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Congresso vai discutir jornalismo investigativo
Juliana de Sordi Gattone
Do Diário do Grande ABC
16/10/2005 | 07:57
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Criada após a morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) promoverá dos dias 27 a 29 de outubro, no Rio de Janeiro, o primeiro congresso sobre o tema voltado aos profissionais da área. Com a participação de especialistas brasileiros e estrangeiros, a intenção é que o evento transforme-se em referência de reciclagem para jornalistas e que seja realizado anualmente em locais diferentes. “Aqui no Brasil houve descuido muito grande e nós temos a obrigação de mostrar para a sociedade o que é jornalismo de qualidade”, avaliou Fernando Rodrigues, diretor-executivo da entidade e repórter especial da Folha de S.Paulo.

O jornalista destacou a necessidade de os profissionais brasileiros terem esse espaço para debates, principalmente porque vários países já possuem essa infraestrutura. “O Sindicato dos Jornalistas tem trabalho específico, a ABI (Associação Brasileira de Impresa), que foi muito importante, já está em outra fase. Nunca nos reunimos para trocar experiência”, lamentou Rodrigues.

A Abraji segue modelos de associações jornalísticas de outros países como o IRE (Investigative Reporters and Editors) dos Estados Unidos. “O jornalismo investigativo deve ser realizado por meio de reportagens bem apuradas e bem feitas”, explicou. A associação já promove cursos e oficinas sobre as boas práticas jornalísticas.

Responsável por duas palestras, Rodrigues levará aos jornalistas a questão do direito de acesso à informação pública e também as tendências da área na Europa. O primeiro tema é definido por Rodrigues como o mais importante para os jornalistas brasileiros, porque divulga a campanha a favor da lei de direito de acesso no Brasil. “Quando qualquer cidadão deseja obter informação pública não tem meios facilitados para isso. É ruim para a democracia, porque todas as pessoas têm direito a se informar.”

Na América Latina, alguns países já aprovaram a lei, entre eles México e Peru. No mundo, já são mais de 50. “As campanhas para que os congressistas apóiem a iniciativa começaram sempre no meio jornalístico, porque temos urgência para conseguir essas informações”, destacou.

Rodrigues acrescentou que, embora a campanha seja iniciada pelos jornalistas, toda a sociedade aprende a consultar os documentos públicos. Como exemplo, citou a lei norte-americana, aprovada em 1966, que demorou 12 anos para ser levada à votação. “Quase 95% das consultas são de outros setores da sociedade e apenas 5% são feitas pelos veículos de comunicação.”

No Brasil, há um ano foi lançado o Fórum Nacional de Direito a Informações Públicas, que reúne 19 entidades da sociedade civil interessadas na aprovação da lei. Entre elas, estão envolvidas na campanha a Transparência Brasil e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). “Atualmente, estamos debatendo com essas entidades um anteprojeto de lei para encaminharmos aos congressistas interessados.”

Quanto às experiências no Velho Continente, Rodrigues falará principalmente dos hábitos com o jornalismo. “Diferentemente do Brasil, nos países nórdicos da Europa existe a tendência de agentes governamentais financiarem institutições dispostas a fazer grandes reportagens investigativas”, revelou.

Programação – O evento, realizado na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), será aberto a profissionais e estudantes de jornalismo, que se tornarão membros da Abraji após o congresso. As inscrições podem ser feitas através do site da entidade (www.abraji.org.br) em valores que variam de R$ 75 a R$ 200.

Além de profissionais brasileiros, alguns dos mais de 20 temas serão explorados por jornalistas estrangeiros. Caso de Brant Houston, da IER, um dos maiores especialistas mundiais em RAC (Reportagem com Auxílio do Computador).

Para falar sobre o futuro do jornalismo investigativo, foi convidado Charles Lewis (International Consortium for Investigative Journalism).

A última palestra traz como tema “Jornalismo Investigativo na Ditadura Militar”, que será esmiuçado por José Carlos de Assis, Fritz Utzeri, Lúcia Romeu, Antero Luiz Martins da Cunha, Fernando Molica, autores e co-autores de reportagens que constam do livro Dez Reportagens que Abalaram a Ditadura Militar.




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