Como a grande maioria esperava, terminou na madrugada desta quinta-feira o 'calvário' do deputado José Dirceu (PT-SP). Por 293 votos a favor contra votos 192, o ex-ministro da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva teve cassado seus direitos políticos por quebra de decoro parlamentar. Além de perder o mandato, Dirceu também não poderá ter uma vida política 'ativa' – ele não poderá concorrer a cargos públicos – pelos próximos oito anos. O parlamentar era acusado de coordenar o chamado 'mensalão', suposto esquema 'encabeçado' pelo PT que consistiria no pagamento de até R$ 30 mil a deputados da base aliada em troca de apoio às matérias de interesse do governo federal.

O resultado das urnas surpreendeu. Oposicionistas e especialistas apostavam que a derrota de Dirceu seria acachapante, com mais de 400 votos favoráveis à expulsão do petista da vida pública brasileira. A cassação de Roberto Jefferson (PTB-RJ), responsável pela eclosão de toda onda de denúncias que atingiu o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, foi tomada como base. Na época, o ex-deputado 313 votos favoráveis à sua cassação, contra apenas 156.

Para colocar um ponto final na novela que se arrastava a meses, o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), convocou uma sessão extraordinária para esta quarta-feira, que começou pontualmente às 19h05. Imediatamente, o relator do processo de cassação, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), apresentou seu parecer recomendando a cassação do petista. Em seguida, Dirceu subiu à tribuna para se defender. Durante 50 minutos, ele voltou a defender sua inocência; afirmou que não existem provas contra ele; que não há indícios do 'mensalão'; e que sua cassação é resultado de um processo político.

Logo após depositar seu voto em uma das duas urnas instaladas na Câmara, Dirceu deixou o local sorridente e foi acompanhar a apuração de seu apartamento em Brasília, onde chegou por volta das 23h. Ele recebeu as visitas dos deputados que também sofrem processo de cassação João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP) e de Paulo Rocha, que renunciou ao mandato antes de perder os direitos políticos. Ele não falou com a imprensa e agendou, mesmo sem saber o resultado final, uma entrevista coletiva às 14h30 desta quinta-feira, no Plenário 8 da Câmara.

STF – Antes da votação no Plenário da Câmara, José Dirceu aguardava com esperança o resultado de uma representação junto ao STF (Supremo Tribunal Federal), que pedia a suspensão do processos. Os advogados alegavam que, no Conselho de Ética, as testemunhas de defesa prestaram depoimento antes das de acusação. No entanto, para desespero do deputado, o Supremo acatou parcialmente a representação e ordenou que o relator Júlio Delgado retirasse do parecer somente o depoimento da presidente do Banco Rural, Katia Rabello – única testemunha de acusação que realmente falou depois das de defesa. Com isso, ficou mantida a apreciação da cassação para esta quarta-feira, como agendado por Aldo Rebelo.