Allen, eterno cronista de Nova York, a única cidade do mundo na qual afirma que pode viver, ambientou sua comédia na década de trinta, e pediu a colaboraçao do fotógrafo chinês Zhao Fei, conhecido por seu trabalho em ``Lanternas Vermelhas' de Zhang Yimou, e que fotografou pela primeira vez fora de Pequim.

Esta 29ª película de Allen narra a vida de um frustrado e excêntrico guitarrista de jazz, interpretado por Sean Penn, que, apesar de seu grande talento, se compara sempre com o grande Django Reinhardt, guitarrista de origem cigana, nascido na Bélgica, cuja vida inspira o filme.

O cineasta utilizou a técnica do documentário, entrevistando especialistas e inclusive a si mesmo sobre a vida do guitarrista, que produziu o único jazz original sem origem afro-americana.

Fiel a sua tradiçao de nao escolher como heróis de seus filmes personagens que estao bem na vida, Allen escolheu um personagem obcecado, destrutivo, um perdedor, que nao se resigna a ser sempre comparado com Reinhardt, que foi o primeiro músico europeu que influenciou o jazz americano.

Sean Penn, 39 anos, preparou-se durante meses e aprendeu inclusive a tocar guitarra para seu papel no filme, no qual a atriz Samantha Morton interpreta sua noiva, muda. Por sua vez, Allen, apaixonado por jazz e amador clarinetista, prepara-se para seu próximo filme, que será uma comédia sobre o mundo dos ladroes. Além disso, este ano participou como ator no filme ``Picking up the pieces', do mexicano Alfonso Arau (``Como água para chocolate').

Com 30 anos de trajetória cinematográfica e 29 filmes, Allen, que nasceu em 1935 no Brooklyn, distrito de Nova York, continua se considerando um cineasta ``medíocre'. ``Há tantos diretores, passados e presentes, com os quais nao estou na mesma categoria', disse Allen, numa entrevista publicada pelo jornal USA Today. ``Nao posso competir com Akira Kurosawa. Nao posso concorrer com Martin Scorsese, ou com Francis Coppola, ou com Ingmar Bergman', afirmou Allen, citando também o filme ``As regras do jogo', do francês Jean Renoir, entre os maiores, com os quais os seus nao podem competir.

``Sou um cineasta decente, sólido. Fiz filmes durante 30 anos. Alguns foram bons, divertiram as pessoas. Alguns nao foram tao bons. Sou um ser humano melhor do que um artista', concluiu Allen, cujos trabalhos costumam obter mais bilheteria e mais reconhecimento na Europa do que em seu país.