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Após um ano, Suzantur ignora dívida trabalhista da Guarará

Funcionários relatam cenário de incertezas referente ao pagamento de rescisões da antiga empresa

Daniel Macário
do Diário do Grande ABC
08/10/2017 | 07:11
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Celso Luiz


Um ano depois de serem absorvidos pela Suzantur, que passou a operar as 15 linhas de ônibus do Terminal Vila Luzita, em Santo André, em 8 de outubro de 2016, cerca de 500 ex-funcionários da Expresso Guarará estão sem receber as verbas rescisórias. Segundo trabalhadores ouvidos pelo Diário, a dívida seria assumida pela empresa sucessora.

“Até onde sei, a Suzantur tinha ficado de pagar esses valores, mas ninguém quer cobrar, pois tem medo de ser demitido”, relata funcionário que, na condição de anonimato, diz ter atuado na Guarará por sete anos e calcula ter de receber R$ 28 mil em direitos trabalhistas. Uma colega confirma a situação e explica o porquê do pedido de sigilo: “Ficamos com medo de falar algo e acontecer represália.”

Sobram acusações ao Sintetra (Sindicato dos Rodoviários do Grande ABC), que estaria retardando a solução para o caso. “É tudo muito estranho. Ninguém fala nada sobre isso (o pagamento das rescisões). O sindicato nem toca no assunto. O pessoal da empresa também não fala nada”, atesta funcionária que diz ter atuado na Guarará por seis anos e agora está na Suzantur.

O Sintetra rebate as denúncias, dizendo que o pagamento das rescisões trabalhistas deve ser feito pela Guarará, que em 20 de setembro de 2016 comunicou à SATrans (Santo André Transportes), que administra e gerencia o sistema de ônibus municipais, a intenção de ajuizar ação requerendo autofalência por se encontrar em “notado estado de insolvência”.

“A Suzantur só pagou (no fim do ano passado) a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e o vale do mês em que ela assumiu as linhas da Vila Luzita. Foi o único acordo no Ministério do Trabalho”, relata o secretário-geral do Sintetra, Leandro Mendes da Silva.

Segundo o representante do sindicato, ação coletiva encabeçada pelo próprio Sintetra corre na Justiça a fim de cobrar os valores da rescisões trabalhistas da Guarará. No entanto, Silva não soube precisar a quantidade de funcionários que integram o processo nem o valor do montante devido.

Colaboradores relatam cenário de incerteza quanto aos desdobramentos das negociações para quitação dos direitos trabalhistas. “Se tivéssemos esse dinheiro ficaria mais aliviado”, assegura trabalhador da Guarará que foi absorvido pela sucessora. Além da falência da antiga empregadora, ele corre o risco de ser demitido da Suzantur, que opera a título precário até que a Prefeitura de Santo André realize processo de concessão das linhas da Vila Luzita – o que deve ocorrer até o fim do ano.

Ata de reunião realizada em 6 de outubro de 2016, com a presença do dono da Suzantur, Claudinei Brogliato, e assinada pelo gerente regional do Trabalho e Emprego em Santo André, Helcio Cecchetto Filho, diz que a companhia garantiria “emprego e ou salário” enquanto durasse o contrato emergencial – que se esgotou em abril.

Na quinta-feira, a Prefeitura de São Carlos, no Interior, anunciou que vai retirar a Suzantur da cidade, onde a empresa opera nos moldes de Santo André. Procurada pela equipe do Diário, a viação não respondeu aos contatos.

Empresário é próximo a banqueiro que está no radar da PF

Faz quase dois anos que o empresário Claudinei Brogliato, sócio-administrador da Suzantur, entrou no sistema de transporte municipal por ônibus em Santo André, iniciando série de polêmicas. Ele apareceu no noticiário em novembro de 2015, apresentado como procurador da Expresso Guarará e executivo que tentaria salvar a empresa, fundada em 1999, da falência.

Alguns meses depois, sem ter conseguido solucionar as pendências financeiras e jurídicas, o empresário deixou o posto na Guarará. A saída de Brogliato coincidiu com a apreensão de 19 coletivos da empresa a pedido da Caruana Financeira, sob alegação de que parcelas do financiamento deixaram de ser pagas.

O movimento levantou suspeita de conluio entre Suzantur e banco. Executivos da Guarará chegaram a impetrar ação na Justiça denunciando o esquema. Segundo a acusação, a financeira, presidida por José Garcia Netto, o Netinho, intencionaria asfixiar a empresa de ônibus para lhe tomar o lugar.

Documento obtido à época pelo Diário mostrava que Netinho tinha ligação direta com a Suzantur, sendo seu “sócio oculto e controlador de fato”. Banqueiro e Brogliato, que assumiu emergencialmente as linhas da Vila Luzita depois que a Guarará abandonou a prestação dos serviços, dizendo-se insolvente, negam a associação.

As ligações de Netinho com empresários do sistema de transporte público voltaram às manchetes neste ano. O dono da Caruana deixou suas digitais em esquema de pagamento de propinas a governantes investigados pela Polícia Federal na Operação Ponto Final, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro.

Empresário do setor de transportes na capital fluminense, Jacob Barata Filho teria sido informado ilegalmente pela Caruana S/A, financiadora de ônibus pelo País, de que a PF havia pedido quebra de seu sigilo bancário. Ao receber o documento sigiloso originalmente encaminhado ao banco de Netinho, o que indicaria a possibilidade de ele vir a ser detido pelos policiais federais, o megaempresário, apelidado de Rei do Ônibus, tentou fugir do País, mas foi preso quando embarcava para Portugal no começo de julho, no aeroporto do Galeão.

Usuários reclamam de falhas do sistema

A chegada da Suzantur em Santo André para operar 15 linhas de ônibus municipais na região da Vila Luzita, em outubro do ano passado, tinha tudo para ser positiva aos passageiros do sistema. Mas não foi. Passados 12 meses da saída da Expresso Guarará – após pedido de falência –, usuários são enfáticos ao avaliar a qualidade do serviço prestado pela viação: muita promessa e poucos avanços.

“Não mudou nada. O tempo de espera continua o mesmo, os ônibus não são bons e o wi-fi que eles colocaram nem funciona”, relata a estudante Juliana Pereira Aguiar, 24 anos.

Segundo a Prefeitura de Santo André, de janeiro a junho a Suzantur foi alvo de 19 queixas feitas por usuários. Entre elas, problemas com motoristas – incluindo deixar passageiro no ponto –, e excessivo tempo de espera pelos coletivos.

“Pensei que a frota de ônibus aumentaria, mas ainda continuo esperando até uma hora durante a semana para pegar coletivo”, afirma o ajudante de pedreiro Wladimir Nunes, 47, que diariamente usa a linha AL-127, responsável por ligar o Terminal da Vila Luzita até a Cidade São Jorge. O itinerário conta apenas com um único ônibus. “É um descaso com os usuários”, completa.

A superlotação de linhas que realizam o trajeto até o Centro, como é o caso da TR-101, é outra reclamação. “Precisava colocar mais ônibus articulados”, relata a supervisora de atendimento Luciana Silva, 23.

Procurada pelo Diário, a Suzantur não retornou aos contatos.  




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