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Da periferia para a elite gastronômica

Morador do Jd.Cristiane, em Sto. André, ganhou fama após participar de reality show culinário

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
06/12/2014 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Nos últimos três meses, o Brasil “comeu com os olhos” ao ver na televisão as delícias preparadas por Estefano Fernando Zaquini, 20 anos, morador do Jardim Cristiane, bairro periférico de Santo André.

De setembro a novembro, ele mostrou ao País seus dotes culinários no reality show gastronômico MasterChef, em exibição na Band. O jovem não venceu a competição que lhe renderia o prêmio de R$ 150 mil, um Fiat Fiorino refrigerado e uma bolsa de estudos na Le Cordon Bleu, em Paris, mas o talento para a cozinha foi reconhecido e resultou na contratação para integrar a equipe do restaurante Tartar&Co, em Pinheiros, na Zona Oeste da Capital, e do qual um dos três jurados do programa, Erick Jacquin, é sócio.

Perto da avó materna, Marina Zaquini, 69, quando ela preparava suas receitas, a paixão pela arte de cozinhar foi despertada no rapaz ainda na infância. Enquanto seus amigos brincavam após um dia de aula, o rapaz, aos 10 anos, passava o tempo fazendo quitutes e, com eles, garantia renda. “Fazia salgados e vendia de porta em porta no bairro. Sempre quis ter a minha independência e encontrei isso na cozinha.”

Aos 13 anos, Zaquini interrompeu as atividades para ser ajudante em uma serralheria que o tio acabara de montar. Por lá ficou até julho, quando foi selecionado entre mais de 5.000 inscritos para ser um dos 16 participantes do <CF51>MasterChef</CF>. “Meu tio falou para eu me inscrever. Tinha que enviar um vídeo fazendo alguma receita. Enviamos em cima da hora (o prazo terminava em dois dias) e já recebemos retorno na segunda-feira”, conta ele, que mostrou na gravação, em sete minutos, o passo a passo de um crepe de brigadeiro com morango.

Doce, aliás, é a sua especialidade. Em uma das provas do programa, teve que fazer um petit gâteau (pequeno bolo, em francês), receita trazida ao Brasil por Jacquin, que elegeu a sobremesa de Zaquini como a melhor entre os concorrentes. “ Fiquei nervoso, mas imaginava que conseguiria porque não tem segredo, é mais tempo de forno, de cinco a sete minutos. Sabendo administrar, dá certo”, explica ele, que também foi considerado o melhor pelo renomado chef Alex Atala em outra avaliação.

O que pegou Zaquini foi um caranguejo, no 11º episódio do reality, quando um prato deveria ser desenvolvido com o crustáceo. “Eu não sabia de onde tirava carne daquele bicho, fiquei desesperado e não conseguia mais me ver no futuro do programa.”

O choro na eliminação comoveu o Brasil, porém, a saída da competição não seria o fim, mas sim o início de uma oportunidade ao ser surpreendido por Jacquin para integrar o quadro de profissionais de seu restaurante. “Quando ele saiu (do programa), fiquei triste, mas também contente por ter saído com um emprego, foi uma homenagem muito bonita”, fala, orgulhosa, a avó, com quem Zaquini mora, juntamente com a mãe.

O jovem enfrenta duas horas e meia de percurso para chegar ao trabalho, onde ajuda na preparação dos pratos frios. “O trajeto é um pouco cansativo, mas como sem luta não há vitória, vamos lutar para vencer”, ressalta ele, que sonha em cursar uma faculdade de gastronomia e abrir uma confeitaria no bairro. “Tenho tudo para dar certo. O céu é o limite agora.”

Biquíni sob medida e o ano inteiro

Seja primavera, verão, outono ou inverno, no Jardim Cristiane as mulheres encontram moda praia o ano inteiro. E se nenhuma peça vestir como o desejado, nada de frustração: a cliente poderá ter um biquíni ou maiô feito sob medida. Essas são as propostas da loja de Maria do Carmo, 58 anos, localizada na Avenida Rangel Pestana.

