fase final da 2ª Guerra Mundial, os americanos convenceram os ingleses a aceitar uma conferência que estabeleceria um novo sistema econômico internacional. As negociações começaram em 1941. Mas foi apenas três anos depois que a Casa Branca conseguiu reunir 44 países em Bretton Woods, a maioria convidada por seu status de aliado no conflito.

O encontro marcou o fim da supremacia européia e o início da americana. "Parte da lógica americana era a de garantir o fim do império britânico no setor econômico e financeiro e se garantir como liderança, o que acabou ocorrendo", diz Chakravarthi Raghavan, analista indiano que há cinco décadas acompanha a economia mundial.

Já na época, a disputa por fazer prevalecer as diferentes posições demonstrava a resistência dos europeus em ver sua supremacia ser perdida para uma potência emergente: os Estados Unidos. A França chegou à conferência defendendo maior participação do Estado na economia.

Já os americanos insistiram num liberalismo maior. Cordell Hull, o então secretário de Estado americano, acreditava que parte da guerra teria sido causada não apenas pelos nazistas, mas pelo regime discriminatório dos ingleses nas finanças e no comércio mundiais, dando preferências apenas a suas colônias. Para ele, a "paz duradoura" estava ligada a um regime menos discriminatório. Por isso, queria a abertura de mercados para investimentos, bancos e bens exportados pelos Estados Unidos.

Historiadores apontam que já em 1941 os americanos apresentaram ao primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, suas condições para a construção de uma nova ordem mundial. Entre as exigências estava a abertura dos mercados e, na prática, o fim da hegemonia britânica e francesa nos mares. Uma nova entidade, o FMI (Fundo Monetário Internacional), teria de refletir ainda o peso dos EUA na economia mundial.

Bretton Woods, portanto, foi apenas o ponto final de quase três anos de intensas negociações secretas entre os Tesouros dos EUA, Reino Unido e França.

Segundo o historiador Geir Lundestad, a Inglaterra acabou aceitando um acordo em troca de um empréstimo da Casa Branca para resgatar sua economia. Conseguiram US$ 3,8 bilhões, uma fração do que foi necessário na atual crise para salvar os bancos. Já a França obteve US$ 1 bilhão.

Agora, é a vez de europeus e países emergentes convencerem Washington de que chegou a vez de abandonar o atual sistema e começar a pensar em novas regras. Vendo o encontro como um provável fim de sua era de única superpotência, Washington hesita em chamar a cúpula de Bretton Woods 2.

"O que está em jogo é a hegemonia americana e de que forma o sistema será recriado com mais poder para outros países", afirma Suzanne Rosselet, professora do IMD em Lausanne, reconhecido como um dos melhores institutos econômicos do mundo por rankings internacionais.

A agenda dos próximos dias é ambiciosa: reformar o FMI, o Banco Mundial e todas as regras que administram o mercado financeiro. Na manga, os europeus levam a proposta de criação de um mecanismo para monitorar as maiores empresas financeiras. O pacote ainda inclui uma reavaliação do sistema de câmbio, a reforma do FMI e mudanças nas agências de classificação de risco.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;