Cotidiano Titulo
Crônica de utilidade pública
Por Rodolfo de Souza
03/10/2021 | 00:01
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Em época de peste, em que muitos anseiam pela sua dose de vacina, de forma surpreendente, se depara o mundo com a presença inoportuna daqueles que negam a sua necessidade, como se fossem seres superdotados, como se seu sistema imunológico estivesse pronto para combater qualquer invasor em qualquer tempo. Se assim fosse, o tormento dos países seria bem menor: bastaria um pouco de sangue desses super-homens e supermulheres para se criar um antídoto que salvasse os demais. Perfeito, embora a realidade aponte noutra direção: a morte dessa supergente, às pencas.

Seguem também na contramão da Ciência as pessoas que se entregam ao uso indiscriminado de remédios, cuja eficácia no combate à doença fora contestada pela comunidade científica do mundo um sem número de vezes. Isso porque esse povo segue uma ideologia que sempre se posiciona contrária ao bom senso, perfil que atrai sobremaneira uma parcela da população que a admira exclusivamente por ser ela avessa ao conhecimento e à cultura de um modo geral. Logo, o que se apura sobre os seus seguidores é a afinidade nenhuma com as artes, os livros e o pensamento refinado.

Vi há pouco, que lá no império do norte há pessoas se intoxicando com remédio contra verme que, segundo se sabe, saboreado em altas doses, danifica o fígado do sujeito, levando-o a engrossar as estatísticas de morte pela praga. Por certo não teria morrido dela, mas para tentar evitá-la, o que acaba dando no mesmo. É o fenômeno da desinformação que torna distorcida a mente dessa gente, negando-lhe o discernimento necessário para considerar a opinião da ciência, ao invés de dar crédito à propaganda veiculada nas telas que exibem farta programação transmitida direto da terra plana. Destaque também para o fato de que lá na casa de Tio Sam toma-se imunizante da marca de sua preferência, em qualquer farmácia, de qualquer esquina. Motivo, pois, não há para o auto-envenenamento; somente a estupidez crônica que, como se nota, não é prerrogativa daqui deste vastíssimo território Tupinambá.

E a memória desse povo moreno e alegre jamais esquecerá, assim espero, que o que coloca este país bem atrás na imunização e bem à frente no número de mortos é a gestão tacanha desta terra empobrecida, que retardou demais a aquisição da vacina. Agora, é preciso esperar a idade certa, o tempo certo, que haja imunizante para todos, aguentar os maus modos de quem está no poder e por aí vai.
É certo que aqui também há muita gente acreditando ainda num tal tratamento precoce, amplamente difundido pelos ratos de plantão que visam tão somente faturar alto com a venda das drogas que não servem para nada, senão para sabotar a saúde do incauto que as vê como a salvação da lavoura.

Intrigante como esse assunto das drogas ineficazes para o tratamento da doença, objeto desta e de tantas outras reflexões, ainda se mantém em pauta aqui debaixo desta imensa lona, assim como lá no grande império. Já vai longe o tempo em que se constatou a inutilidade dos tais remédios no combate à peste. Portanto, o ensejo para a conversa fiada, sem sombra de dúvida, é o anúncio dos novos tempos, que privilegiam a insanidade, em detrimento da sabedoria, substância fundamental para a saúde do corpo e da mente. 




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