A ideia de trabalhar com esse tipo de roupa em todas as estações se deu a partir da necessidade de clientela que viajava para localidades quentes querendo escapar do frio. “A vida toda trabalhei com moda íntima e fazia pouca coisa voltada à praia. Mas, o ano inteiro, pessoas viajam para o Nordeste ou outros países e, quando fora de época, é difícil achar biquíni”, ressalta. “Pensei nisso para atender esse público. Fazia em casa mesmo e há três anos montei a loja. Agora, atendo os clientes e uma confecção em São Bernardo faz as peças para mim”, conta ela, que atua no ramo de moda praia há 25 anos.

No estabelecimento há diversos modelos. “Primeiro, a pessoa procura aqui algo que lhe agrade. Se não encontra, mandamos fazer para atender especialmente aquela pessoa”, fala. “Trabalhamos mais com peças para pessoas que estão acima do peso. Para as mulheres mais cheinhas, sugerimos biquínis com calcinha que tenha corte mais alto e lateral franzida, e um sutiã com bojo”, explica.

Na loja, é possível encontrar também saídas de praia moda fitness, pijamas, lingerie, blusas e vestidos. “Tem que ter um pouquinho de cada coisa, caso alguém precise de algo mais.”

Dona Maria gosta do clima praiano e confessa que, se pudesse, moraria no Litoral. Embora lide com biquínis e maiôs 365 dias por ano, enquadra-se bem no velho ditado que diz “em casa de ferreiro, o espeto é de pau.”

“Tenho poucos biquínis, uns cinco, que gosto e não me desfaço deles.”

Loja de móveis é uma viagem ao passado

De volta aos primórdios. É assim que se sente quem entra na loja de móveis e antiguidades localizada na Avenida Rangel Pestana. O local possui acervo com cerca de 300 peças à venda, que vão de mobiliário antigo a aparelhos de televisões, máquinas de escrever, relógios-cuco e outros itens de anos e anos atrás.

“Os móveis antigos têm maior durabilidade. Os atuais, feitos de MDF (placa de fibra de média densidade) e aglomerado (formado por uma mistura de resíduos de madeira, como pó e serragem, cola e resina) são bonitos, mas seis meses depois tem que comprar outro. Esses (os clássicos), além de ser produtos únicos, são de qualidade e duram bem mais tempo”, salienta o vendedor Eliel de Lima Mateus, 35 anos.

E põe tempo nisso. Entre os itens há uma mesa de 2,5 metros talhada à mão, feita com as costas da árvore, e seis cadeiras fabricadas em Portugal que têm mais de 100 anos. As peças, destacadas no cartaz como sendo únicas no Brasil, custam R$ 5.690.

Outro destaque é o conjunto de quarto estilo medieval. Cama, guarda-roupa, quatro portas, baú, chapeleira, criado-mudo e prateleira custavam R$ 13.990 e, agora, com preço promocional, saem por R$ 9.690.

Chamam a atenção também o sofá verde-musgo da década de 1920 em capitonê (o acolchoado do estofamento é dividido por pontos feitos com cordões ou fios grossos que formam saliências quadradas ou retangulares), com pés de pata de leão e uma guarda-mantimentos com mais de 80 anos. Esta última, inclusive, ganhou ainda mais glamour ao ser personalizada. “Restauramos com tinta PU (à base de poliuretano) vermelho Ferrari”, explica Mateus.

As relíquias chegam à loja por oferta de proprietários dos itens ou garimpagem. Tudo o que há no comércio está disponível para visualização em um site de compra e venda, o que atrai clientes de todo o Brasil.

Ao entrar ali, a viagem ao passado que os produtos proporcionam traz nostálgica sensação. “Me sinto como se estivesse na casa da avó”, define o vendedor. 




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